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Implante no cérebro faz tetraplégico sentir toque e movimento nos braços

Imagem destaca o córtex somatossensorial, área do cérebro responsável por sensações - Andersen Laboratory
Imagem destaca o córtex somatossensorial, área do cérebro responsável por sensações Imagem: Andersen Laboratory

Do UOL, em São Paulo

11/04/2018 17h12

Um homem com todos os membros paralisados e incapaz de sentir sensações voltou a experimentar a pressão do toque e o balanço de movimentos em seus braços. Isso graças ao estímulo de eletrodos implantados em uma região do cérebro responsável por sensações corporais. A experiência realizada por cientistas do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), nos EUA, teve seus resultados publicados no periódico científico eLife

Uma lesão na medula espinhal fez com que o paciente que participou do estudo perdesse os movimentos e a capacidade de sentir sensações em todos os membros abaixo dos ombros. No experimento realizado no hospital Keck, da Universidade do Sul da Califórnia, os pesquisadores implantaram minúsculos eletrodos numa região específica do córtex cerebral, chamada córtex somatossensorial.

Com os eletrodos, a equipe liderada pelo neurocientista Richard Andersen pode realizar estímulos elétricos nos neurônios. As sensações produzidas partiram desses pequenos pulsos no cérebro. O paciente relatou sentir diferentes sensações em seus braços, como a de apertar, bater e de movimento para cima e para baixo.

De acordo com a Caltech, antes do novo trabalho, implantes neurais semelhantes produziam sensações difusas, como as de formigamento. Já o implante realizado pela equipe de Andersen foi capaz de produzir sensações mais naturais, semelhantes às experimentadas pelo paciente antes de sua lesão.

"Foi muito interessante. [Senti] diversas sensações de pressão, aperto, movimentos, coisas assim. Espero que [a técnica] ajude alguém no futuro", disse o participante do estudo, que não teve o nome divulgado.

As sensações variaram em tipo, intensidade e localização no braço dependendo da frequência, da amplitude e da localização dos estímulos realizados pelos eletrodos no cérebro. Para os pesquisadores, o estudo pode levar ao desenvolvimento de tecnologias que devolvam as sensações dos membros para pessoas paralisadas que utilizam próteses mecânicas controladas pelo cérebro.

Braço mecânico - University of Pittsburgh Medical Center/Reuters - University of Pittsburgh Medical Center/Reuters
No futuro, sensores poderão devolver experiência de toque e movimento a pessoas com braços mecânicos controlados pelo cérebro
Imagem: University of Pittsburgh Medical Center/Reuters

Sensações naturais produzidas artificialmente

O córtex somatossensorial, local do cérebro do paciente que recebeu os eletrodos, é uma parte do cérebro ligada às sensações corporais, tanto as de movimento ou de posição do corpo no espaço quanto as cutâneas, de pressão, vibração, tato e outras.

Apesar das sensações geradas terem sido mais específicas do que as verificadas em outros experimentos, os códigos neurais que regem essas sensações físicas ainda não estão claros. O desafio dos cientistas agora será determinar os locais exatos de onde colocar os eletrodos para realizar os estímulos sensoriais de forma organizada.

Andersen pretende integrar a tecnologia aos braços robóticos que já são desenvolvidos em seu laboratório. Dessa forma, um homem paralítico poderá utilizar o braço mecânico para pegar uma xícara e ao mesmo tempo sentir o peso da xícara e o toque de seus dedos.

"Atualmente, o único feedback que está disponível em próteses neurais é visual, o que significa que os participantes [só] podem assistir à ação de membros robóticos", diz Andersen. A técnica também permitiria que os pacientes incorporassem com mais facilidade os membros biônicos como partes do próprio corpo.