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Solo em lagoa no Chile está se erguendo. Será um supervulcão despertando?

A Lagoa de Maule, no Chile - Luciano Nagel
A Lagoa de Maule, no Chile Imagem: Luciano Nagel

Luciano Nagel

Colaboração para o UOL, em Santiago (Chile)

20/01/2018 04h00

O Chile é o segundo país no mundo (depois de Indonésia) com a maior quantidade de vulcões espalhados ao longo da Cordilheira dos Andes. De acordo com o Servicio Nacional de Geología y Minería de Chile (Sernageomin) são cerca de 2 mil vulcões, dos quais 95 permanecem ativos. Mas há um outro vulcão pouco conhecido (ao menos para nós, brasileiros) que pode despertar a qualquer momento devido aos sinais que vem dando a natureza. Trata-se de um vulcão submerso na Lagoa de Maule (Laguna del Maule, em espanhol), localizado no interior da cidade de San Clemente, distante cerca de 270 km ao sul de Santiago.

Cercado pela Cordilheira dos Andes, em meio a paisagens áridas, a Lagoa de Maule tem despertado a curiosidade de cientistas do mundo todo devido ao solo da lagoa que vem aumentando de forma constante na última década, cerca de 30cm ao ano sem ter causado uma erupção. As informações são do doutor em Geologia da Universidade de Bonn, na Alemanha e professor da Universidade Católica de Temuco, no Chile, Cristian Farías.

"Este é um processo muito interessante, já que nenhum outro lugar no mundo o solo vem se levantando tão rápido quanto o da Lagoa de Maule sem causar uma erupção, nem mesmo comparado com o Yellowstone nos Estados Unidos da América", disse o geólogo em entrevista a reportagem do UOL.

De acordo com Cristian, existe uma grande quantidade de magma, gases e resíduos sólidos embaixo do solo da lagoa que busca sair a superfície. "A lagoa continua inflando. Estudos apontam que as condições para uma erupção em curto prazo ainda estão longe de acontecer", disse o professor.

A mesma afirmação é compartilhada por Sebastian Garcia, responsável pela área de monitoramento vulcânico de Serviço Arqueológico Mineiro Argentino. 

Segundo Garcia, as pesquisas que vêm sendo realizadas sobre a Lagoa de Maule apontam que realmente existe magma abaixo do solo (volume não mensurado) gerando sismos superficiais em toda a região. "Este fator demonstra que o vulcão está ativo, no entanto não chega a ser um super vulcão, mas devemos ficar atentos ao comportamento dele", disse o argentino Sebastian Garcia.

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Ilustração mostra o magma e resíduos sólidos embaixo do solo da lagoa
Imagem: Sernageomin

Quem vem de carro pela Argentina e cruza o passo fronteiriço Pehuenche, em meio a Cordilheira dos Andes, fica deslumbrado com a beleza e imensidão da Lagoa de Maule, já em território chileno. Suas águas gélidas e aparentemente calmas, em um tom azulado, enganam quem nele se atreve a navegar.

"É muito complexa a navegação nesta lagoa, porque na parte central dele as águas são revoltas, agitadas, devido aos fortes ventos que vêm da Argentina. Doze pessoas já faleceram enquanto navegavam na lagoa e alguns corpos nunca foram encontrados", disse o chefe da Rede Nacional de Vigilância Vulcânica no Chile, Álvaro Amigo. Segundo ele, a ausência da prática de esportes na lagoa está atribuída a localização geográfica, ou seja, em uma área muito isolada, sem infraestrutura o que ocasiona pouco interesse pelos esportistas.

Questionado pela reportagem do UOL, em caso de uma erupção, quais zonas poderiam ser afetadas e suas consequências, o chefe da Rede Nacional de Vigilância Vulcânica no Chile afirmou que estudos apontam que as regiões sul e sudeste em volta do complexo vulcânico seriam as mais prejudicadas, no entanto, estas localidades são pouco povoadas.

"Antes de qualquer eventualidade, os servidores do passo fronteiriço de Chile e Argentina seriam evacuados para um local seguro, mas a maior consequência mediante a uma erupção seria a contaminação do Rio Maule, que passa por várias hidrelétricas que proporcionam grande porcentagem de energia para o país", disse Álvaro Amigo do Sernageomin.

De acordo com o Sebastian Garcia, responsável pela área de monitoramento vulcânico de Serviço Arqueológico Mineiro Argentino, os serviços aéreos da região também seriam prejudicados caso o vulcão submerso na Lagoa de Maule despertasse. "A cidade de Mendoza, na Argentina seria afetada assim como outras regiões no entorno, que dependem da agricultura e turismo", disse.