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Ex-subdiretor da KGB diz que se reuniu com Oswald antes da morte de Kennedy

27/10/2017 15h59

Ignacio Ortega.

Moscou, 27 out (EFE).- O ex-subdiretor da KGB Nikolai Leonov afirmou nesta sexta-feira à Agência Efe que se reuniu com Lee Harvey Oswald no México um mês antes do assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy e que considerou "impossível" que ele fosse o autor dos disparos ocorridos em 22 de novembro de 1963.

"Me reuni com Oswald no México mais ou menos um mês antes do assassinato de Kennedy. Ele veio à embaixada buscar uma forma de fugir urgentemente para a União Soviética. Me disse que estava sendo perseguido, que queria voltar para salvar sua vida", explicou Leonov.

O veterano agente secreto russo ressaltou que Oswald "não pode ser o executor do assassinato".

"É impossível. Ele era um homem desgastado, extremamente magro e pobremente vestido. Estava muito nervoso. Tremia todo, das mãos aos pés. Nem sequer podia esticar a mão. Seu estado era horrível", revelou o ex-subdiretor da KGB.

Leonov, que atuava no México e foi responsável por apresentar Fidel Castro e Ernesto Che Guevara ao Kremlin antes da revolução em Cuba, destacou que Oswald afirmou várias vezes que estava sendo "pressionado por forças escuras que não podia explicar".

"Ele estava tão nervoso que foi incapaz de escrever a solicitação", disse o ex-agente, ao lembrar da visita à embaixada soviética que era conhecida pela CIA, como os mostram os documentos até então secretos que perderam o sigilo ontem por ordem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Leonov explicou a Oswald que, por se tratar de um cidadão americano que acabava de voltar da União Soviética, receber um visto e obter a cidadania soviética seria um processo que demoraria.

"Não dependia da embaixada. Era uma decisão que correspondia ao Soviete Supremo. Conversamos por não mais que uma hora. Com dissemos que não, ele foi embora todo zangado. Foi depois à embaixada cubana e recebeu a mesma resposta", afirmou.

O ex-agente disse ter ficado surpreso quando, semanas depois, Oswald apareceu na imprensa como assassino de Kennedy.

"Ele estava desgraçadamente doente. Só despertava compaixão. A KGB nunca o levou a sério. Quem ia o levar a sério? Se ele estivesse na sua frente hoje, você também não o levaria a sério", ressaltou.

Quando viu como Kennedy foi morto na cidade de Dallas, no Texas, e viu Oswald como o acusado pelo crime, ficou convencido de que o homem estava sendo usado como "bode expiatório".

Para o ex-agente, Oswald foi o escolhido de um complô ultraconservador para matar Kennedy justamente por ter vivido na União Soviética por três anos, entre 1959 e 1962.

"Com Kennedy morto, era preciso matar Oswald, já que, nas primeiras declarações, ele garantiu que nunca atirou contra o presidente. Esse pobre rapaz não tinha nada contra Kennedy", disse.

"Perguntei a ele e ele me disse que não tinha nada contra o presidente, que não tinha inimigos. Era um homem doente que não podia fazer essas coisas. Precisava de tratamento médico e psicológico. Parecia ter Mal de Parkinson", explicou o ex-agente.

Leonov também afirmou que, quando Oswald chegou à embaixada russa no México, levava uma arma por ter "mania de perseguição".

"Ele me mostrou o revólver. Pensava que alguém o esperava a cada esquina para matá-lo. Fazia reflexões sem lógica, sem fundamento. Sofria de uma demência evidente", contou Leonov.

O ex-subdiretor da KGB não acredita que a pessoa que ele conheceu no México era capaz de realizar três disparos em poucos segundos, matando o presidente que estava em uma limusine em movimento.

"Façam-me o favor! Eu pratiquei tiro esportivo, sei o que é disparar com uma arma com um alvo a 100, 200 metros. É preciso treino e saúde. Esse rapaz não cumpria nenhum dos requisitos", indicou Leonov.

Aos 89 anos, o agora historiador lembra que concedeu várias entrevistas à imprensa americana sobre o encontro com Oswald, mas que "nem uma linha foi publicada".

"Disse a eles para me trazerem uma Bíblia para que eu jurasse sobre o livro sagrado que era tudo mentira. Oswald não matou Kennedy. Eles não quiseram me ouvir", lamentou.

Para Leonov, Kennedy nunca foi perdoado pelos "falcões" dos EUA por sua atuação na crise dos mísseis com Cuba e que o assassinato foi uma "vingança".

"O mesmo ocorreu com (Abraham) Lincoln. Também mataram o assassino para que ele não falasse. Meio século depois, eles seguem mantendo o segredo. Que a segurança e os interesses nacionais estão em perigo. Isso é mentira. Que publiquem tudo de uma vez por todas", pediu o ex-subdiretor da KGB.

Leonov também afirmou que o "único objetivo" da comissão Warren, responsável pela investigação do assassinato, era esconder tudo, concluir que Oswald era o autor do crime e que não havia nenhum complô para matar Kennedy.