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Cerâmica se popularizou há 10 mil anos, e arqueólogos descobrem por quê

Nara National Research Institute for Cultural Properties
Imagem: Nara National Research Institute for Cultural Properties

Edison Veiga

Colaboração para o UOL, em Milão

16/07/2018 16h01

A arte de transformar barro em cerâmica é dominada pela humanidade desde a antiguidade remota. E um estudo divulgado nesta segunda (16) mostra que o desenvolvimento desse trabalho está intimamente ligado a outra atividade milenar: a pesca.

Um estudo realizado por pesquisadores ingleses, suecos, holandeses e japoneses na Universidade de York, da Inglaterra, concluiu que a consolidação da cerâmica se deu exatamente no período em que a pesca se intensificou, no final da última Era do Gelo, por volta de 10 mil anos atrás. O resultado foi publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Segundo o estudo, nessa época, as peças de cerâmica deixaram de ser encaradas como artigos de decoração e passaram a se tornar parte do dia a dia de nossos ancestrais caçadores-coletores. O material era considerado um isolante térmico relativamente bom para melhor conservar os peixes.

Geladeira das antigas

Como era um período de transição da Era do Gelo para o clima atual, a hipótese mais provável é que pela primeira vez se notou a necessidade de acondicionar melhor o alimento. Mas os resquícios também indicam que os vasilhames de cerâmica eram utilizados como panelas, no preparo das refeições.

A preservação de vestígios de gordura animal nesses potes permite que saibamos que, nessa época, a cerâmica deixou de ser um objeto raro e especial e se tornou uma ferramenta diária

Alexandre Lucquin, arqueólogo do da Universidade de York.

Ao longo de três anos, os cientistas se debruçaram sobre cerca de 800 peças de cerâmica antigas, encontradas sobretudo no Japão. Análises químicas dos resquícios de compostos orgânicos incrustados nesses antigos utensílios possibilitaram a análise da finalidade das cerâmicas.

Para o bioquímico Oliver Craig, também professor na Universidade de York, esse aumento na atividade ceramista em consequência da intensificação da pesca indica também o momento em que o povo Jomon, do Japão, se tornou sedentário.

“Essa necessidade é do período em que os caçadores-coletores começaram a se estabelecer em um lugar por períodos mais longos, desenvolvendo táticas mais efetivas de pesca”, argumenta.

A análise dos resquícios animais encontrados nos potes de cerâmica revelou ainda que o povo Jomon consumia principalmente salmão. Mas também foram encontrados vestígios de mariscos, outros peixes e até mamíferos marinhos.

Jomon

Dá-se o nome de período Jomon à primeira cultura que ocupou as ilhas onde hoje é o Japão. É tida como uma das precursoras da técnica ceramista.

Calcula-se que esse povo tenha vivido entre os anos 14 mil a.C. e 200 a.C. Eles não deixaram registros escritos