Topo

Grito de peixe durante sexo pode deixar golfinhos surdos

Reprodução/All For Desktop
Imagem: Reprodução/All For Desktop

Em Paris

20/12/2017 16h28

Uma espécie de peixe mexicano grita tanto para acasalar que pode causar surdez a alguns mamíferos, como os golfinhos, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (20).

A corvina do Golfo da Califórnia emite um chamado de acasalamento parecido com uma "metralhadora", com sons rápidos e múltiplos, indicou o estudo publicado na revista "Biology Letters da Royal Society".

E quando centenas de milhares de peixes se reúnem para se reproduzir uma vez por ano, "o coro coletivo soa como uma multidão aplaudindo em um estádio", assegurou à AFP o coautor do estudo Timothy Rowell, da Universidade de San Diego.

"Os níveis de som são tão altos que podem causar surdez temporária ou inclusive definitiva em mamíferos marinhos observados enquanto caçavam os peixes", acrescentou.

Rowell e seu colega Brad Erisman, da Universidade do Texas, utilizaram um mecanismo especializado para escutar a corvina do Golfo em seu momento de reprodução.

A cada primavera, todos os adultos da espécie migram para um único lugar - o delta do rio Colorado no extremo norte do golfo da Califórnia, no México - para a desova de milhões de exemplares.

O evento reúne durante várias semanas todas as corvinas do mundo em menos de 1% do espaço que ocupam normalmente.

Durante este tempo, as corvinas macho emitem sons que são escutados na superfície, atraindo os barcos de pesca.

Com uma única rede, é possível pescar até duas toneladas de corvinas em minutos, segundo os autores do estudo.

'Vulneráveis' à extinção

Uma frota de 500 barcos pode pescar até dois milhões de peixes a cada temporada, pondo em risco a espécie.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, autora da Lista Vermelha de espécies ameaçadas, a corvina do Golfo é "vulnerável" à extinção.

Rowell e Erisman indicaram em um estudo prévio junto a outros especialistas que escutar os cantos de acasalamento das corvinas podia ajudar os cientistas a contá-las, uma vez que elas não podem ser vistas nas águas turvas do Golfo.

Mas existem provas de que a população de corvinas está diminuindo devido à pesca excessiva, já que isto acontece quando a espécie é capturada a um ritmo mais rápido do que se reproduz.

Erisman e Rowell gravaram os sons dos peixes entre março e abril de 2014, durante uma reunião de cerca de 1,5 milhão de exemplares.

"Estas desovas estão entre os eventos mais barulhentos da natureza", disse Rowell à AFP por e-mail, acrescentando que este é o "som mais alto já registrado entre todas as espécies de peixes".

As frequências dos sons produzidos pelas corvinas se situavam em níveis suscetíveis de danificar o ouvido de focas, leões marinhos e golfinhos, e até mesmo de deixá-los surdos.

É, portanto, "surpreendente" ter visto leões marinhos e golfinhos em volta das corvinas.

O espetáculo de desova, acrescentaram os pesquisadores, merece uma "maior apreciação e conservação".

"Uma abordagem preventiva deve ser adotada pelos gestores das pescas para garantir que esse espetáculo de vida selvagem não desapareça", disse Rowell.