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Visão ativa neurônios que 'moldam' consciência do corpo, mostra Nicolelis

Do UOL, em São Paulo

26/08/2013 16h06Atualizada em 26/08/2013 17h08

Os neurônios responsáveis pelo controle de movimento e os que nos possibilitam experimentar sensações em distintas partes do corpo, como temperatura e tato, também podem responder a estímulos visuais, mostra pesquisa que será incorporada ao projeto Andar de Novo (Walk Again Project).

Conduzido pelo neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, o projeto internacional tem o objetivo de fazer um jovem paraplégico dar o pontapé inicial no jogo de abertura da Copa do Mundo em 2014. Para isso, a equipe do brasileiro está desenvolvendo um exoesqueleto controlado por estímulos cerebrais, integrando a interface cérebro-máquina por meio de próteses neurais para uso clínico em reabilitação motora.

O estudo conduzido em macacos foi publicado nesta segunda-feira (26) na edição online da PNAS, a prestigiada revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos.

Segundo o pesquisador brasileiro, que também coordena o IINN-ELS (Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra), na capital do Rio Grande do Norte, a descoberta fornece novas pistas sobre como diferentes áreas cerebrais podem trabalhar juntas para "moldar" a consciência do corpo.  Isso significa que a mente tem a capacidade de assimilar membros artificias, no caso as neuropróteses, como parte da própria imagem corporal, ajudando pessoas com deficiência motora a recuperar movimentos. 

"O estudo mostra, pela primeira vez, que o sistema somatossensorial pode ser influenciado pela visão, o que vai contra tudo o que já foi escrito na literatura sobre neurociência. Os resultados apoiam nossa teoria de que o córtex não é estritamente segregado em áreas que lidam com uma função apenas, como o toque ou a visão", explica.

Cérebro integrado

No experimento do Centro de Neuroengenharia de Duke, enquanto dois macacos observavam uma imagem de computador de um braço de primata tocado por uma bola virtual, o membro dos animais era cutucado pelos pesquisadores, desencadeando uma resposta no sistema somatossensorial do córtex, área cerebral responsável por um processamento neural mais sofisticado.

Depois, os animais observavam a mesma cena sem que nada tocasse seus braços. Mesmo assim, em poucos minutos, os pesquisadores identificaram que os neurônios foram ativados após o "toque" do braço virtual. Essa resposta ocorreu entre 50 a 70 milésimos de segundos mais tarde do que registrado na primeira situação.

"Quando nos tornamos proficientes no uso de ferramentas - como um violino, um mouse de computador ou um membro artificial -, nosso cérebro, provavelmente, altera a imagem interna de nossos corpos, para incorporar as ferramentas como extensões de nós mesmos."

Isso demonstra não só que os neurônios do córtex podem responder a estímulos visuais, mas também que o cérebro funciona como uma rede dinâmica, integrando diferentes áreas no mesmo processo. "As áreas corticais do cérebro estão processando múltiplos fluxos de informação ao mesmo tempo, em vez de serem segregadas como se pensava anteriormente."