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Oceanos são chave na luta contra o aquecimento

20/09/2019 09h52

Paris, 20 Set 2019 (AFP) - O homem pode contar com os oceanos como uma das soluções para lutar contra a mudança climática, contanto que se proteja seus ecossistemas debilitados.

Com frequência ignorados na criação de políticas contra o aquecimento, os oceanos agora são protagonistas de uma ativa campanha de seus defensores para que se transformem em um ator-chave nesse combate.

Desde as energias renováveis marinhas até a restauração dos ecossistemas costeiros, o oceano "é também uma fonte de soluções que deveria ser aplicada", defende Jean-Pierre Gattuso, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, que participou de um estudo sobre o tema publicado em 2018 na revista "Frontiers in Marine Science".

- Reparação e proteçãoAquecimento, sobrepesca, poluição... Todos esses fatores adoeceram os oceanos, até o ponto em que estes podem deixar de garantir funções primordiais para a sobrevivência da humanidade, como a produção de oxigênio e a absorção do CO2 procedente da atividade do homem.

Por isso, muitos defendem aumentar as zonas protegidas, permitindo aos oceanos recobrar forças.

"Ao menos 30% dos oceanos devem ser protegidos para que seus ecossistemas sejam suficientemente resistentes (...) e os 70% restantes devem ser geridos de forma prudente e sustentável", defende o vice-presidente da ONG Pew Charitable Trust, Tom Dillon.

Segundo o recente informe de especialistas da ONU sobre biodiversidade, 7% dos mares estão hoje protegidos, e não necessariamente de forma eficaz.

Proteger os oceanos passa também por restabelecer os ecossistemas costeiros como os manguezais e os habitats de plantas aquáticas, que têm capacidades importantes de absorção de carbono, fenômeno batizado de "carbono azul".

O potencial de atenuação da mudança climática destes ecossistemas é "relativamente modesto em nível mundial (cerca de 2% das emissões)", segundo o projeto de informe de especialistas do clima da ONU abordado a partir desta sexta em Mônaco.

Segundo o estudo da "Frontiers in Marine Science", ainda assim é melhor do que nada, sobretudo, levando-se em conta o fato de que esta vegetação marinha - se estiver em bom estado - pode "reduzir os impactos da subida do mar" e oferecer "benefícios às comunidades locais", como segurança alimentar, turismo, entre outros.

Preservar estas zonas também permite evitar as emissões provocadas por sua degradação.

- Energias renováveisAs energias renováveis marinhas provêm do vento (parques eólicos offshore), ou diretamente do oceano, por meio das ondas, das marés e das correntes.

Em um estudo publicado em 2017, pesquisadores do Carnegie Institution for Science estimaram que os parques eólicos em alto-mar podem produzir mais energia do que os de terra firme, e calcularam inclusive que, se fossem instalados ao longo de todo Atlântico Norte, poderiam suprir a demanda atual da humanidade.

"Isto não acontecerá nunca, mas demonstra o potencial desta técnica que não é suficientemente explorada", segundo Gattuso.

As energias marinhas renováveis são uma solução "de uma eficácia extraordinária que poderia ser aplicada rapidamente", acrescenta, apesar de admitir as dificuldades de desenvolver esta tecnologia em um "meio hostil" como o oceano.

- GeoengenhariaEmbora alguns cientistas descartem as técnicas arriscadas, outros trabalham na geoengenharia, convencidos de que se limitar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa não bastará para proteger o planeta.

Parte destas técnicas de manipulação do clima estão relacionadas com o oceano, como a fertilização. Esta consiste em introduzir ferro solúvel no mar para impulsar a produção de fitoplâncton, que absorve o CO2 durante a fotossíntese.

Alguns temem que haja efeitos secundários, porém, assim como para as técnicas que buscam implementar em grande escala uma espuma branca na superfície dos oceanos para refletir os raios de sol.

Outras tecnologias estão um pouco mais avançadas, como a captura e armazenamento de carbono nos fundos marinhos, em desenvolvimento por algumas empresas.

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