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Obama lança iniciativa de R$ 200 mi para mapeamento do cérebro

Em Washington

02/04/2013 16h56

O presidente Barack Obama anunciou nesta terça-feira (2) um projeto de US$ 100 milhões (cerca de R$ 201,9 milhões) para mapear os mistérios do cérebro humano, tendo por objetivo buscar a cura para doenças como o mal de Alzheimer.

A iniciativa - financiada com dinheiro do Orçamento de Obama, que será revelado na próxima semana - visa ajudar a descobrir tratamentos para curar ou prevenir doenças cerebrais atualmente incuráveis, além do Alzheimer, o Parkinson e a epilepsia, assim como enfrentar traumatismos crânio-encefálicos e patologias psiquiátricas.

"O projeto dará aos cientistas as ferramentas necessárias para obter uma imagem do cérebro em ação e permitirá, ao menos, compreender como pensamos, aprendemos ou memorizamos", declarou o presidente na Casa Branca, destacando que o cérebro "ainda é um enorme mistério que resta elucidar".

Obama insistiu na importância para o crescimento econômico de investir em pesquisas, mesmo em um contexto de restrições orçamentárias.

"A cada dólar gasto no projeto de sequenciamento do genoma humano, nós conseguimos um rendimento de US$ 140", afirmou o presidente em alusão ao bem sucedido esforço lançado em 1990, que custou US$ 3,8 bilhões à época (R$ 7,68 bilhões).

O novo projeto, denominado BRAIN (Brain Research through Advancing Innovative Neurotechnologies), deve acelerar o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias que permitiriam produzir imagens das interações entre as células cerebrais e a complexidade de circuitos neurais na velocidade do pensamento, explicou a Casa Branca.

Estas tecnologias abririam novas possibilidades para explorar a forma como o cérebro memoriza, processa, armazena e recupera enormes quantidades de informação, oferecendo um novo panorama sobre os vínculos complexos entre as funções cerebrais e o comportamento humano.

"O computador mais poderoso do mundo não é tão intuitivo quanto o que temos desde que nascemos", afirmou Obama em seu discurso na Casa Branca.

Verba de instituições privadas

Vários institutos particulares de pesquisa estão envolvidos no projeto, dirigido pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, em inglês), pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (vinculada ao Pentágono) e pela Fundação de Ciência Nacional.

Entre eles, está o Instituto Allen, criado pelo milionário fundador da Microsoft, Paul Allen, que destinará US$ 60 milhões (R$ 121,25 milhões) ao ano para o projeto; o Howard Hughes Medical Institute, maior instituição de pesquisa médica privada, com outros US$ 60 milhões, o Salk Institute, com US$ 28 milhões (R$ 56,5 milhões); e a Fundação Kavli, com US$ 4 milhões (R$ 8,1 milhões).

Segundo declarações de cientistas envolvidos no projeto ao jornal The New York Times, a pesquisa demandará recursos federais da ordem de US$ 300 milhões ao ano, isto é, US$ 3 bilhões em uma década. O Congresso deve aprovar ainda o desembolso dos US$ 100 milhões anunciados hoje por Obama.

Apesar dos avanços para desvendar o funcionamento do cérebro, ainda se desconhecem muitas coisas sobre este órgão de 1,3 quilo em média, dotado de 86 bilhões de neurônios, que produzem bilhões de conexões em forma de sinais elétricos ou químicos.

Especialistas em nanotecnologia e neurologistas pensam que as tecnologias agora são capazes de fornecer uma visão mais completa do cérebro.

Em um estudo publicado em 2012 na revista Neuron, vários cientistas propunham mapear o cérebro usando dispositivos do tamanho de uma molécula, capazes de registrar e medir as atividades cerebrais em nível celular.

A iniciativa norte-americana divulgada por Obama não foi a única anunciada este ano sobre estudo do cérebro. Em janeiro, foi lançado um projeto europeu com um orçamento de 1 bilhão de euros (US$ 1,283 bilhão, ou R$ 2,5 bilhões) para uma pesquisa chefiada por um grupo suíço, destinada a produzir um modelo do cérebro baseado em simulação de um supercomputador, usando as pesquisas feitas até agora sobre as funções cerebrais.

No evento de lançamento na Casa Branca, Obama foi apresentado como o "cientista-chefe" pelo diretor do NIH, Francis Collins - e sua administração não hesita em demonstrar que, apesar dos tempos de austeridade, os investimentos em ciência são essenciais.

"Estou feliz por ter sido promovido a cientista-chefe - levando-se em conta minhas notas em física, não sei se eu merecia", disse o presidente. "Mas dou à ciência a importância adequada, então, talvez, eu tenha algum crédito."