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Cientista japonesa chora ao defender estudo com células pluripotentes

Em Tóquio

09/04/2014 10h26

A jovem cientista japonesa Haruko Obokata chorou ao defender nesta quarta-feira (9)a existência das células Stap, em sua primeira aparição ante as câmeras desde que foi acusada de irregularidades em sua pesquisa sobre esta descoberta potencialmente revolucionária.

"Talvez tenha ultrapassado minha competência ao assinar um artigo na revista Nature", admitiu a cientista, que dirige uma unidade de pesquisas no instituto público japonês Riken.

No entanto, apesar de reconhecer os erros na forma em que seus trabalhos foram apresentados na publicação britânica no final de janeiro, Obokata rejeitou as acusações de falsificação e imitação.

"O fenômeno das células Stap é uma realidade que eu verifiquei em mais de 200 oportunidades", assegurou.

"Fiz essas pesquisas para que algum dia as Stap sejam úteis para alguém. Eu fiz experiências todos os dias", insistiu.

Foi a primeira vez que a cientistas se expressava diretamente ante os meios de comunicação desde que explodiu a polêmica.

Entenda o caso

Obokata, suposta criadora das promissoras células pluripotentes denominadas Stap, foi acusada no início do mês de de irregularidades e ameaçada com punições.

"Ao misturar imagens procedentes de experiências diferentes e utilizar dados anteriores, a professora Obokata atuou de uma forma que não pode ser permitida", afirmou o comitê de investigação de seu trabalho depois de detalhar os problemas detectados nos resultados da pesquisa desta mulher de 30 anos em um ambiente científico dominado por homens maduros.

"Isto não pode ser explicado apenas por sua imaturidade", acrescentou. "A atuação de Obokata e a forma desleixada como geriu seus dados nos levam a crer que carece não apenas de ética, mas também de humildade e integridade", ressaltou.

Os trabalhos apresentados recentemente por Obokata na revista britânica "Nature" eram considerados muito promissores para a medicina regenerativa.

"Mas, levando em consideração a pobreza das notas de seu laboratório, é absolutamente evidente que vai ser muito difícil para outra pessoa seguir e entender seus experimentos, o que representa um sério obstáculo para uma troca saudável de informações", destacou o comitê.

Em janeiro ela publicou, em duas partes, na revista científica britânica "Nature" uma tese que apresenta um método de criação de células pluripotentes a partir de células maduras.

O procedimento, que à primeira vista parecia potencialmente revolucionário, consistia em estimular as propriedades de defesa de células submetidas a um estresse particular para fazer com que retornassem a um estágio anterior, quase embrionário, sem passar por manipulações genéticas.

Mas pouco depois um dos coautores pediu a retirada dos resultados dos trabalhos, alegando que parte dos dados publicados era falsa, o que desencadeou um escândalo no Japão.

Em consequência, foi criado um comitê de investigação para analisar as falhas apontadas (imagens manipuladas, retiradas de outros pontos, etc) que apontou duas ações fraudulentas.

Publicação

"Se forem confirmadas as irregularidades destacadas pelo comitê investigador depois de eventuais procedimentos de apelação, eu recomendarei que a publicação seja retirada. Então serão adotadas sanções firmes, mas justas, em conformidade com as recomendações de uma comissão disciplinar", advertiu nesta terça-feira o presidente do Riken, o prêmio Nobel Ryoji Noyori.

As conclusões do comitê de investigação não significam, no entanto, que as células Stap sejam uma pura invenção e que nunca existiram.

"Determinar se as células existem ou não exige estudos adicionais que vão além das competências do comitê de investigação, que tinha como missão apenas determinar se aconteceram ou não irregularidades na tese que apresenta os resultados dos trabalhos", insistiu um dos membros do comitê, o professor Shunsuke Ishii.

A responsável pelas irregularidades é a pesquisadora Obokata, mas os outros participantes deveriam ter exercido de maneira melhor as funções de controle, disse.

A jovem, elogiada pelos meios de comunicação quando apresentou seus trabalhos, atualmente está desaparecida.

Se, como Obokata afirma, este estudo permite despertar o caráter pluripotente de células através de um processo relativamente simples que estimularia as propriedades de defesa de células submetidas a um estresse particular, seria uma verdadeira revolução científica para a medicina regenerativa.