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Radiação de viagem a Marte sobe risco de câncer fatal em 5%

Em Washington

30/05/2013 21h16

Os astronautas que forem a Marte poderão ser expostos ao limite de radiação aceitável para um ser humano e talvez até mais, informou a Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), que considera esse tema fundamental para preparar uma missão tripulada ao planeta vermelho.

Pesquisadores da Nasa analisaram a radiação medida por um instrumento a bordo do MSL (Mars Science Laboratory), que transportou o robô Curiosity durante seu voo da Terra até Marte, entre novembro de 2011 e agosto de 2012, informou um relatório divulgado na revista Science nesta quinta-feira (30).

"O nível de exposição à radiação que medimos está exatamente no limite, ou talvez além do que seja considerado aceitável pela Nasa e por outras agências espaciais para uma carreira inteira como astronauta", disse Cary Zeitlin, do Instituto de Pesquisas Southwest, um dos autores do estudo.

"Em termos de acúmulo das doses de radiação, uma viagem a Marte equivale a se submeter a um escâner ou Tomografia Axial Computadorizada [TAC] de corpo inteiro a cada cinco, ou seis dias", afirmou, acrescentando que isso não inclui a permanência na superfície do superfície do planeta vermelho, onde a radiação pode ser significativa de acordo com as proteções disponíveis.

O pesquisador ressaltou, porém, que "esses limites dependem da nossa compreensão dos riscos associados para a saúde humana dessa exposição aos raios cósmicos. E, por enquanto, essa compreensão é muito limitada".

"Compreender a radiação no interior de uma nave espacial que leve tripulações a Marte e a outros destinos distantes é essencial para preparar esse tipo de missão", completou Zeitlin.

Câncer fatal

Com base nas medições do instrumento a bordo do MSL, e sem novos meios mais rápidos de propulsão, os astronautas receberiam a maior parte da radiação durante o voo de regresso a Marte, explicaram os cientistas - o correspondente a 662 milisieverts (mSv).

A Nasa avalia que a exposição de um astronauta à radiação não pode ultrapassar os 1.000 mSv ao longo de sua carreira, pois poderia aumentar de 3% a 5% o risco de morte por câncer - o limite de risco deve ser de até 3%, afirma a Nasa.

A probabilidade "normal" de morrer de câncer na população em geral é de 22%, aproximadamente, disse Stephen Davison, responsável pelo programa de Ciências Biológicas do Espaço da Nasa.

No espaço, os astronautas estão expostos a dois tipos de radiação: os raios cósmicos galácticos e as partículas que emanam do Sol.

Os raios cósmicos estão dotados de uma energia muito alta, que não é contida pela proteção, com a qual as naves espaciais atualmente em desenvolvimento estão equipadas. Esse tipo de proteção pode ser, contudo, um escudo eficaz contra as partículas solares, em geral com muito menos energia, destacou Zeitlin.

A intensidade da radiação solar varia com o ciclo de atividade do Sol, que foi baixa durante o voo do MSL.

Para Robert Zubrin, um engenheiro nuclear que preside a Mars Society, "os resultados desse estudo mostram que a radiação não é um obstáculo insuperável" para uma missão tripulada a Marte.

"Isso confirma que o risco vinculado à radiação é aceitável", avaliou. "Francamente, a radiação representa apenas uma pequena parte do risco de uma missão a Marte", disse o cientista.