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Clique Ciência: tablets e celulares podem transmitir doenças?

Adolescente usa celular para ver mensagens: mais sujo do que banheiro, segundo especialistas - Fotolia
Adolescente usa celular para ver mensagens: mais sujo do que banheiro, segundo especialistas Imagem: Fotolia

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

16/12/2014 06h00

Você teria coragem de levar o assento da privada ou o sapato de um estranho para a sua cama? Não, né? Mas sempre lê alguma notícia no tablet ou troca mensagens pelo celular antes de dormir, certo? Então prepare-se para esta notícia: esses aparelhos eletrônicos carregam mais micro-organismos que o vaso sanitário, inclusive bactérias causadoras de doenças e infecções hospitalares.

Embora existam poucas análises envolvendo tablets, não faltam pesquisas sobre a contaminação dos celulares. Uma delas foi divulgada em 2012 por pesquisadores da Universidade do Arizona. Segundo eles, esses aparelhos contêm dez vezes mais bactérias que um banheiro.

"O celular só perde, em contaminação, para os carrinhos de supermercados e para mouses e teclados de computadores", afirma o microbiologista Roberto Figueiredo, conhecido como Dr. Bactéria.

Em quantidade de micro-organismos, o aparelho ganha de longe de solas de sapato, apoios de ônibus, corrimãos de escadas rolantes, tampos de vasos sanitários e escovas de dentes, segundo o especialista. Ganha até dos panos de prato molhados, que por sua vez têm um milhão de bactérias a mais que os assentos de privada. E, segundo o Dr. Bactéria, tanto faz se o aparelho tem tela de touch screen ou teclado -- o nível de contaminação é o mesmo.

Até ebola

Não é de se espantar que computadores, smartphones e tablets sejam fontes de doenças, algumas bem graves. Roberto Figueiredo avisa que, na literatura, há caso até de transmissão do vírus ebola pelo celular.

Em análises de laboratório, Roberto Figueiredo e sua equipe já encontraram, nos aparelhos, bactérias como a Staphylococcus aureus, que pode provocar intoxicações alimentares, conjuntivite, sinusite, laringite e infecções com pus; a Escherichia coli, que é indicadora de contaminação fecal e pode causar diarreias e vômitos; e até a Pseudomonas aeruginosa, associada a infecções hospitalares, entre outras doenças.

O motivo de tanta contaminação é simples: além da proximidade com a boca, muita gente não lava as mãos da forma correta e na frequência adequada. Sem contar que celulares e tablets têm substituído revistas e jornais no banheiro.

Mouses e teclados de computador são ainda piores, segundo Figueiredo, porque acumulam, além de saliva e coliformes fecais, restos de comida e bebida, que também são alimentos para as bactérias.

Uma pesquisa divulgada pela especialista em higiene Lisa Ackerley, da Universidade de Salford, diz que dois em cada três trabalhadores do Reino Unido almoçam no computador. E 20% nunca limpam o mouse. No Brasil, o cenário não deve ser muito diferente.

Basta uma tosse ou uma coceira no nariz e pronto, vírus e bactérias vão logo para as superfícies mais tocadas. E alguns desses micro-organismos podem sobreviver por até 24 horas, como alerta Ackerley em uma reportagem do jornal britânico Daily Mail.

Limpeza

Para evitar contrair doenças pelo contato com esses micro-organismos, a principal recomendação é lavar as mãos corretamente -- com sabão, por no mínimo 20 segundos e secando bem depois. E o ritual deve ser repetido não só depois de usar o banheiro, como também antes de comer e de começar a trabalhar, especialmente se você usa transporte público.

E quanto aos celulares e tablets, companheiros inseparáveis até nos momentos mais íntimos? Vale lembrar que os manuais desses equipamentos sempre trazem advertências contra o uso de água e de produtos de limpeza comuns.

Dr. Bactéria dá a dica: umedecer um lenço de papel toalha com álcool isopropílico e passar por todo aparelho. Mas atenção: esse tipo de produto costuma ser encontrado em lojas especializadas, e é diferente do álcool etílico que você compra no supermercado.

Mesmo com um produto adequado, é bom ser comedido na quantidade. "É só umedecer, e não encharcar -- você mata bactérias pelo contato e não por afogamento", ressalta Figueiredo. Para pessoas ligadas à área da saúde, como dentistas, médicos e enfermeiros, é preciso higienizar o aparelho diariamente. Já outras pessoas podem fazer a limpeza só uma vez por semana.