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Desafios físicos e psicológicos dos pilotos a bordo do Solar Impulse 2

Solar Impulse/AFP
Imagem: Solar Impulse/AFP

Em Abu Dhabi

09/03/2015 16h18

Para além da façanha tecnológica que representa o avião Solar Impulse 2, a volta ao mundo também é um desafio físico e psicológico para os dois pilotos da missão.

Os pilotos, de origem suíça, ficarão por cinco meses no comando da aeronave. Eles insistiram no "desafio humano" que representa a volta ao mundo, iniciada nesta segunda-feira e velocidades baixíssimas para um avião.

A princípio, os primeiros 400 km -de Abu Dabi a Mascate (Omã)- devem ser feitos em 12 horas, o que representa uma velocidade média de 33 km/h.

"O desafio é mais humano do que técnico", disse à AFP o astronauta André Borschberg, de 63 anos.

O piloto deve permanecer durante horas dentro de uma cabine mínima e despressurizada, exposta a temperaturas que oscilam entre 40º C e -40º C.

"Tecnicamente, temos um avião que pode voar à noite e de dia, com uma resistência quase infinita", explicou o piloto. "Temos um avião autossustentável em termos de energia. A questão é como fazer com que o piloto fique 'autossustentável', quando precisar sobrevoar o oceano durante uma semana".

A etapa mais longa da volta ao mundo, de Nanquim (China) até o Havaí, no oceano Pacífico, deve durar cinco dias.

"Quando se tenta algo que mais ninguém já tenha tentado, [não se pode] saber de antemão quais serão os problemas", disse Borschberg.

"Diante do desconhecido, devemos encontrar as soluções, sejam técnicas, humanas ou logísticas", disse Bertrand Piccard, de 57 anos, o outro piloto a bordo do Solar Impulse 2.

A propósito, Piccard descende de uma família de cientistas e aventureiros suíços e foi a primeira pessoa a dar a volta ao mundo sem escalas, em 1999.

"Yoga e auto-hipnose para experiência histórica"

O Solar Impulse 2 é composto de mais de 17 mil células solares que, por meio de algumas baterias de lítio, abastecem com energia do sol os quatro motores elétricos de hélice.

No total, ao ser impulsionado pela energia solar, o avião percorre cerca de 35 mil km a uma velocidade relativamente modesta (entre 50 km/h e 100 km/h), mantendo-se a 8.500 metros de altitude.

Mesmo medindo apenas 3,8 m², e o piloto não podendo se mover, a cabine de voo é confortável.

"Fazemos nossas necessidades, nos limpamos com toalhinhas, comemos e bebemos sentados", explicou Piccard. "É possível reclinar o banco quando quiser descansar. Nesse momento, colocamos o avião no piloto automático, conservando o controle do aparelho e seguindo em contato com os controladores aéreos da missão, situados em Mônaco", acrescentou.

Dentro da cabine, não há nem calefação, nem ar condicionado, por isso a dupla de pilotos teve de seguir um treinamento especial.

"Fisicamente, estamos prontos. André se prepara com ioga e auto-hipnose [para] esta experiência histórica", explicou Piccard à AFP, 48 horas antes de a aeronave ter decolado.

O treinamento permite que se durma profundamente durante um tempo relativamente curto, por exemplo 20 minutos, e a sensação é de que o descanso durou uma noite.

"A travessia dos oceanos Pacífico e Atlântico em cinco dias e cinco noites é o momento-chave desta aventura", segundo informou um comunicado da equipe do Solar Impulse 2. "Temos um objetivo muito ambicioso, mas somos modestos, dada a magnitude do desafio", concluiu.