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Impulsividade na adolescência não é exclusividade de humanos, indica estudo

Getty Images
Imagem: Getty Images

Em Washington

20/08/2019 18h04

O comportamento impulsivo dos adolescentes é mais que uma etapa no desenvolvimento humano, já que é resultado da biologia e é percebido em outros primatas, segundo um artigo publicado hoje pela revista americana Trends in Neurosciences.

"Como todos sabemos, a adolescência é um período de alta impulsividade e busca de sensações que conduzem a decisões questionáveis", afirmou Beatriz Luna, do Departamento de Psiquiatria, Pediatria e Psicologia da Universidade de Pittsburgh, no estado americano da Pensilvânia.

"No entanto, esta tendência do comportamento se sustenta em um processo neurobiológico de adaptação que é crucial para moldar o cérebro a partir da obtenção de experiências novas", acrescentou a pesquisadora.

O controle exercido pelas inibições evolui ao longo da adolescência e dos primeiros anos da vida adulta, o que tem um impacto na tomada de decisões.

As manifestações de comportamentos que inibem as respostas indicam que os adolescentes são capazes de produzir ocasionalmente respostas do nível de um adulto, mas carecem da capacidade para empregar os sistemas de inibição de resposta de maneira coerente.

As comparações estruturais, funcionais e neurofisiológicas entre humanos e macacos mostram que a dificuldade para conter ou deter as reações é similar à dos primatas que, durante a puberdade, também demonstram limitações nos testes em que precisam segurar uma resposta reativa.

"O macaco é realmente o modelo animal mais poderoso e próximo à condição humana", declarou Christos Constantinidis, da Escola de Medicina Wake Forest, coautor do estudo.

"Os macacos têm uma crosta pré-frontal desenvolvida e seguem uma trajetória similar, com os mesmos padrões de amadurecimento entre a adolescência e a fase adulta", destacou.

De qualquer modo, correr riscos e se atirar em aventuras empolgantes durante a adolescência não é necessariamente algo ruim. "Não é preciso ter um sistema de controle inibitório perfeito na adolescência, mas isso ocorre por alguma razão. É algo que sobreviveu na evolução porque, de fato, nos permite novas experiências que proporcionam informação sobre o entorno e é crítico para que ocorra a especialização do cérebro", salientou Beatriz.

O desenvolvimento neurológico dos humanos nesse período é caracterizado por mudanças na anatomia estrutural, com uma poda ativa de conexões redundantes ou infrautilizadas e um fortalecimento das áreas de substância branca em todo o cérebro. Esse processo determinará a matriz sobre a qual o cérebro adulto operará.

"Compreender os mecanismos neurais que subjazem neste período de transição em nossos colegas primatas é crucial para nos educarmos sobre esse período de amadurecimento cerebral e cognitivo", afirmou a pesquisadora.