Topo

Einstein continua a ter razão, mesmo perto de um buraco negro

26/07/2018 11h23

Paris, 26 Jul 2018 (AFP) - Albert Einstein mais uma vez tinha razão: uma previsão de sua Teoria da Relatividade Geral foi testada com sucesso perto do buraco negro supermaciço localizado no centro da nossa galáxia.

Pela primeira vez, observações feitas com o VLT (Very Large Telescope) no Chile revelaram os efeitos da Relatividade Geral sobre uma estrela passando pelo campo gravitacional intenso deste buraco negro, anunciou nesta quinta-feira (26) o Observatório Europeu Austral (ESO).

"Nós verificamos uma previsão importante da Teoria da Relatividade Geral no meio ambiente de um buraco negro, que é a do Desvio Gravitacional para o Vermelho", declarou à AFP Guy Perrin, um dos "pais" do instrumento Gravity que permitiu alcançar esse resultado, publicado nesta quinta na Astronomy & Astrophysics.

"Mais de 100 anos depois de seu artigo que descreveu as equações da Relatividade Geral, Einstein mostra que mais uma vez tinha razão, em um laboratório muito mais extremo do que ele poderia imaginar", observa o ESO.

Um buraco negro é tão denso que impede toda matéria ou luz de escapar. É chamado de supermaciço quando sua massa varia de alguns milhões a alguns bilhões de massas solares.

O centro da Via Láctea abriga um desses monstros invisíveis, Sagittarius A*, a 26.000 anos-luz da Terra. Sua massa é equivalente a 4 milhões de vezes a do Sol.

Ele está cercado por um aglomerado de estrelas que atingem velocidades vertiginosas quando se aproximam dele.

Apoiando-se no Gravity e em outros dois instrumentos do VLT, a equipe internacional de astrônomos passou a investigar uma dessas estrelas, a S2, e a observou antes e depois de sua passagem mais próxima do Sagittarius A*, que ocorreu em 19 de maio.

O interferômetro Gravity, que levou mais de dez anos para ser projetado, combina a luz coletada por quatro telescópios do VLT europeu instalado no deserto do Atacama, no Chile. Sua resolução é 15 vezes maior que a dos maiores telescópios ópticos.

- Uma bola de tênis na Lua -Em atividade desde 2015, ele já havia observado a passagem da estrela S2 perto do buraco negro em 2016, "mas desta vez, graças a melhorias instrumentais, pudemos observar a estrela com precisão sem precedentes", enfatiza Reinhard Genzel, do Instituto Max Planck para a Física Extraterrestre de Garching (Alemanha), outro pai de Gravity.

A precisão alcançada foi de 50 microssegundos, "o ângulo em que uma bola de tênis colocada na Lua seria vista da Terra", de acordo com o CNRS francês.

Graças a essa precisão, o movimento de S2 em torno de Sagittarius A* pôde ser detectado quase de hora em hora.

Quando a estrela passou a 120 vezes a distância entre a Terra e o Sol do buraco negro (menos de 20 bilhões de quilômetros), sua velocidade orbital atingiu 8.000 km/segundo, ou quase 3% da velocidade da luz. Condições que são suficientemente extremas para que a estrela S2 sofra efeitos significativos relacionados à relatividade geral.

"De acordo com esta teoria, um corpo maciço atrai luz (ele desvia os raios de luz) ou desacelera o tempo. É este último efeito que leva ao Desvio para o Vermelho nas margens de Sagittarius A*", explica Guy Perrin, que é um astrônomo do Observatório de Paris-PSL.

"Quando a estrela se aproxima do buraco negro, parece mais vermelha do que é na realidade porque ocorre uma variação do comprimento de onda da luz, em razão da enorme atração gravitacional do buraco negro", indica.

Esta é a primeira vez que este efeito é medido diretamente no campo gravitacional intenso de um buraco negro.

"Nossas medições são totalmente compatíveis com a teoria de Einstein", que explica a gravidade como uma deformação do espaço-tempo, diz Guy Perrin.

Por outro lado, a teoria clássica da gravitação de Newton, também testada pelos astrônomos e que explica essa força como algo que atua à distância, "não se encaixa em nossas medidas".

Para o ESO, estes resultados são "o culminar de 26 anos de observações" realizadas com os seus telescópios.

O consórcio Gravity é liderado pelo Instituto Max Planck para a Física Extraterrestre e envolve o CNRS, o Observatório Paris-PSL, a Universidade de Grenoble-Alpes e o Centro português de Astrofísica CENTRA.