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Macacos idosos precisam usar óculos para catar piolhos?

Bonobos são tão próximos de nós quanto os chimpanzés - Caroline Deimel, LuiKotale Bonobo Project
Bonobos são tão próximos de nós quanto os chimpanzés Imagem: Caroline Deimel, LuiKotale Bonobo Project

James Gorman

13/11/2016 00h01

O estudo científico do comportamento animal fez que, entre outras coisas, os seres humanos tivessem de aceitar que não são os únicos animais que usam instrumentos, demonstram emoções e se reconhecem em um espelho.

Ainda assim, é um pouco estranho ver macacos bonobos idosos parecendo precisar de óculos de leitura. Eles não estão tentando decifrar os ingredientes em letras miúdas de analgésicos vendidos sem receita médica (outro hábito dos humanos com mais de 40 anos). Eles tentam encontrar os piolhos minúsculos no pêlo dos outros, para que possam cumprir seu dever higiênico familiar e entre vizinhos, além de fazer um lanche.

Heungjin Ryu e colegas da Universidade de Kyoto, no Japão, e da Universidade de St. Andrews, na Escócia, registraram 14 bonobos limpando-se na Reserva Científica Luo na República Democrática do Congo, onde os símios fazem parte de um estudo há décadas.

Como relataram os cientistas em "Current Biology", os vídeos mostram que a distância para catar insetos varia com a idade, do mesmo modo que nos humanos. É claro que as pessoas geralmente estão costurando, lendo ou tentando prender moscas artificiais na ponta de uma linha de pesca. Para os macacos, a catação, uma antiga técnica que os pais de crianças em idade escolar conhecem muito bem, impõe a mesma exigência aos olhos.

Ryu, um estudante de doutorado, disse que o que parecia ser hipermetropia em bonobos idosos havia sido notado antes, mas não estudado rigorosamente. Ele e seus colegas decidiram examinar mais de perto.

Os cientistas sabiam a idade dos bonobos que estavam registrando, por isso só precisavam conseguir as medidas exatas da distância. Para tanto, primeiro fotografaram as orelhas de cada animal e depois fotografaram uma régua à mesma distância. Isso lhes permitiu saber o comprimento da orelha, que usaram para calcular a distância do olho à lêndea.

Enquanto L.B. (sua identificação no estudo de longo prazo), 24 anos, catava J.D. com os olhos a cerca de 10 cm de distância, T.N., de 45, precisava manter J.D. a cerca de 40 cm.

Os cientistas descobriram que a distância da catação não mudava conforme o gênero dos bonobos ou a proximidade de seu parentesco. Mas mudava com a idade, do mesmo modo que ocorre com a visão humana. Do final dos 30 anos ao início dos 40, a distância da catação aumentava. A hipermetropia relacionada à idade é considerada uma consequência de mudanças nas lentes e nos músculos dos olhos.

Os bonobos são tão próximos de nós quanto os chimpanzés, por isso a semelhança, embora seja notável, deveria ser esperada.

No entanto, a lacuna evolucionária que levou, de um lado, aos grandes macacos, incluindo bonobos e chimpanzés, e do outro aos seres humanos aconteceu milhões de anos atrás, por isso houve muito tempo para mudar.

Por exemplo, em uma estranha nota lateral no trabalho publicado, os autores indicaram que outros sinais de envelhecimento nos seres humanos não aparecem nos bonobos. As orelhas dos humanos ficam mais compridas com a idade, e as dos macacos não.