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Estudo genético revela que a oliveira tem raízes curdas

Em Paris

07/02/2013 10h37

 

Vista por alguns como o símbolo da paisagem e da cozinha mediterrâneas, a oliveira na verdade têm suas raízes domésticas em regiões curdas, segundo estudo que quer por fim a um longo debate.

A colheita de oliveiras selvagens (oleastros) foi documentada do Oriente Próximo, na região do entorno da antiga Palestina e da Jordânia, à Espanha, desde o período Neolítico, iniciada cerca de 10 mil anos a.C.

A árvore foi, então, domesticada em um processo que, segundo alguns estudiosos, teria começado no Oriente Médio há cerca de 6.000 anos. No entanto, outros especialistas forneceram evidências da domesticação simultânea de diferentes cultivos de oliveiras em todo o Mediterrâneo.

Agora, uma equipe internacional de cientistas tem usado dados genéticos, datação molecular, registros de fósseis e modelagem climática para determinar que as raízes desta árvore simbólica se encontram em um lugar mais ao norte e ao leste do que muitos haviam pensado.

"Nós concluímos que o Mediterrâneo Ocidental não foi o grande centro primário de domesticação da oliveira", escreveram cientistas em artigo no periódico Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

"O berço da domesticação primária da oliveira localiza-se no Nordeste do Levante [Mediterrâneo Oriental]", disse o coautor do estudo, Guillaume Besnard, do Centro Nacional de Pesquisas Científicas francês (CNRS, na sigla), referindo-se à região onde hoje fica o território curdo, entre a Síria e a Turquia.

De lá, as oliveiras domesticadas, provavelmente, se espalharam pelo Mediterrâneo Oriental e pelo Chipre, rumo a oeste para Turquia, Grécia, Itália e o restante do Mediterrâneo, "paralelamente à expansão das civilizações e do comércio nesta parte do mundo", acrescentou o estudo.

Fim do debate

A oliveira domesticada, Olea europaea, é central nas mitologias greco-romanas e do início do Cristianismo, e o ramo da oliveira se mantém até hoje como um símbolo de paz.

Os antigos gregos acreditavam que Atena, deusa da guerra e da sabedoria, tinha presenteado os atenienses com as primeiras oliveiras domesticadas, das quais todas as demais se originaram.

"A importância da oliveira cultivada para a vida das pessoas transformou esta espécie em um símbolo da literatura sagrada antiga, e as origens de seu cultivo costumam ser fonte de controvérsias", acrescentou o artigo. 

"Segundo nosso estudo, a origem materna da maioria [ceca de 90%] das oliveiras cultivadas hoje fica claramente no Oriente Próximo", onde hoje está o Oriente Médio, acrescentou Besnard. "Não acho que alguém vá discutir isto nunca mais."

Para o estudo, a equipe coletou amostras de dados de DNA de 534 tipos de oliveiras cultivadas e de 1.263 oleastros de 108 locais, bem como 49 árvores de subespécies subsaarianas. Os cientistas também concluíram que as três principais linhagens de oliveira tiveram um ancestral comum, pelo menos 1,5 milhão de anos atrás, disse Besnard.

A oliveira é denominada "árvore da vida" pelo sustento que proporciona e por seus usos não alimentares, que variam de matéria-prima para sabão ao óleo usado para iluminação.

Atualmente, as oliveiras produzem 2,4 milhões de toneladas de azeite só na Europa, sendo a Espanha o principal produtor no continente. Elas são cultivadas em locais tão diferentes quanto o sul da África, a Austrália, o Japão e a China.