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Cientistas descobrem poeira de cometa no gelo e na neve da Antártida

Uma única partícula de poeira de cometa foi coletada de um pedaço de gelo na Antártida, vista aqui com um microscópio - Takaaki Noguchi
Uma única partícula de poeira de cometa foi coletada de um pedaço de gelo na Antártida, vista aqui com um microscópio Imagem: Takaaki Noguchi

Do UOL, em São Paulo

10/12/2014 06h00Atualizada em 10/12/2014 17h18

Pesquisadores descobriram poeira de cometa preservada no gelo e na neve da Antártida. Segundo a revista científica Science, essa é a primeira vez que partículas desse tipo foram encontradas na superfície da Terra.

A descoberta abre uma fonte promissora de estudos desse material, que são as partículas mais antigas disponíveis para estudo da formação do universo. A poeira do cometa pode oferecer pistas sobre a formação do sistema solar.

Até recentemente, a única maneira que os cientistas tinham de recolher "partículas porosas interplanetárias", ou poeira de cometa, sem ir ao espaço era usando aviões de pesquisa na alta estratosfera.

O trabalho é meticuloso, já que várias horas de voo normalmente produzem uma partícula de poeira de cometa. Segundo o cientista John Bradley, do Instituto de Geofísica e Planetologia da Universidade do Havaí e co-autor do estudo, trabalhar com essas pequenas amostras limita significativamente os tipos de testes e análises que podem ser feitos pelos pesquisadores.

A poeira acumulada na Antártida é mais limpa do que a obtida na estratosfera terrestre. Atualmente, os cientistas juntam poeira de cometa com um sistema que usa placas revestidas com óleo de silicone para prender as partículas, como moscas. Essas placas são presas a um avião. Como o material utilizado para captar as partículas leva petróleo,  as partículas acabam sendo contaminadas e precisam passar por um processo de limpeza.

Comparar as partículas encontradas na Antártida com as coletadas na estratosfera irá ajudar os cientistas a descobrir quais componentes da poeira fazem parte de sua composição química natural e quais vêm de contaminantes.

Em 2010, uma equipe de cientistas franceses relatou que tinha encontrado partículas densas de cometas ricas em carbono na neve da Antártida. Entretanto, esta é a primeira vez que a poeira de cometa mais típica foi encontrada e confirmada. Os cientistas pensavam que as partículas eram extremamente frágeis e não poderiam sobreviver na Terra.

Para encontrar o material, os pesquisadores coletaram neve e gelo a partir de dois locais diferentes ao longo de vários anos, desde 2000. Ao derreter o gelo e filtrar a água, os pesquisadores coletaram mais de 3.000 micrometeoritos, minúsculas partículas do espaço.

Durante cinco anos, os micrometeoritos foram analisados e catalogados. Mais de 40 partículas foram produzidas com as características do pó de cometa. Em uma análise mais aprofundada, os cientistas descobriram que eram indistinguíveis de poeira do cometa coletadas na estratosfera e também combinavam com amostras colhidas na coma (tênue atmosfera em torno do cometa) de um cometa pela missão Stardust da Nasa em 2006.

"Nosso resultado mostra que essas partículas frágeis podem ser preservadas não apenas em neve, mas também no gelo", afirma o principal autor do estudo, Takaaki Noguchi, pesquisador de meteorito na Universidade de Kyushu, em Fukuoka, no Japão.

O próximo passo será uma análise mais detalhada do material orgânico nas partículas, segundo a pesquisadora Cécile Engrand, especialista em meteoritos da Universidade Paris-Sud, em Orsay, na França. "O estudo dessas partículas de cometa ajudará a desvendar como esse material serviu para a formação planetária. Eles são as melhores testemunhas de que dispomos desse período de tempo.", acredita.