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Animais com "sex appeal" evoluíram enganando as fêmeas, indica estudo

Um pavão macho com uma vibrante plumagem - Frans Lanting/National Geographic Creative
Um pavão macho com uma vibrante plumagem Imagem: Frans Lanting/National Geographic Creative

Do UOL, em São Paulo

23/12/2016 06h00

Sabe aquela pessoa magnética, que atrai o seu olhar quando entra no ambiente e que deixa um rastro de magia na sua memória quando sai? O mundo animal é assim, cheio de monumentos da atração. O alce com chifres em forma de galhadas vistosas, o pavão com sua cauda cheia de cores, aquele besouro de chifres sensacionais.

Mas o que intrigou até Charles Darwin, pai da teoria da evolução das espécies, é que eles convivem ao lado de indivíduos da mesma espécie com visual bem mais chinfrim. O que é mais vantajoso ter ornamentos espalhafatosos ou não ter e não precisar correr o risco de enroscar as penas e os chifres por aí?

Para um grupo de pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos EUA, existem vantagens em ambas as características. Os animais evoluíram aproveitando os ostentosos chifres, penas e cores para atrair companheiras. E, os sem ornamentos, se garantiram com uma melhor adaptação ao ambiente - na hora da fuga, isso faz diferença.

"Uma espécie pode se dividir em duas subespécies como resultado da batalha da ornamentação que ocorre ao longo do tempo", diz Daniel M. Abrams, professor de matemática aplicada. Seu grupo desenvolveu um modelo matemático que permite prever como ocorre essa distinção entre dois grupos nas diversas espécies de animais.

A divisão ocorre na tensão entre seleção sexual e seleção natural, com vencedores e perdedores dos dois lados. De um lado, animais que acumulam esse "capital erótico" proporcionado pela beleza. De outro, os animais de "baixo custo", que não gastam energia precisando manter a pose.

Veado - Philippe Wojazer/Reuters - Philippe Wojazer/Reuters
Veado com chifre vistoso em pradaria na França
Imagem: Philippe Wojazer/Reuters

Animais superproduzidos levam vantagem na conquista

Mas que poder de atração tem aqueles chifres enormes ou aquele monte de pena? Para os pesquisadores, eles fazem os animais "se acharem" bonzões. "Animais com ornamentos extravagantes estão mostrando quão bonitos e fortes eles são, a ponto de superarem os custos de carregar os ornamentos", diz Abrams. E isso dá certo.

Tudo serve para passar uma mensagem para o sexo oposto. Não importa que não seja tão honesta assim a publicidade. Mostrando que possuem uma qualidade individual elevada, eles tornam a conquista mais eficiente. 

Os autores incorporam na pesquisa o princípio da desvantagem, uma hipótese científica proposta pelo biólogo Amotz Zahavi em 1975. Para Zahavi, a evolução seria assim explicada levando em consideração uma forma confiável de sinalização entre os animais, mesmo que exista blefes. Afinal, grandes chifres e vultuosas penas não indicam superioridade física.

Besouro Rinoceronte - Wikimedia - Wikimedia
Não basta só ter chifres: o besouro rinoceronte possui mais de um, e bem ornamentados
Imagem: Wikimedia

A natureza mostra que funciona assim mesmo

Para verificar a validade do modelo matemático, os pesquisadores analisaram dados sobre ornamentos como chifres de veado, penas de pavão, brilho de certos peixes e tamanho da cauda de algumas aves. Foi encontrado o mesmo padrão de distribuição: os animais são divididos em dois subgrupos, um vistoso e um sem brilho, com pouquíssimos indivíduos entre os dois grupos.

De acordo com os pesquisadores, os indivíduos chamativos adquirem a habilidade de transmitir seus genes usando a vantagem do "sex appeal". O contraste dá aos animais bonitões a distinção física e o toque de classe que ajuda na paquera e faz o grupo de propagar - mesmo que muitos morram na hora do aperto devido às desvantagens de coisas como carregar aqueles chifrões.

"A seleção sexual e a seleção natural se excluem e produzem algumas das coisas estranhas que nós vemos no mundo animal," diz Sara M. Clifton, da Universidade de Northwestern. 

E será que ornamentos funcionam assim para humanos? "Não quero ir muito longe, mas pessoas podem parecer mais atraentes gastando recursos em coisas que custam muito dinheiro, como casas caras, carros, roupas ou joias, por exemplo", diz Abrams. Aquela pessoa que você imaginou roubando a cena no começo do texto te remetia a algo assim?