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Aceleração do degelo e aumento de temperaturas ligam alarme no Ártico

14/08/2019 11h00

Anxo Lamela e Juanjo Galán.

Copenhague/Helsinque, 14 ago (EFE).- Os fenômenos extremos recentes no Ártico, com altas temperaturas, seca e aceleração do degelo, preocupam os especialistas, que evidenciaram a alarmante evolução desses efeitos nos últimos anos e os vinculam à mudança climática.

Em toda a Groenlândia, que possui a segunda maior camada de gelo do mundo, depois da Antártida, foram registradas temperaturas superiores à média em junho e julho, enquanto as precipitações ficaram em mínimos históricos.

"Estes fenômenos acontecem de vez em quando, mas a onda de calor procedente da Europa no final de julho representou um empurrão adicional", explicou à Agência Efe Ruth Mottram, climatóloga do Instituto Meteorológico Dinamarquês (DMI), que tem várias estações na Groenlândia, território autônomo da Dinamarca.

Um período longo, desde abril, com calor persistente e seca, precedido por um inverno seco, fez com que a neve derretesse mais rapidamente e também causou uma aceleração do degelo.

A calota glacial da Groenlândia perdeu em um dia no começo deste mês 11 bilhões de toneladas, número recorde, mais do que o dobro da média diária na época de degelo, e, embora tenha reduzido o ritmo progressivamente, ainda supera o habitual para a época.

"Segundo os modelos que utilizamos, não esperamos uma superação do recorde absoluto de 2012, mas sim que entre no top 5", afirmou Mottram, que destacou que nove dos dez anos com mais degelo na calota glacial ocorreram de 2004 para cá.

Mottram admitiu que, embora a curto ou médio prazo as variações meteorológicas possam oscilar de um ano para outro, os prognósticos apontam que esses fenômenos ocorrerão mais frequentemente e que continuará aumentando o derretimento da camada de gelo ártico.

Os dados da camada de gelo marinho são ainda piores: desde a metade de julho, a extensão é 4% menor do que a do ano recorde de 2012. E tudo indica que essa linha será mantida quando terminar o degelo, em um mês e meio, segundo o climatólogo Sebastian Mernild, líder do Centro Meio Ambiental Nansen, na Noruega.

Mais do que esses dados, Mernild se preocupa com a tendência das últimas três décadas, embora o surgimento de fenômenos extremos seja "o primeiro sinal" de que há uma mudança climática em andamento.

"As consequências são graves, vemos piores condições. Há um balanço negativo na placa de gelo que contribui para o aumento do nível do mar. E isso é problemático. O que vimos neste ano é provável que vejamos com mais frequência. Os fenômenos extremos passarão a ser normais, como ocorreu antes", afirmou à Agência Efe.

A mudança climática tem efeitos claros nos habitantes do Ártico, porque a neve demora mais para chegar e desaparece antes. Em Tasiilaq, cidade mais populosa do leste da Groenlândia e que foi visitada recentemente por Mernild, o número de trenós caiu de milhares para centenas, já que o degelo fez com que os períodos de caça sejam muito mais curtos.

O Instituto Polar Norueguês alertou no final do mês passado que foram encontrados 200 corpos de renas no arquipélago ártico de Svalbard, mortas de fome porque já não encontraram comida suficiente no inverno, escassez causada pelo aumento das precipitações de chuva ao invés de neve, o que acabou com a vegetação na região.

Os efeitos da mudança climática também foram notados em outros países da zona ártica, como a Finlândia, com verões marcados pela escassez de chuvas e temperaturas inusualmente altas, enquanto os invernos são cada vez menos frios e com menos quantidade de neve.

Neste verão, Helsinque bateu um novo recorde desde que há registros, ao atingir em 28 de julho os 33,2 graus centígrados, e grande parte do país sofreu com uma longa seca que favoreceu a aparição de centenas de pequenos incêndios florestais.

Os especialistas finlandeses calculam que a temperatura média nacional aumentou 2,3 graus desde meados do século XIX, com uma alta especialmente pronunciada nas últimas três décadas.

Segundo o Instituto Meteorológico da Finlândia, a mudança climática fará com que as temperaturas continuem aumentando no país mais do que a média global do planeta.

Concretamente, a organização estima que para o final do século XXI a temperatura média anual na Finlândia terá aumentado entre 2,3 e 6 graus centígrados em relação ao período 1986-2005, dependendo da evolução das emissões de gases tóxicos.

As autoridades locais estão tão preocupadas com os efeitos do aquecimento global que adotaram um Plano Nacional de Adaptação à Mudança Climática, com o objetivo de se tornar um país neutro em carbono antes de 2035 e com emissões de carbono claramente negativas a partir de então. EFE