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Animais usam a imitação para fugir de predadores

A lagarta canadense swallowtail imita uma cobra - Thomas Hossie via The New York Times
A lagarta canadense swallowtail imita uma cobra Imagem: Thomas Hossie via The New York Times

Carl Zimmer

01/09/2015 10h28

A lagarta canadense swallowtail é uma criatura verde e gorducha que passa a maior parte do seu tempo mascando folhas. Deveria ser um alimento fácil para um pássaro, mas muitos passam sem atacá-la.

A lagarta está protegida por uma defesa extraordinária, segundo pesquisadores: ela faz com que os passarinhos pensem que é uma cobra.

Esses animais possuem anéis concêntricos amarelos e pretos que parecem grandes pares de olhos. Quando percebem um pássaro por perto rapidamente inflam a parte da frente do corpo, fazendo com que se pareça com a cabeça de uma cobra.

Apesar de a fraude ser espantosa, a lagarta swallowtail não está sozinha. Muitas espécies desenvolveram maneiras de enganar seus predadores. Alguns insetos se parecem com pequenos galhos, imitando até mesmo a maneira como eles se mexem com o vento.

Cobras que não fazem mal algum assustam seus predadores imitando a aparência das venenosas. Algumas espécies de moscas das flores têm as mesmas listas amarelas e pretas das vespas. Elas até fingem picar seus inimigos apesar de não ter ferrão.

Mas a imitação se revelou um quebra-cabeças: várias vezes os cientistas encontraram exemplos de excessos. Animais que aparentemente não têm benefícios extras por tornar seus disfarces mais elaborados.

A lagarta swallowtail é um exemplo excelente. Nos últimos anos, Thomas N. Sherratt, ecologista comportamental da Universidade Carleton, em Ontário, e o aluno de mestrado Thomas J. Hossie, estudaram a estratégia da lagarta criando um "biscoito de lagarta" com farinha, água, gordura e corante alimentar verde.

Eles parecem saborosos. Quando os cientistas colocaram os biscoitos de lagarta em três galhos, muitas delas desapareceram rapidamente. "Os pássaros estavam muito motivados para comê-las", conta Sherratt.

Hossie, que hoje é pesquisador de pós-doutorado na Universidade Trent, em Ontário, produziu uma travessa de biscoitos de lagartas com olhos e cabeça de cobra. Um número grande desses modelos mais elaborados ficou nos galhos, possivelmente porque assustaram os pássaros.

A surpresa, no entanto, é que os biscoitos de lagarta não precisam de um disfarce complicado para manter os pássaros afastados. Os cientistas também criaram lagartas falsas com olhos, mas sem a cabeça de cobra. Os pássaros evitaram essas imitações simples na mesma proporção que as mais elaboradas.

Se as lagartas reais não ganham proteção extra pela mentira a mais, os cientistas pensaram, como esse disfarce evoluiu?

Os pesquisadores suspeitaram que perderam alguma parte das experiências. Eles não viram, por exemplo, o momento em que os pássaros evitavam ou comiam os biscoitos de lagarta. Eles simplesmente contaram as que continuaram nos ramos.

Para olhar os pássaros mais de perto, os cientistas canadenses se uniram a John Skelhorn, que estuda imitação em seu laboratório em Newcastle, na Inglaterra.

Os cientistas produziram mais fornadas de biscoitos de lagarta, mas desta vez não colocaram em ramos de árvores. Ao invés disso, as apresentaram a pintinhos de um dia.

Eles pegaram animais muito jovens para julgar se os pássaros já nascem com medo de cobras e objetos que se parecem com elas. "Esses pintinhos nunca se depararam com nada parecido com uma cobra antes", explica Sherratt.

Quando os pintinhos viram os cilindros verdes, eles os bicaram alegremente. Mas quando os cientistas colocaram olhos, os pintinhos ficaram mais cautelosos. E, da mesma maneira que aconteceu com a pesquisa anterior, os cientistas descobriram que colocar apenas uma cabeça parecida com a de uma cobra, não deixou os franguinhos com mais medo.

Mas a experiência não terminou aqui. Nos dois dias seguintes, os cientistas apresentaram os biscoitos de lagarta para os pintinhos cinco vezes. No final, os franguinhos aprenderam que cilindros com olhos eram lanchinhos saborosos.

Mas isso não acontecia quando os pintinhos viam lagartas com olhos e cabeça de cobra. Mesmo no final do estudo, os franguinhos ainda estavam mais cautelosos com as imitações mais realistas.

Os pesquisadores publicaram seus resultados no dia 14 de agosto no jornal Behavioral Ecology.

Skelhorn e seus colegas suspeitam que os pássaros desenvolveram um medo saudável de cobras, que existe desde o momento em que saem dos ovos. Eles não precisam ver uma cobra em detalhes antes de fugir. Apenas algumas características distintas -- como olhos de cobra -- podem ser o suficiente. As lagartas usam essa resposta rápida para manter os pássaros longe.

Mas os pássaros, como os outros animais, são capazes de aprender a diferenciar os objetos. Essa habilidade pode ter levado as lagartas a desenvolverem disfarces mais elaborados, que fazem com que seja mais difícil para os pássaros distingui-las de cobras.

"Os pássaros precisam de mais informações para se convencerem de que elas não são cobras", diz Skelhorn. Assim, as lagartas "podem enganar os predadores por mais tempo e sobreviver".

Olof Leimnar, biólogo evolucionário da Universidade de Estocolmo que não se envolveu no estudo, diz que isso demonstra como animais enganadores podem explorar o funcionamento do cérebro de seus predadores. "Sem entender de psicologia, você não pode compreender o fenômeno", afirma ele.

Sherrat espera que sua experiência inspire os pesquisadores a fazer estudos parecidos com imitações. Ele suspeita que outros enganadores que se superdesenvolveram podem na verdade estar explorando a maneira como seus inimigos aprendem.

"Claro que é preciso fazer a experiência mais algumas vezes para ver se é real", afirma ele.