Topo

'Irmã' da Via Láctea foi engolida pela galáxia Andrômeda, descobrem cientistas

Nathalia Passarinho

Da BBC News Brasil, em Londres

24/07/2018 14h43

A Via Láctea já teve uma "irmã" que foi engolida há 2 bilhões de anos pela galáxia mais próxima de nós, Andrômeda.

A descoberta foi feita por cientistas do Departamento de Astronomia da Universidade de Michigan a partir de um detalhado estudo das estrelas que circundam Andrômeda.

Leia também:

Por muitos anos, acreditou-se que essa auréola de estrelas tivesse sido formada a partir da fusão de Andrômeda com pequenas galáxias.

Mas, usando modelos e simulações de computador, os pesquisadores Richard D'Souza e Eric Bell conseguiram juntar indícios suficientes para concluir que grande parte desse rastro é o que restou de uma única galáxia massiva que foi "canibalizada".

A "irmã" engolida da Via Láctea foi apelidada de M32p.

Como a pesquisa surgiu

D'Souza explicou à BBC News Brasil que a descoberta foi feita quando ele e Bell comparavam as "auréolas" de galáxias distantes.

"Durante essas observações, percebemos que a o halo estelar de Andrômeda só poderia ser formado pela fusão com uma única galáxia de grande porte", disse.

"Não havia galáxias menores suficientes no universo para se chocar com Andrômeda durante o curso de vida dela e formar uma auréola daquele tamanho."

A pesquisa, publicada nesta semana na revista científica Nature Astronomy, mostra que a M32p era, pelo menos, 20 vezes maior que qualquer galáxia que já se fundiu com a Via Láctea.

"Quando percebemos isso, ficamos em êxtase, porque essa descoberta poderia explicar vários outros mistérios associados a Andrômeda", afirmou o pesquisador à BBC News Brasil.

Um desses mistérios é a origem da M32, uma galáxia satélite que orbita Andrômeda.

D'Souza e Bell afirmam que a compacta e densa M32 é a parte central da M32p, que teria sobrevivido à fusão com Andrômeda. Ela seria, conforme analogia feita pelos cientistas, "como o caroço de uma ameixa que sobra após a fruta ser comida".

Estudo muda o entendimento sobre colisão de galáxias

O estudo também coloca em xeque o entendimento vigente de que colisões de "larga escala" entre galáxias destroem o formato original delas.

A pesquisa da Universidade de Michigan mostra que o disco de Andrômeda persiste, embora agora se saiba que ela se fundiu com outra galáxia de grande porte há 2 bilhões de anos.

"Esse estudo muda o entendimento sobre como as galáxias sobrevivem a colisões. Achava-se que uma fusão assim destruiria a galáxia principal, transformando-a de uma galáxia em disco para uma elíptica", explicou D'Souza.

"Agora, sabemos que Andrômeda sobreviveu à colisão, embora ainda não saibamos como. Novos estudos vão nos ajudar a compreender as razões disso."

Via Láctea em rota de colisão

A nossa própria galáxia está em rota de colisão com Andrômeda, mas isso só deve ocorrer daqui a cerca de 4 bilhões de anos. As duas galáxias estão se aproximando devido à gravidade que exercem uma sobre a outra.

Elas estão separadas por uma distância de 2,5 milhões de anos-luz, mas estão convergindo a uma velocidade de aproximadamente 400 mil quilômetros por hora.

Como Andrômeda tem o dobro do tamanho da Via Láctea e a nossa galáxia, por sua vez, é maior que a M32p, a expectativa é que o "estrago" seja bem maior.

"Andrômeda e a nossa galáxia são comparáveis em termos de massa e tamanho a um fator 2, portanto, a colisão será bem mais enérgica", explicou D'Souza à BBC News Brasil.

E quem deve "sair perdendo" nesse impacto é a Via Láctea.

"Achamos que a Via Láctea, por ser menor, será destroçada e, eventualmente, se tornará parte do halo estelar de Andrômeda", disse.

"Mas, como também somos uma galáxia de grande porte, é possível que deformemos Andrômeda, fazendo com que se transforme de uma galáxia em disco para uma galáxia elíptica gigante."