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Achados fósseis com estranho mosaico de traços humanos e de chimpanzés

Por Kerry Sheridan

Em Washington

12/04/2013 12h42

Ela andava com os joelhos juntos, tinha os calcanhares como os de um chimpanzé, mas a postura ereta de um ser humano, indícios que fazem dela evidência mais completa encontrada até hoje do ancestral mais próximo do ser humano remoto, afirmaram cientistas nesta quinta-feira.

O estranho caminhar do 'Australopithecus sediba', um hominídeo de dois milhões de anos, faria um ser humano moderno implorar por uma prótese de joelho ou de quadril, mas os cientistas se surpreenderam em como a evolução equipou a espécie para escalar árvores e caminhar.

O último estudo sobre um conjunto de ossos fósseis incomuns, encontrados na África do Sul, revelam uma criatura ancestral com braços longos e ombros primitivos como os de um símio, mas pernas que poderiam ser estendidas, mãos habilidosas e um polegar similar ao humano, capaz de agarrar com precisão.

"Uma combinação muito estranha", explicou Jeremy DeSilva, da Universidade de Boston, principal autor de um dos seis artigos publicados na revista científica Science e que descrevem o mais completo conjunto de ossos já encontrado de um hominídeo antigo.

Segundo especialistas, as recentes descobertas fazem distinções a respeito de Lucy, a fêmea de um hominídeo descoberta em 1974 e cuja espécie, 'Australopithecus afarensis' vagou pelo leste da África 3,2 milhões de anos atrás.

"O que estes artigos sugerem é que 'sediba' provavelmente não veio da espécie leste-africana da qual Lucy se originou", afirmou Lee Berger, que em 2008 descobriu o sítio fóssil de Malapa, ao norte da de Johannesburgo, onde escavações ainda são realizadas.

O 'Australopithecus sediba' caminhava de um jeito nunca visto pelos pesquisadores; tinha uma caixa torácica e uma coluna vertebral que é "muito similar à dos símios na parte de cima e muito similar às dos humanos na parte de baixo", afirmou Berger, professor da Universidade sul-africana de Witwatersrand.

Os ossos de cinco indivíduos forneceram alguns dados inéditos: a primeira patela já encontrada, o membro superior mais bem conservado e um conjunto completo de pé, perna e coxa de uma fêmea adulta, que permitiram decodificar a forma como caminhava.

DeSilva explicou que a fêmea adulta de 'Australopithecus sediba' era hiperpronada, o que significa que seus pés se inclinavam para dentro em contato com o solo.

Sem uma base calcânea forte como a dos humanos, ela pisava com a parte externa do pé, fazendo seus ossos da canela, do joelho e da coxa girarem para dentro, enquanto ela caminhava a passos largos.

Soa doloroso? Para nós, talvez. Mas talvez não para esta fêmea, chamada pelos cientistas de MH2.

"Eles têm a anatomia que lhes permite fazer isto e fazê-lo bem", explicou DeSilva à AFP.

A patela tem uma grande saliência que a mantém no lugar e, provavelmente, ajudou MH2 e seus companheiros a sobreviverem em um mundo perigoso.

Especialistas acreditam que as criaturas estão bem preservadas por terem morrido após caírem em um cavidade que leva água da superfície para o subsolo. Até agora, eles escavaram restos de uma fêmea adulta, de um jovem adulto, de um bebê, de uma criança pequena e de outro adulto.

"Este pode ter sido muito bem um grupo familiar", afirmou DeSilva. "Eu nunca tinha visto fósseis tão bem preservados. É irreal. Eles são assombrosos", acrescentou.

Artigos detalhando as mãos e os dentes do 'Australopithecus sediba' já foram publicados e demonstraram que eles tinham uma dieta de frutas, folhas e cascas de árvores.

Outros estudos na edição atual da Science oferecem um olhar mais detalhado sobre suas mandíbulas, dentes, caixa torácica, parte superior dos braços e espinha.

O trabalho faz parte de um projeto em andamento, conduzido por um grupo internacional de cientistas, do Instituto de Estudos Evolutivos da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, e outras 15 instituições ao redor do mundo.