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Clique Ciência: Andar descalço provoca resfriado ou é papo de vó?

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Imagem: Shutterstock

Cintia Baio

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/01/2016 06h00

“Menino, não ande descalço, o chão está frio! Vai pegar um resfriado!”. Quem nunca ouviu uma frase parecida com essa, provavelmente da mãe ou da avó? Então, surge a dúvida: é verdade que andar descalço, sair com o cabelo molhado no vento ou tomar friagem realmente pode provocar um resfriado?

A resposta direta é não. Gripes e resfriados (e a maioria das doenças respiratórias) são causadas por vírus e não por oscilações de temperatura. Mas o frio (ou a friagem) pode causar reações que contribuem para que o sistema respiratório fique vulnerável aos “ataques” de vírus causadores do resfriado e da gripe e, principalmente, iniciem uma crise de rinite alérgica.

Funciona assim: quando os microrganismos atingem nossas mucosas, o nariz começa a escorrer, tossimos, temos dificuldades para respirar etc. Mas isso só acontece se houver a presença desses vírus (e bactérias também). Caso contrário, a única coisa que nosso corpo sentirá ao ser exposto a um vento frio ou a um sorvete gelado, por exemplo, será frio.

Até hoje, muitos estudos tentaram relacionar temperaturas baixas e resfriado, mas nenhum deles conseguiu provar qualquer ligação. Pesquisadores da Universidade de Virgínia, nos EUA, por exemplo, inocularam um mesmo vírus causador de resfriados em dois grupos de voluntários.

Um dos grupos ficou por mais de uma hora dentro de uma espécie de geladeira e depois mais um tempo fora, só de cueca. Já os outros permaneceram bem agasalhados e aquecidos. O resultado? Todos ficaram doentes.

Embora não exista nenhum dado que afirme que o frio seja o causador da gripe, é correto dizer que no inverno o número de pessoas gripadas é maior. Quando a temperatura está baixa, é comum passarmos mais tempo em locais fechados e quentinhos. A aglomeração de pessoas em um ambiente aquecido é um dos lugares prediletos dos vírus, que vão passando de um indivíduo para o outro.

Quando a temperatura cai, o ar também tende a ficar mais seco. Isso contribui para o ressecamento das mucosas do aparelho respiratório. Esse ressecamento interfere na produção das secreções com anticorpos que ajudam na defesa do organismo. Com a imunidade comprometida, a chance do corpo ser “atacado” por microrganismos aumenta.

Além disso, o corpo humano está constantemente tentando manter a temperatura normal do organismo, através do hipotálamo. Quando submetido a temperaturas mais baixas (ou a friagem), o corpo responde com a vasoconstrição, ou seja, a contração dos vasos sanguíneos. Dessa maneira, a circulação do sangue e, consequentemente, dos anticorpos, fica mais difícil, expondo o organismo a agentes externos.

De olho na rinite

Para o clínico geral Paulo Camiz e o pneumologista Mauro Gomes, a história de andar descalço ou tomar friagem está muito mais ligada aos processos de rinite alérgica. Esses sim podem piorar com as mudanças de temperatura.

Ao contrário da gripe e do resfriado, a doença não está ligada a vírus, mas sim a uma inflamação da mucosa do nariz que ocorre ao entrar em contato com algum agente causador de alergias, principalmente os ácaros.

“A variação brusca da temperatura, principalmente do quente para o frio, pode desencadear um processo alérgico no sistema respiratório em pessoas sensíveis. Quando pisamos em um chão frio, por exemplo, nosso organismo pode interpretar que aconteceu essa variação e então desencadear crises de espirro, coriza e obstrução nasal”, explica Gomes.

Assim como no resfriado, durante uma crise de rinite alérgica, há uma contração dos vasos sanguíneos do trato respiratório. “Se o paciente ficar muito tempo com o nariz entupido ou com uma secreção abundante, a chance de haver uma infecção por algum vírus é grande”, completa Camiz.