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Coronavírus: 'aplicativo dos contaminados' e outras tecnologias ajudaram a China

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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

16/04/2020 08h32

Primeiro país a manter a população sob prolongada quarentena, a China começa a reabrir as cidades e, na medida do possível, retomar a vida normal. No resto do mundo, países ainda se vêem obrigados a prorrogar o confinamento, enquanto discutem qual será o melhor momento para suspender as restrições em vigor. Se a pandemia começou na China, seu epicentro já saiu de lá há algum tempo. E a tecnologia ajudou os chineses a conter o avanço da doença.

Neste momento, as autoridades têm tomado muitas precauções para não colocar todo o esforço de mais de dois meses em risco. A abertura está sendo feita aos poucos. Os transportes públicos voltam a circular.

Estava tudo suspenso. Mas os chamados checkpoints continuam funcionando. Ainda se mede a temperatura das pessoas, que só podem ser admitidas na maioria dos lugares depois de mostrar aos agentes um QR Code nos seus aparelhos celulares com os dados necessários para que se possa avaliar se é, ou não, alguém que tido resultado positivo para a Covid-19, ou que seja um suspeito de ter a doença.

Como funciona a tecnologia

Foram desenvolvidos alguns aplicativos para ajudar não só as autoridades a monitorar a situação, quanto os próprios cidadãos. Este do QR Code é um exemplo interessante. Funciona com informações fornecidas pelos usuários do telefone, e pelas companhias telefônicas, que, a partir do GPS, mostram ali os lugares por onde pessoa passou nos 14 dias anteriores.

O aplicativo também mostrar os resultados de checagens anteriores desta mesma pessoa. Assim, é possível saber, por exemplo, se o cidadão esteve em uma área muito afetada pela doença.

Funciona da seguinte maneira: ao entrar num supermercado, a pessoa mostra o código, que é conferido logo na entrada, assim como sua temperatura. Se tudo estiver dentro do esperado, e ela não tiver passado por lugares perigosos, onde tenham sido registrados infectados, aparece um sinal verde. Se houver qualquer suspeita, a tela mostra o sinal amarelo, e a pessoa será testada. Na pior das hipóteses, há ainda o sinal vermelho.

Preocupação com privacidade

O sistema parece eficiente. E dá tranquilidade a quem circula pelas cidades. Mas se presta à sua missão essencial de conter o avanço do novo coronavírus agora, como será depois?

As autoridades chinesas terão acesso a tudo da vida das pessoas, desde prontuário médico aos lugares por onde passou? Existe uma crescente preocupação com privacidade.

E essa é uma das questões no Reino Unido, onde universidades, em parceria com o sistema público de saúde, desenvolvem algo parecido. Aqui, a discussão sobre o direito à privacidade está em todos os jornais do país.

Agora, o fato é que, durante a pandemia, este sistema ajudou os chineses a ter algo que é fundamental: rastreabilidade. Claro, associada a um elevado número de testagens da população. Assim, você sabe quem oferece ou não riscos à comunidade.

Novos aplicativos

Outros aplicativos surgiram com o novo coronavírus. Um deles mostra se há pessoas contaminadas perto de você. Sabe aquele hábito das pessoas de olhar a meteorologia antes de sair de casa? No tempo em que morei na China, eu olhava o aplicativo da poluição para ver se precisava usar máscara.

A poluição, agora, caiu muito durante a pandemia. O que se confere mesmo, nesse momento, é o "aplicativo de contaminados". Tem também um outro que mostrava quais voos, trens e ônibus que transportaram pessoas cujos testes deram positivos. Os chineses informavam, por exemplo, o número do trem, o assento. Mais tarde, podiam ser informados de que alguém se sentou perto foi confirmado como infectado, e avisa ao usuário que é preciso fazer um teste.

A tecnologia e a inovação foram chave para lidar com essa crise. E certamente continuarão sendo ferramentas importantes. Mas é preciso saber até que ponto essas ferramentas serão usadas só para isso no futuro.

Críticas à China

O epicentro do novo coronavírus agora são os Estados Unidos. E, na Europa, ainda é a Espanha. No mundo todo já são mais de 2 milhões de infectados e 127 mil mortos. Somente nos Estados Unidos, são mais 620 mil casos e mais de 26 mil óbitos.

Na China, foram pouco mais de 82 mil casos e 3,3 mil mortos. É sétimo país no ranking. Perde para Espanha, Itália, França, Alemanha e Reino Unido, tanto em número de casos quanto de mortes.

Há quem diga que as estatísticas não são bem essas, porque haveria uma contagem separada para os assintomáticos, ou por outras razões. Há muitas críticas sobre a reação chinesa ao início da epidemia, que começou na cidade de Wuhan, no sul do país. A China teria demorado a avisar ao resto do mundo.

Ainda assim, há que se tirar o chapéu. O isolamento, o alto índice de testagem, a construção rápida de hospitais e a rastreabilidade por conta da tecnologia permitiram ao país se sentir seguro agora para começar a relaxar as restrições e tocar a economia.

Na Europa, os países ainda estão prorrogando o período de quarentena e só começam agora a discutir a possibilidade de suspender o confinamento. Mas ainda não há um horizonte para que isso aconteça. A União Europeia (UE) pediu aos países que tentem combinar uma estratégia coordenada para que isso seja feito sem oferecer riscos.

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