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Ganhador do Nobel da Física: é "loucura" falar que vamos para exoplanetas

Michel Mayor, ganhador do Nobel da Física em 2019 - Javier Soriano/AFP
Michel Mayor, ganhador do Nobel da Física em 2019 Imagem: Javier Soriano/AFP

13/10/2019 12h59Atualizada em 14/10/2019 11h08

Sem tempo, irmão

  • Michel Mayor diz que é algo "louco" pensar em irmos para um exoplaneta
  • Cientista ganhou Nobel da Física por descoberta do primeiro exoplaneta há 24 anos
  • Para ele, questão de vida fora da Terra será respondida pela próxima geração

O caçador de exoplanetas Michel Mayor, que recebeu o Prêmio Nobel de Física na terça-feira (8), alertou que não se deve esperar que um dia a humanidade possa emigrar para um exoplaneta, categoria dos planetas que estão fora do Sistema Solar.

O pesquisador suíço respondeu às perguntas da AFP à margem de uma conferência perto de Madri. Entre as respostas, disse que é algo "louco" dizer que um dia a humanidade irá para um planeta fora do nosso Sistema Solar.

Se falarmos sobre planetas extrassolares, deixemos as coisas claras: não emigraremos para eles. Esses planetas estão muito, muito distantes. É algo completamente louco Michel Mayor, que recebeu o Prêmio Nobel de Física

O suíço sequer considera a possibilidade mesmo nos planetas situados mais "próximos" da Terra e que surgem como postulantes para uma possível emigração, caso nosso planeta se torne inabitável.

"Mesmo no caso muito otimista de um planeta habitável não muito distante, digamos algumas dezenas de anos-luz, o tempo para chegar lá é considerável. Seriam centenas de milhões de dias com os meios atuais. Vamos prestar atenção ao nosso planeta. É muito bonito e ainda bastante habitável. Todas as declarações do tipo 'um dia iremos a um planeta habitável se a vida não for possível na Terra' devem ser descartadas", crava.

Vida fora da Terra

O ganhador do Nobel também deu seus pitacos sobre a possibilidade de vida fora da Terra. Nesse assunto, contudo, ele evitou confirmar ou descartar qualquer possibilidade.

"Na Via Láctea temos certeza de que existem muitos planetas rochosos com uma massa semelhante à da Terra a uma distância tal (da estrela) que a temperatura seria adequada para o desenvolvimento da química da vida, mas não sabemos mais nada. Ninguém pode oferecer uma probabilidade de vida em outro lugar", apontou.

Existem teorias discrepantes no campo da ciência sobre a possibilidade de vida pelo Universo - para alguns é algo natural, enquanto para outros seria complexo. Por isso, Mayor prefere a cautela ao afirmar que "não sabemos nada" sobre isso.

"Alguns cientistas dizem que, se todas as condições forem cumpridas, a vida emergirá por conta própria, em uma espécie de emergência natural das leis do Universo. Mas outros dizem: 'não, é muito mais complicado'. Não sabemos nada. A única maneira de conhecer é desenvolver técnicas que nos permitam detectar a vida à distância. A próxima geração terá que responder a essa pergunta", despistou.

O pesquisador foi premiado com o Nobel da Física por, há 24 anos, ter descoberto (em parceria com Didier Queiroz, também premiado) o primeiro planeta que girava em torno de uma estrela diferente ao Sol. Essa descoberta respondeu perguntas antigas da humanidade sobre a possibilidade de outros mundos no Universo.

Desde então, cerca de 4 mil exoplanetas já foram descobertos, principalmente com o auxílio de novos instrumentos de pesquisa que ampliaram o raio de observação dos humanos.