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Você sabia que há plantas que 'sangram' para se defender? Entenda mecanismo

Tobias Lortzing
Imagem: Tobias Lortzing

Do UOL, em São Paulo

02/05/2016 06h00

Nas plantas vasculares a seiva equivale ao sangue dos animais. O líquido circula por toda a estrutura e alimenta as células. Mas a Solanum dulcamara, uma espécie de videira de batata, tem um “truque” para deixar qualquer humano com inveja. Ela usa a própria seiva, que escorre dos ferimentos causados por insetos herbívoros, para atrair ajuda contra esses predadores.

Assim como os animais, as plantas fecham seus ferimentos para evitar infecções e até mesmo a morte, mas uma pesquisa divulgada pela Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, publicada na revista Nature nesta semana, mostrou que essa espécie não tem tanta pressa assim. Ao invés de criar uma cicatriz, ela sangra no local onde está sendo atacada por insetos, para atrair formigas --que ajudam a planta no combate aos predadores que a machucaram.

Durante o estudo, ao receber o néctar de recompensa, as formigas defenderam a planta de larvas de pulgas e de lesmas adultas. Embora não ataquem besouros adultos, as formigas atacam as larvas deste inseto que podem se alimentar dentro dos brotos e danificar a planta.

Marca da evolução

Cerca de 4.000 espécies de plantas têm nectários extraflorais, glândulas de açúcar fora das flores com a intenção de atrair formigas. “As formigas sobem para coletar as gotas de açúcar e, como formigas de dieta mista precisam de proteínas, elas atacam os herbívoros que estão comendo as folhas e os levam para o formigueiro. É uma troca de favores”, explica o professor Paulo Oliveira, do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O ingazeiro, também chamado de ingá, tem essa relação. O nectário extrafloral entre as junções das folhas secreta néctar, que alimenta formigas. Em troca, elas defendem a árvore de outros insetos.

Como a Solanum dulcamara não tem essa glândula, ela usa o local do ferimento para se defender. O estudo explica que há uma variação no açúcar presente na seiva e um controle na quantidade do líquido, deixando claro que a planta define por quanto tempo ela precisa da 'ajuda' das formigas. Essa variação acontece de acordo com a ameaça que os herbívoros representam, a eficácia das formigas no trabalho de defesa e o quanto de energia é preciso para “pagar pelo favor”.

Para os cientistas, a pesquisa demonstra que as plantas evoluem para melhorar suas formas de defesa.