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'Seria muito estranho não existir vida em outros planetas', diz astrônoma premiada

O Square Kilometer Array (SKA), o maior e mais avançado radiotelescópio do planeta, capaz de detectar sinais de vida extraterrestre em lugares distantes. Na imagem, telescópios construídos na Austrália - Mike Hutchings /Reuters
O Square Kilometer Array (SKA), o maior e mais avançado radiotelescópio do planeta, capaz de detectar sinais de vida extraterrestre em lugares distantes. Na imagem, telescópios construídos na Austrália Imagem: Mike Hutchings /Reuters

23/03/2017 19h32

A astrônoma chilena María Teresa Ruiz, premiada pela Unesco, está convencida de que na próxima década haverá notícias de vida em outros planetas, uma descoberta que "mudará o olhar sobre a humanidade".

"Seria muito estranho que não houvesse, existindo tantas estrelas na galáxia e tantas galáxias no Universo. Pode ser uma vida um pouco diferente da nossa, mas eu acredito que haja", disse antes de receber, nesta quinta-feira (23) em Paris, o "Prêmio para Mulheres na Ciência", oferecido anualmente pela Unesco e L'Oreal a cientistas.

Ruiz, de 70 anos, recentemente nomeada a primeira mulher presidente da Academia de Ciências do Chile, colabora em vários projetos para buscar planetas extrassolares.

"Todos os grandes telescópios que vão começar a abrir os olhos na próxima década têm dentro de sua justificativa científica buscar planetas extrassolares", explica a atual diretora do Departamento de Astronomia da Universidade do Chile, em Santiago.

E a provável descoberta de vida "mudará nosso olhar sobre a Humanidade", porque uma coisa é "suspeitar e outra muito distinta é comprovar", afirma.

Esta cientista foi a primeira mulher a se graduar em Astronomia no Chile e a receber o Prêmio Nacional de Ciências.

Contribuiu também para a instalação do radiotelescópio gigante Alma, no deserto do Atacama.

1.out.2013 - A última antena do ALMA (Grande Conjunto de Radiotelescópios do Atacama, na sigla em inglês) foi entregue ao Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) seis meses após sua inauguração no Chile - a área se estende por 16 quilômetros, indo do planalto do Chajnantor ao deserto do Atacama. Com 12 metros de diâmetro, a 66ª antena parabólica de rádio de alta precisão completa a rede que vai operar em conjunto, como se fosse um único telescópio, nos comprimentos de onda do milímetro e submilímetro - trabalhando dia e noite, as antenas serão capazes de penetrar nas nuvens de pó do espaço, algo impossível para os telescópios normais - C. Pontoni/ESO - C. Pontoni/ESO
Antena do ALMA (Grande Conjunto de Radiotelescópios do Atacama, na sigla em inglês)
Imagem: C. Pontoni/ESO

O prêmio foi dado a María Teresa pelo conjunto de sua trajetória, destacando o descobrimento do "Kelu 1", uma "estrela-anã café" - similar a um exoplaneta, porém mais fácil de observar -, assim como seu trabalho com as estrelas-anãs brancas, que permitiu estimar a idade da Via Láctea em oito bilhões de anos.

"A graça de Kelu é que apareceu quando não estava procurando por ela" no telescópio, explicou. Seu nome significa "vermelho" no idioma dos mapuches do Chile.

Ser mulher tem suas vantagens e desvantagens na carreira, disse.

"As mulheres têm algumas habilidades que tornam a nossa vida mais fácil". Assim, "ser interativa é importante na Ciência, da mesma maneira que ter o ego melhor treinado, de forma que não seja um impedimento para trabalhar junto e progredir em um tema".

Entretanto, lamenta que a sociedade "não esteja preparada para facilitar" que as mulheres cientistas brilhantes, na suposta idade de ter filhos, possam se dedicar ao trabalho e dar sua contribuição para um "mundo melhor".

Este prêmio é outorgado desde 1998 e também concede 100.000 euros. Ela afirma que uma parte deste dinheiro será destinado "à promoção da Ciência entre as meninas" nos centros escolares do Chile por meio de iniciativas próprias e com associações que já trabalham neste âmbito.