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Cortes põem em risco participação brasileira em observatórios de astronomia

Participação de cientistas brasileiros nos telescópios do Observatório Gemini está ameaçada - Wikimedia Commons
Participação de cientistas brasileiros nos telescópios do Observatório Gemini está ameaçada Imagem: Wikimedia Commons

Do UOL, em São Paulo

19/07/2017 15h49

Os cortes realizados pelo governo federal na área de ciência e tecnologia colocam em risco a participação do Brasil em observatórios de astronomia internacionais, além de por em xeque o lançamento de satélites e o funcionamento de institutos gerados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, informa artigo publicado na revista Science.

Neste ano, orçamento do ministério, cuja previsão original era de R$ 5 bilhões, já havia sido reduzido para R$ 2,8 bilhões (redução de 44%). E o que estava ruim deve ficar ainda pior, já que a proposta inicial do Ministério do Planejamento para 2018 prevê corte de quase 40% em relação ao orçamento deste ano.

Em manifesto lançado na última semana, assinado pelos 19 institutos geridos pelo ministério, cientistas afirmaram que os cortes “colocam em risco” a existência deles.

Na segunda (17), durante evento de celebração dos 50 anos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o presidente da Finep Marcos Cintra criticou os cortes, afirmando que “o contingenciamento está sendo feito da forma mais burra possível", já que “ciência e tecnologia são o substrato de qualquer desenvolvimento econômico”.

Participação em telescópio de classe mundial em risco

Bruno Castilho, diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica, afirmou que o orçamento do instituto foi cortado pela metade neste ano e que as reservas atuais sequer cobrem as contas de água e eletricidade, segundo a Science.

A participação do Brasil nos Observatóriso Gemini --telescópios ópticos e infravermelhos gêmeos, localizados no Chile e no Havaí-- e no Telescópio de Pesquisa Astrofísica do Sul, no Chile, neste cenário é algo que pode se tornar inviável.

Castilho afirma que se o instituto não conseguir pelo menos mais R$ 4 milhões até o final do ano, os astrônomos brasileiros perderão o acesso a estas instalações. “É uma situação muito séria”, lamenta.

Satélite Amazônia 1 tem o lançamento colocado em xeque

Previsto para 2018, o lançamento do Amazônia 1 --satélite que monitorará o desmatamento e outras mudanças no uso da terra na região amazônica— está ameaçado, como também estão as operações diárias do supercomputador Tupã, utilizado na previsão de tempo e pesquisa climática.

É o que afirma Ricardo Galvão, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que ressalta que o governo federal só autorizou o instituto a gastar menos de metade de seu orçamento planejado de R$ 220 milhões neste ano, retendo o restante como "fundos de contingência".

“Estamos realizando um estudo detalhado de todos os projetos que podem ser congelados ou descontinuados para garantir nossas despesas operacionais ", diz Galvão.

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desatres Naturais) é outro instituto cujo funcionamento está ameaçado com os cortes já que está ficando sem fundos para manter sua rede nacional de sensores e estações de monitoramento. "Se o orçamento de 2018 é o mesmo deste ano, não sei como vamos sobreviver", diz o diretor Osvaldo de

Situação dramática

Os cientistas brasileiros avaliam que a situação deve piorar nos próximos anos, já que a PEC do Teto, aprovada em 2016, proíbe o governo federal aumentar os gastos acima da inflação nos próximos 20 anos. O secretário executivo do Ministério das Ciências, Elton Zacarias, avalia a situação como “dramática”

"Temos que resolver isso agora", diz Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências do Rio de Janeiro. "As pessoas estão saindo do país, os laboratórios estão fechando”.