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Neandertais e denisovanos faziam sexo quando se encontravam, mostra estudo

Fragmentos de ossos de hominídeos de Denisova - Nature
Fragmentos de ossos de hominídeos de Denisova Imagem: Nature

Do UOL, em São Paulo

22/08/2018 14h20

Um fóssil encontrado na Sibéria indica que os neandertais e os hominídeos de Denisova faziam sexo com alguma frequência, gerando indivíduos com genes das duas espécies. Mapeamento genético de fragmento ósseo de uma jovem denisovana que viveu há 50 mil anos mostra que tanto ela quanto seu pai possuíam traços genéticos de neandertais, comprovando o cruzamento entre espécies durante gerações seguidas.

Neandertais e denisovanos são grupos de hominídeos extintos que se tornaram diferentes espécies com um mesmo ancestral há 390 mil anos. Apesar de os denisovanos terem sido encontrados até hoje apenas em uma caverna siberiana, os cientistas acreditam que eles coabitaram a região da Eurásia com os neandertais até darem lugar aos seres humanos modernos, há cerca de 40 mil anos.

Espécies de hominídeos de Denisova com traços genéticos de neandertais também já haviam sido identificadas. Contudo, não se sabia a extensão do cruzamento entre neandertais e denisovanos. A pesquisa publicada na revista "Nature" nesta quarta-feira (22) mostra que as relações sexuais eram mais frequentes do que se imaginava.

"A descoberta de uma primeira geração de descendentes de neandertal-denisovano entre o pequeno número de espécies arcaicos sequenciados até hoje sugere que o acasalamento entre os grupos de hominídeos do Pleistoceno Superior [entre 126 mil e 11 mil anos atrás] era comum quando eles se encontravam", dizem os autores.

A equipe liderada por Viviane Slon, do departamento de genética evolutiva do Instituto Max Planck, na Alemanha, realizou o sequenciamento genético de um antigo fragmento ósseo de um hominídeo da caverna de Denisova, localizado nas montanhas Altai, na região da Sibéria, Rússia. O fóssil foi apelidado de Denisova 11.

"O fragmento ósseo vem de um indivíduo que teve uma mãe neandertal e um pai denisovano", afirmam os autores. As análises do genoma do fóssil indicaram que a amostra pertencia a uma jovem do sexo feminino que tinha pelo menos 13 anos de idade quando morreu, há mais de 50 mil anos.

As análises genéticas indicaram ainda que o pai denisovano também possuía traços genéticos dos neandertais, um sinal de que tinha um ancestral dessa espécie. Isso sugere que o cruzamento entre as duas espécies já havia ocorrido antes da concepção de Denisova 11.

Apesar da identificação de genes de Neandertais no código genético de Denisova 11 e de seu pai, fornecendo evidências diretas do cruzamento entre as espécies, os autores afirmam que os dois grupos permaneceram geneticamente distintos um do outro. Pesquisas anteriores mostraram que os denisovanos também tiveram relações sexuais com os seres humanos modernos.

Quem eram os denisovanos?

Em 2008, uma equipe de antropólogos descobriu um dente adulto e ossos do dedo mindinho de uma menina em Denisova, uma caverna no sul da Sibéria.

Os restos fósseis tinham 40 mil anos e, embora os estudos genéticos demonstrassem que tinham vínculos com os neandertais, não se tratava da mesma espécie.

Após estabelecer que ela tinha tantas diferenças em relação aos neandertais quanto estes em relação aos Homo sapiens, a nova espécie foi batizada em homenagem ao local da primeira descoberta.

Nestes dez anos, apenas outro dente e restos fósseis de um dedo do pé foram encontrados na mesma caverna.