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Chineses fumavam maconha em rituais há 2.500 anos

Segundo pesquisa, "parece provável" que chineses conheciam também a capacidade da planta para tratar doenças - getty images
Segundo pesquisa, "parece provável" que chineses conheciam também a capacidade da planta para tratar doenças Imagem: getty images

12/06/2019 16h08

A maconha já era fumada de forma ritual no oeste da China há 2.500 anos, provavelmente durante ritos funerários, segundo os restos de objetos achados em vários túmulos, os quais apontam que o tipo usado continha altas quantidades do agente psicoativo mais potente da planta.

Um estudo assinado por cientistas do Instituto Max Planck, da Alemanha, e da Academia Chinesa de Ciências Sociais publicado nesta quarta-feira pela revista "Science Advances" contém "as primeiras evidências claras" até o momento do uso da maconha pelas suas propriedades psicoativas.

A descoberta procede da análise dos restos de dez vasos de madeira usados como queimadores que continham pedras com sinais evidentes de queimaduras, os quais foram achados durante escavações da Academia Chinesa de Ciências Sociais no cemitério de Jirzankal, no oeste da China, na cordilheira de Pamir, datado aproximadamente de 2.500 anos atrás.

A equipe suspeitou que os queimadores podiam ter tido uma função ritual e, para investigá-la, extraíram material orgânico dos fragmentos de madeira e das pedras para analisá-las usando cromatografia de gases e espectrometria de massas.

Os resultados mostraram uma coincidência exata com a assinatura química da cannabis, em particular com a que contém uma alta quantidade de THC, o agente psicoativo mais potente da planta, o que indicaria que a população sabia que havia tipos específicos de plantas e interagiam com elas.

"Acredito que podemos dizer com bastante segurança que a maconha foi empregada em algum tipo de prática ritual funerária ou mortuária", afirmou em entrevista coletiva por telefone o diretor de laboratório do Instituto Max Planck para Ciência da História Humana, Robert Spengler.

Os especialistas ainda não puderam estabelecer se os enterrados em Jirzankal cultivavam cannabis ativamente ou simplesmente buscavam as plantas que produziam mais THC.

Ainda não está claro se a cannabis tinha outros usos na sociedade, mas "parece provável" que conheciam também a capacidade da planta para tratar certos sintomas e doenças, segundo um comunicado do Max Planck.

A origem da maconha

A cannabis é uma das plantas mais antigas cultivadas no leste da Ásia e uma das mais usadas hoje no mundo como droga psicoativa, mas se sabe pouco sobre seu emprego no mundo antigo como psicoativo.

Muitos historiadores situam a origem do uso fumado da cannabis nas antigas estepes da Ásia Central, se baseando em uma passagem de um texto do final do século I antes de Cristo obra do autor grego Heródoto, lembrou Spengler.

Em comunicado, a diretora do Instituto Max Planck para Ciência da História Humana, Nicole Boivin, explicou que esta descoberta "apoia a ideia de que as plantas de cannabis foram usadas primeiro por seus componentes psicoativos nas regiões montanhosas da Ásia Central e dali se estendeu a outras regiões do mundo".

De fato, é possível que a maconha tenha se propagado através das primeiras vias de troca ao longo da chamada Rota da Seda, acrescentou.

A planta de cannabis já era cultivada no leste da Ásia 4.000 anos antes de Cristo para seu uso como sementes oleaginosas e fibra para tecidos, lembrou Spengler.

Já a pesquisadora da Academia Chinesa de Ciências de Pequim, Yimin Yang, destacou na entrevista coletiva que as análises dos biomarcadores "abrem uma janela única para os detalhes da exploração de plantas antigas e para a comunicação cultural que outros métodos arqueológicos não podem oferecer".