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Clique Ciência: como seu bicho de estimação pode virar diamante?

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Imagem: AFP

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

09/12/2014 06h00

Algumas empresas, inclusive no Brasil, têm oferecido um serviço inusitado para quem perdeu pessoas queridas ou um bicho de estimação e quer guardar como lembrança mais do que fotos e memórias: transformar os restos mortais em diamante. O processo é caro e leva algumas semanas.

Existem basicamente duas formas de transformar restos mortais em diamantes: utilizar as cinzas do animal ou da pessoa cremada, ou então pelos, penas ou cabelos. Segundo especialistas, a segunda opção é a mais indicada, já que os fios são ricos em queratina e, portanto, concentram grande quantidade de carbono

Para entender melhor o processo, é preciso lembrar que o diamante é uma forma do carbono. O carvão e a grafite, usada para fazer lápis, também são -- a diferença está no arranjo dos átomos, o que se explica pelo processo de formação de cada um desses materiais na natureza.

Os diamantes são formados sob altíssimas pressões, graças às camadas de magma que se depositam umas sob as outras ao longo de muitos e muitos anos. É por isso que essas pedras são tão valiosas.

Vale lembrar que o diamante é o mineral mais resistente que existe -- ele é capaz de riscar outros materiais, mas não é riscado por nenhum. Além disso, não sofre desagregação química. Por isso, além de ter sido eternizado como joia, o diamante é bastante utilizado em equipamentos industriais e cirúrgicos.

Pressão e temperatura

Como é possível simular um processo natural tão complexo, como fazem os fabricantes de diamantes sintéticos? Uma das tecnologias mais empregadas é a chamada HPHT (High pressure, high temperature), adotada, por exemplo, pela empresa Brilho Infinito, que oferece o serviço a clientes brasileiros.

Em primeiro lugar, os fios são carbonizados em uma máquina e transformados em uma pastilha. “Todo o processo de produção é realizado em laboratório na Espanha, que utiliza um equipamento de alta tecnologia para transformar a pastilha do carbono extraído do cabelo e do pelo em diamante. Este material é introduzido em um equipamento capaz de reproduzir pressão equivalente a 45.000 atms e temperatura ao redor de 1500°C, ou seja, as mesmas condições de pressão e temperatura encontradas na natureza. Tal processo resulta  em um diamante bruto, que depois é lapidado aqui no Brasil”, explica Pepe Altstut, fundador e diretor do Grupo Altstut, ao qual pertence a empresa Brilho Infinito.

O processo resulta  em um diamante bruto com características idênticas às pedras naturais, mas com o diferencial de ser uma representação única da pessoa ou do animal de estimação. Além de cães e gatos, cavalos de competição e até leões já viraram diamantes. O preço? É “sob consulta”, prefere divulgar a empresa, explicando que tudo depende do tamanho da peça e de como os cortes são feitos. Mas os valores são parecidos com o que se paga pelas pedras preciosas no mercado, ou seja, é caro.

Diamantes humanos

Como se trata de uma quantidade não muito grande de pelos ou cabelos, a homenagem não precisa ser póstuma. Em uma campanha recente da Graaac (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) para arrecadar fundos, a Brilho Infinito produziu diamantes a partir das mechas de cabelo de crianças que estão em tratamento contra a doença. As peças foram leiloadas a um preço inicial de R$ 18,8 mil.

Assim como é possível lapidar um diamante para presentear uma pessoa viva, a tendência de transformar restos mortais de humanos em diamantes também vem se popularizando por aqui. Uma das empresas que oferece o serviço é a Funerária e Crematório Vaticano, em Curitiba, que envia as cinzas para a Algordanza, na Suíça, pioneira nessa tecnologia.

A primeira cliente, por aqui, a pagar pela homenagem, em 2008, foi a viúva do militar curitibano Jorge Gaspar da Silva, morto em 1994. A partir de um quarto das cinzas do falecido, a empresa produziu um diamante de 0,2 quilate. De acordo com a funerária, os preços custam de R$ 8,5 mil a R$ 150 mil, dependendo das características da peça escolhida.