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Clique Ciência: animais vivem menos nos zoológicos?

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Imagem: Sebastien Bozon/AFP

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

01/09/2015 12h54

Responder qual animal vive mais - o selvagem ou o de cativeiro - não é tão simples quanto parece. Ainda que viver em espaço limitado seja angustiante, é preciso lembrar que a natureza não é tão segura assim - predadores, comida concorrida, alterações climáticas e, claro, ausência de veterinários são uma ameaça constante.

"Muitas espécies não foram suficientemente estudadas para que se saiba quanto tempo vivem na natureza, por isso muitas indicações de expectativa de vida referem-se ao cativeiro", comenta o zoólogo Jonathan Wright, voluntário do Zoológico de Londres.

Ele afirma que os zoológicos evoluíram bastante nas últimas décadas e, salvo exceções, têm contado com equipes bem preparadas, o que fez a longevidade dos animais aumentar bastante. Mas ele lembra que há outros pontos a serem considerados, como a origem do bicho e as condições em que estava ao ser transferido ou capturado.

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Falta de espaço e do grupo

Nem o melhor zoológico ou parque aquático do mundo, porém, é capaz de reproduzir o habitat natural de mamíferos de grande porte, como elefantes, ou que estão acostumados a nadar grandes distâncias diariamente, como baleias e golfinhos.

"Esses mamíferos têm um sistema nervoso muito desenvolvido e são extremamente sociais, por isso sofrem estresse psicológico quando em cativeiro", aponta a veterinária especializada em vida selvagem Heather Rally, da Fundação Peta (People For the Ethical Treatment of Animals), organização ambiental que luta contra diferentes formas de exploração animal.

Rally teve destaque na imprensa norte-americana, no ano passado, após divulgar as condições de saúde precárias dos animais do parque aquático SeaWorld. Segundo ela, praticamente todas as orcas apresentavam uma espécie de ferida nas barbatanas dorsais, algo que é relativamente raro na natureza e indica que os bichos passam tempo demais na superfície.

A Fundação Peta, bem como outras entidades de proteção animal, afirma que animais aquáticos vivem bem menos que o esperado em tanques cheios de cloro. As orcas, de acordo com a fundação, poderiam viver até 70 anos na natureza, mas não passam de 25 em cativeiro, o que não é confirmado pelo SeaWorld.

Um estudo publicado na revista Science, em 2008, chamou atenção para a expectativa de vida reduzida dos elefantes em cativeiro. Uma equipe liderada pelo pesquisador Ros Clubb, da Sociedade Real para Prevenção da Crueldade contra os Animais (RSPCA, em inglês), analisou dados de mais de 4.500 elefantes do Parque Nacional Amboseli, no Quênia, na África, e os comparou com os de indivíduos mantidos em zoológicos europeus.

Na natureza, Clubb identificou uma expectativa média de 36 anos, mais que o dobro do tempo registrado nos cercados. Para os elefantes asiáticos, ainda mais raros, chega a 42 anos nas áreas de origem, mas fica em torno de 19 nos zoológicos. O resultado, segundo ele, é consequência da angústia psicológica e da obesidade frequente, problemas verificados pelas equipes nas instituições visitadas.

Comida e proteção

Se a questão parece estar fechada para mamíferos aquáticos ou de grande porte, o cenário é diferente para animais relativamente menores.

Em um levantamento feito na literatura científica para responder à dúvida de um internauta, Jonathan Wright mostra que a expectativa de vida de diversos primatas é maior em cativeiro. É o caso dos chimpanzés (30 a 50 anos de vida selvagem contra 50 a 75 anos em cativeiro), dos gorilas (25 a 50 contra 50 a 54) e dos saguis (10 contra 16), entre outros.

A nutrição e os cuidados médicos adequados podem explicar esses exemplos bem-sucedidos. Vale lembrar que a urbanização crescente e o consequente impacto nos ecossistemas tornaram a vida difícil na natureza, a tal ponto que alguns animais só sobrevivem até hoje por estarem em cativeiro.

Mas a Peta e outras entidades também ressaltam que é comum observar bichos com alterações de comportamento ou estereotipias (movimentos repetitivos) nos zoológicos - você já deve ter ouvido falar de macacos que costumam jogar fezes nos visitantes ou de ursos polares que nadam em círculos durante horas. Ou seja: a vida dos animais seria longa, mas nem sempre satisfatória.

Como fazer as pessoas se interessarem pelos animais, então, sem o encantamento que se têm em zoológicos e aquários?

Para Heather Rally, há várias formas de se fazer isso - desde visitar santuários que permitem a observação de aves ou baleias de longe, com binóculos, até assistir a um documentário 3D em telas gigantes disponíveis em alguns museus famosos.

"Não há nada de educativo em ver um animal preso, já que ele nunca mais será o mesmo no cativeiro", opina.