Topo

Ter músculos grandes é sinônimo de força? Não é bem assim

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

20/04/2016 06h00

No total de nossa anatomia, são mais de 600 – alguns mínimos, com poucos milímetros de extensão, outros milhões de vezes maiores, com cerca de meio metro. Os músculos, especialmente o cardíaco e os esqueléticos – que estão vinculados à estrutura óssea e constituem nosso sustentáculo vital – ganharam visibilidade a partir de uma preocupação estética. Malhar virou sinônimo de beleza, mas não necessariamente de força.

“Força é um conceito muito abrangente, que inclui ambiente externo e ambiente interno. Em termos musculares, podemos dizer que é a quantidade de potência determinada por um padrão específico de movimento em uma determinada velocidade. Assim, a força muscular é a força máxima --ou tensão-- que pode ser gerada por um músculo ou por um grupo muscular contra uma resistência”, afirma a especialista em Medicina do Esporte, Cláudia Severo.

Não ajudou muito? É mesmo difícil. Músculos são compostos por fibras de dois tipos principais: as de contração rápida, que facilitam a execução dos movimentos explosivos, e as de contração lenta, úteis nas atividades de resistência. Todos nós temos as duas fibras, mas alguns têm mais fibras rápidas e outros, menos. Essas diferenças podem explicar a aptidão para realizar exercícios de explosão muscular, como uma prova de 100 metros rasos, ou de resistência, como uma maratona.

“Não há comprovação científica de que o treinamento físico regular modifique as quantidades de fibras de cada ser humano, determinada pela herança genética. A potência, portanto, tem mais a ver com predisposição genética do que necessariamente com esforço repetitivo”, diz a especialista.

Treinamento ajuda a aumentar o volume dos músculos, melhora a potência e os deixa mais resistentes à fadiga. Mas força não depende só disso"

Cláudia Severo, especialista em medicina do Esporte

O tamanho das estruturas musculares vem desse esforço. Os músculos são compostos de sarcoplasma, que é o líquido onde está mergulhado o núcleo de uma célula, e glicogênio, a reserva energética desses tecidos.

Quando as pessoas se exercitam, a oxigenação provoca o crescimento da estrutura para que ela suporte a carga exigida. Mas isso nem sempre significa mais força: em exercícios repetitivos, o aumento de líquido dentro do músculo é maior do que o aumento de energia – portanto, tamanho maior não tem relação direta com a elevação da potência.

Fibras musculares - iStock - iStock
Representação de fibras musculares do corpo humano
Imagem: iStock

O que acontece em treinos com bastante repetição, comuns em academia, é que as séries geram um aumento mais significativo de líquidos dentro do músculo do que de multiplicação das células que vão formar as fibras de resposta rápida ou longa. Um músculo volumoso, portanto, pode ser aquele recheado de água e sais minerais, componentes que isoladamente não geram força”

Abraão Salgado, fisiologista

O especialista lembra, ainda, que a magnitude da força gerada por um músculo está vinculada à rapidez do músculo para encurtar em relação a seu comprimento. Por exemplo, uma caminhada normal exige que os músculos envolvidos nesse processo se contraiam para que o corpo consiga romper a barreira natural da gravidade e da resistência do ar. É a chamada ação concêntrica – quando a força sempre supera a inércia.

Salgado explica que uma fibra muscular é capaz de encurtar até metade de seu tamanho normal em repouso.

Tônus muscular

Já as ações contrárias --chamadas de excêntricas-- provocam um alongamento do músculo e a “frenagem” do movimento, com a resistência sendo naturalmente maior para que o conjunto volte à posição estática ou isométrica. Para cada tipo de ação há um conjunto de fibras musculares com características de contração e distensão que se misturam no mesmo tecido. Mais ou menos tônus muscular vem justamente dessa relação.

“Como a potência muscular é o produto da força relacionado à velocidade de encurtamento, um músculo com maior porcentagem de fibras de contração rápida, ou concêntrica, sempre será capaz de desenvolver mais potência do que um similar com predominância de fibras excêntricas”, explica o fisiologista Carlos Alberto Motta, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria).

E isso nada tem a ver com tamanho. De acordo com o especialista, a sensação de força tem mais relação com o tônus muscular – condição dos músculos que permite a contração em menos tempo, embora com maior fadiga. Quanto maior o tônus, menor o tempo de resposta.

“Normalmente os músculos mantêm-se em um estado de contração parcial, mesmo em repouso. É a forma de prepará-los para entrar em ação assim que forem exigidos. A força vem desse tempo de resposta. Por isso que estados extremos de tensão emocional podem aumentar o tônus, causando mais potência”, completa.