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Com prêmio internacional, física brasileira quer mais mulheres na ciência

Da Deutsche Welle

28/03/2013 12h27

O estudo sobre as particularidades da água rendeu a Márcia Cristina Bernardes Barbosa o prêmio L'Oréal-Unesco. A física brasileira defende o fim da imagem "nerd" associada à ciência para que mais mulheres se apaixonem pela pesquisa. Quem escuta a pesquisadora explicar seu trabalho em metáforas, comparando as propriedades de difusão da água ao trânsito engarrafado de Paris, na França, pode pensar que física é coisa simples.

Ela fala apaixonadamente sobre ciência, conta sua rotina à frente do Instituto de Física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) de forma convidativa e quer, com a sua experiência, motivar outras mulheres a seguirem os caminhos da pesquisa.
"A carreira de cientista é uma coisa muito emocionante. A gente faz descobertas. Imagine só a emoção quando você se dá conta que é a primeira pessoa que compreendeu um certo fenômeno. Esse é um sentimento muito especial."

Brasileira ganha prêmio L'Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência

  • UFRGS

A brasileira está em Paris para receber nesta quinta-feira (28) o prêmio L'Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência, em cerimônia de gala, que foi divulgado em outubro passado. No currículo, a física acumula os títulos de mestre e doutora, além de três cursos de pós-doutorado. Ela é a quinta brasileira a ser premiada e será homenageada ao lado de outras quatro mulheres, representando cada continente do globo.

O prêmio reconhece as pesquisas de Márcia sobre a anomalia da difusão da água. Ela explica que se trata da propriedade que faz a água diferente de outros elementos. Uma barra de ferro, por exemplo, afunda em um tanque com ferro em estado líquido. Já o gelo, que é a água em forma sólida, permanece na superfície.

Márcia descobriu que quanto maior o número de moléculas de água, mais rapidamente ocorre uma troca de elétrons, o que faz o líquido fluir mais rápido. Os resultados de seu trabalho têm aplicações amplas: podem explicar como ocorrem os terremotos ou mesmo esclarecer como as proteínas estão estruturadas, o que pode influenciar o tratamento de diversas doenças.

Mulheres são ensinadas a cuidar

O prêmio internacional deixou a física emocionada. Em vez de apenas festejar, ela decidiu transformar a situação em uma nova oportunidade para falar de ciência para quem vive longe das universidades.

"Eu vivo em um país no qual o reconhecimento do cientista não é muito grande, em particular o reconhecimento das cientistas mulheres."

Ela conta que, depois de saber do prêmio, passou a dar muitas entrevistas e tem aproveitado as chances para exaltar a qualidade da pesquisa feita por mulheres no país. "As nossas pesquisadoras têm uma dedicação muito grande e estão se sobressaindo no mundo", garante.

Márcia lembra que a presença femina na ciência está mais intensa, mas essa participação é mais forte na área da Biologia. Na física – e também nas engenharias e na informática – as mulheres são minoria. Apesar de o quadro se repetir no mundo todo, valores culturais também influenciam a escolha da profissão e as mulheres, ensinadas desde cedo a cuidar, acabam encaminhadas para as áreas médicas ou biológicas.

"As mulheres não querem ir para um ambiente que pareça hostil", avalia. Para ela, em muitas culturas, inclusive na brasileira, a mulher ainda é criada para o lar. "As meninas têm uma tendência de, ao escolherem uma carreira, buscarem alguma que tenha cara de lar", compara.

Uma nova imagem para as cientistas

"Mas a falta de mulher na ciência é um fenômeno global", afirma Márcia. Ela entende que a imagem da profissão também torna a carreira desinteressante para as meninas com "essa imagem nerd".  Uma reformulação seria necessária.

"As meninas têm uma imagem de que cientista é uma pessoa que não tem vida social, uma pessoa que só se preocupa com o trabalho e não têm outros interesses na vida. E isso não é verdade”, enfatiza.

Para aquelas que aceitaram o desafio de viver de ciência, o programa que está premiando Márcia oferece outras formas de reconhecimento. Especialistas nas áreas de Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde, Ciências Físicas, Ciências Matemáticas e Ciências Químicas podem concorrer a bolsas de R$ 40 mil, com inscrições até o dia 13 de maio. Desde 2006, 47 pesquisadoras já foram beneficiadas com o prêmio.