Tilt: A Lenovo tem uma série de produtos que funcionam ou com a Alexa ou com o Google Assistente. Como vocês escolhem entre cada assistente virtual para produtos distintos e como negociam com essas empresas?
Thorsten Stremlau: Em todos os aspectos das tecnologias que trabalhamos, adotamos uma estratégia que chamamos de abraçar e expandir. Há líderes de mercado nessa indústria: Microsoft em sistemas operacionais e plataformas de nuvem como o Azure; a Amazon, com o AWS (Amazon Web Services) e a Alexa; e o Google também é líder em várias dessas tecnologias. Não é realista para a Lenovo entrar nesses mercados. Por isso abraçamos a tecnologia desses líderes, mas as estendemos com nossa própria tecnologia. Criamos em cima da tecnologia deles para fazer melhor, para tornar mais fácil ao usuário e melhorar o uso.
Por exemplo, temos um relógio inteligente, que usa uma parceria e a estende para um espaço de baixo custo, atendendo uma necessidade de usuário que não foi identificada pelo Google, Amazon ou Microsoft. Temos um time dedicado de experiência do consumidor que busca o dia inteiro o feedback de produtos da Alexa, do Google, Microsoft, Chrome, dos nossos produtos. Olhamos fóruns, as análises de usuários na Amazon, recebemos todas essas informações e, baseado no retorno do público, determinamos que esse é um bom produto e que vamos usá-lo.
Tilt: Atualmente, qual é a assistente virtual mais avançada para você?
Thorsten Stremlau: Cada uma delas tem pontos fortes em diferentes áreas. Depende muito no ecossistema que uma família já tem em casa. Uma "família Apple" usa FaceTime, usa Siri e está usando o iPhone provavelmente vai se prender a isso. Uma família que adotou a Alexa provavelmente vai se prender a isso pela integração com a Amazon, com as músicas e outros recursos. De novo, nós apenas abraçamos uma preferência de ecossistema definida pelo usuário. Não há nada de mais positivo, da nossa parte, que tenhamos visto em cada um desses [concorrentes].
Tilt: A Lenovo vende esses produtos nos EUA, mas não no Brasil. Começamos a receber alto-falantes inteligentes neste ano. Existe o interesse de trazer esses produtos para cá? E a Lenovo vê o Brasil e países em desenvolvimento como mercados para essas novidades?
Thorsten Stremlau: Deixa eu ser bem claro: o Brasil e até a América Latina são regiões extremamente importantes para nós. Eu sou alemão, mas tem alguns produtos que nunca lançaram na Alemanha e temos nos EUA e na China, ou que lançamos em outros lugares. Um exemplo é que lançamos vários produtos da Motorola no Brasil.
Tilt: A Motorola é a segunda maior no nosso mercado de celulares...
Thorsten Stremlau: E estamos trabalhando para virar o número um! Tem muitos produtos da Motorola que lançamos primeiro no Brasil e depois vão para os Estados Unidos e outros lugares. Cada produto, seja um assistente inteligente, um relógio inteligente, um Think Pad, quaisquer que seja, fazemos uma análise de mercado muito cuidadosa. Segurança e conformidade são da maior importância para nós. Isso significa que temos que passar por todas as certificações, toda a legislação de importação e tudo que acompanha isso, o que tipicamente determina se conseguimos lançar em um país.
Quando lançamos um celular da Motorola em um país, temos que pagar de US$ 50 mil a US$ 60 mil dólares em custos de certificação. Não inclui os impostos de importação, ou os custos de fabricação. Temos que considerar essas coisas sempre que vamos lançar em qualquer lugar do mundo. Tem mais um aspecto, que é: quão estratégico aquele produto é para nós naquele país? A nossa posição de liderança com a Motorola significa que o Brasil provavelmente será um país onde lançamos muitos produtos dela, em relação a desktops tradicionais.
Tilt: Você falou do processo de certificação. Como você avaliaria o brasileiro? É diferente de outros países ou similar? Imagino que cada país tenha suas especificidades.
Thorsten Stremlau: É caso a caso. Uma coisa que fazemos é trabalhar muito de perto no Brasil. Temos fábricas, pesquisa e desenvolvimento aqui para tornar a certificação mais fácil. Não é mais fácil ou difícil. Eu diria, como você comentou, específico para cada caso. Mas há outros países, não vou citar nomes (risos), em que é bem difícil certificar, mas o Brasil não está no topo dessa categoria.