Conversas cara a cara reduzem preconceito contra transgênero, aponta estudo
Embora o preconceito contra gays e lésbicas tenha diminuído, a discriminação de transgêneros continua alta. A partir dessa premissa, um estudo verificou se é possível mudar a opinião pública sobre as pessoas que se veem como o gênero oposto com conversas porta a porta.
A ideia não é nova: esse tipo de abordagem já havia ajudado a reduzir o preconceito contra o primeiro grupo em uma experiência norte-americana. Mas, desta vez, usando uma técnica diferente, o resultado foi maior: uma de cada dez pessoas mudou sua opinião sobre transgêneros e passaram a apoiar leis para protegê-los. O estudo foi divulgado na quinta-feira (7) na revista Science Advances.
David Broockman, da Universidade de Stanford, e Joshua Kalla, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, checaram se as intervenções do Centro LGBT de Los Angeles e do SAVE, mais antiga organização LGBT do Sul da Flórida, tiveram impacto duradouro nas pessoas que tinham tido conversas com o grupo.
O estudo foi conduzido no verão de 2015 em Miami, na Flórida, um Estado considerado conservador. As conversas de 10 a 15 minutos eram realizadas tanto por transgêneros quanto não-transgêneros e abordavam temas como o preconceito. Os moradores abordados eram estimulados a refletirem, por exemplo, sobre experiências em que eles se sentiram tratados de uma maneira diferente da forma como outras pessoas eram tratadas. O objetivo era gerar empatia nos moradores.
As estratégias de aproximação foram desenvolvidas pelo Centro LGBT de Los Angeles. A teoria usada é conhecida como processamento ativo, ou seja, quando alguém se esforça para processar uma mensagem, talvez considerando-a pelo ponto de vista de outro. Essa abordagem mostrou mudanças duradouras na atitude de alguns indivíduos para certos tipos de mensagens avaliadas em laboratório. Neste estudo, foi verificada a eficácia do método no mundo real.
Para medir os efeitos, os autores entrevistaram os participantes antes e depois da conversa, perguntando sobre as atitudes deles em relação aos trans, entre outros assuntos. Novas entrevistas foram feitas após três dias, três semanas e três meses. Os efeitos persistiram por três meses e o apoio se manteve mesmo ao expor os entrevistados a contra-argumentação.
Outras tentativas de reduzir o preconceito com outras ténicas como conversas por telefone ou mesmo pessoalmente não foram tão efetivas como essa, ressaltam os autores.
As conversas feitas por 56 agentes atingiram um público amplo: 501 eleitores, tanto democratas quanto republicanos, eleitores liberais e conservadores, homens e mulheres e entre negros, caucasianos e latinos. Todos mostraram uma mudança profunda de atitude.
No Brasil
“O segmento T é o que mais sofre violência”, diz William Salvador Martins, diretor da Associação Parada do Orgulho LGBT. Por segmento T, Martins se refere a travestis, transexuais, homens trans, mulheres transexuais e transgêneros.
Neste ano, o tema da parada gay em São Paulo será a luta contra a transfobia. O evento acontece em maio. A associação aponta que o Brasil é o país que mais mata travestis, transsexuais e transgêneros no mundo. Segundo a ONG, de janeiro a 2008 a março de 2014, foram contabilizadas 604 mortes.
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