Moto G, meu 1º smartphone

Com celular baratinho, Motorola tocou ponto G do brasileiro; presidente comenta 100 milhões de vendidos

Helton Simões Gomes De Tilt, em São Paulo

Os iPhones podem até ter dado a largada para os smartphones dominarem o mundo e os Galaxy S trouxeram inovações que mudaram o mercado, mas o primeiro celular inteligente de muito brasileiro foi um Motorola. Agora, o Moto G, que há anos ganhou o coração de tantos consumidores, atinge uma marca estrondosa: 100 milhões de unidades vendidas. E, brasileiros, vocês foram responsáveis por 40% desses aparelhos.

Ao criar o Moto G, a Motorola tocou nosso ponto de satisfação: um celular com jeitão de top, como sempre inacessíveis para muita gente, com um preço que cabe no bolso. Nos últimos três anos, um a cada seis celulares vendidos no país é dessa linha, e tanto sucesso fez dele o smartphone mais vendido da história da Motorola.

O presidente da Motorola no Brasil, José Cardoso, prefere dizer que o dispositivo "preencheu um espaço". Segundo ele, ouvir o consumidor é o segredo. Foi assim que a função de TV digital foi expandida para outros aparelhos e a família G ganhou filhotes focados em bateria (Moto G Power) e câmera (Moto G Plus). Ainda hoje, diz o executivo, dá para avançar fazendo o que o povo quer.

Tem muita oportunidade de desenvolvimento. Dentro da categoria do Moto G Power, pensamos em como podemos fazer para a bateria durar uma semana, já que hoje dura quatro dias. Ou ainda: podemos colocar um carregador que abastece o celular em cinco minutos
José Cardoso, presidente da Motorola Brasil

Nascido na sombra do X

O ano era 2013. Após ser adquirida por US$ 12,5 bilhões, a Motorola lançava seu primeiro smartphone na casa nova, o Google. A novidade é que o dispositivo ouviria constantemente seu dono e, ao menor sinal de um "Ok, Google", ativaria um assistente pessoal. Era o embrião do Google Assistente de hoje. A expectativa era tão alta que o presidente do Google, Eric Schmidt, desfilava por aí com o smartphone. Então, o Moto X foi para as lojas e... vendeu centenas de milhares de unidades, enquanto seus concorrentes, os iPhones 5s e 5c e Galaxy S4, eram vendidos aos milhões.

A outra aposta daquele ano era o Moto G, uma versão simplificada do Moto X, que só acessava 3G e wi-fi (nada de 4G). O lance é que vinha com tela similar, boas câmeras, bateria competente e rádio FM. Parece pouco, mas, ao preço de R$ 650, isso era uma revolução. E foi ele que pegou.

Tilt - Na época do lançamento, o Moto G era encarado como uma versão do Moto X. No fim das contas, ele sobreviveu e o Moto X virou história. O que fez esse aparelho perdurar por tanto tempo?

José Cardoso - O X tinha uma missão diferente. Ele é a base para tudo que existe hoje do ponto de vista de voz. A grande inovação dele era o 'Ok, Google'. Ele cumpriu o papel de trazer o Google Assistente, uma coisa que estava começando.

Mas, para o mercado brasileiro, o que todo mundo estava procurando era a franquia G. Naquela época, ou você tinha produtos muito caro e com funções novas, ou você ia para produtos extremamente simples, que nem eram smartphones, mas muito telefones bem limitados em performance. Consumidores queriam entrar no mundo do smartphone, mas não tinham opção. Esse foi o grande negócio do G. Lembro que varejistas diziam, 'cara, tá vendendo tudo'. A demanda foi muito maior do que a gente planejou, porque ele preencheu um espaço em que o consumidor estava ávido.

O Moto G foi para consumidor brasileiro, em muitos casos, o primeiro smartphone que a pessoa teve de verdade, que dava acesso a redes sociais, que permitia tirar foto com qualidade. Ele mostrou para muita gente o que era a experiência de smartphone, ele criou essa categoria intermediária no Brasil. Por isso, ainda hoje, é a franquia mais conhecida, estável e consistente no Brasil. Você entra em alguns sites e tem a categoria "Moto G".

Celular com DNA brasileiro

Tilt - Em 2013, smartphone ainda era novidade para muita gente aqui no Brasil. Como o Moto G inovou e mudou esse panorama?

José Cardoso - Naquela época, a experiência de GPS, foto, redes sociais, tudo isso era muito limitado. Tinha nos celulares premium ou não tinha [nos outros celulares]. O consumidor de G tem muito carinho pela Motorola e pela franquia, porque eles veem valor de entregar essas funcionalidades por um preço justo.

Tilt - Como ele seria o celular de muita gente, vocês pensaram que teriam de colocar funções que as pessoas usavam em outros aparelhos, como rádio FM e TV digital?

José Cardoso - A gente realizou muitas pesquisas para trazer essas funcionalidades. Você lembrou de exemplos no software, mas vou te dar um exemplo do hardware. O G era arredondado na traseira. Parece um negócio simples, mas isso era muito valorizado porque era mais fácil de segurar o celular, dava sensação de segurança. E, para fazer isso, teve muita pesquisa. TV, rádio, o acabamento arredondado, tudo isso foi feedback do consumidor. O G veio preencher muitas lacunas. Ele tornou tangível muita coisa que não existia ou existia em uma categoria inacessível.

Hoje, chegamos a 100 milhões de aparelhos vendidos, e o Moto G é o smartphone mais vendido na história da Motorola. O Brasil, pelo peso no histórico de vendas, contribui com muitos dos desenvolvimentos do Moto feitos pela nossa área de pesquisa e desenvolvimento, em Jaguariúna (SP). Isso é muito legal. Quando a gente fala do chacoalhar para acender a lanterna e do toque com três dedos na tela para tirar uma captura de tela sem apertar botão, muitas dessas inovações, assim como o DTV [TV digital], foram feitas aqui.

Dos 100 milhões, 40% foram vendidos aqui. O consumidor se identifica muito com o produto, porque muito dele é feito por brasileiros e pensado por eles. Acabamento, tamanho de tela, cor, essas variações das franquias (o G Power, o G Play), as câmeras. Muito disso tem feedback do consumidor brasileiro.

Ouvindo o consumidor

Tilt - O que queria o consumidor brasileiro?

José Cardoso - O consumidor brasileiro é muito consciente na hora da compra. Deve ter equilíbrio entre o bolso dele e o que ele está comprando. E esse é o ponto do G. Ele tenta trazer equilíbrio entre inovação e o que o consumidor vai gastar. Ainda que tenha vontade de ter coisas específicas, o consumidor brasileiro não dispensa bateria, velocidade do processador e câmera.

O consumidor não quer inteligência artificial. Ele quer, na verdade, que, ao ligar a câmera, a inteligência artificial detecte que está ocorrendo um por do sol e já ajuste para fazer a captura melhor naquele cenário. Quer também a visão noturna. Essas coisas são inteligência artificial, mas estão refletidas na câmera. A gente precisa traduzir o que é inteligência artificial para o consumidor de uma forma tangível. Se não mostrar que tem um benefício, um valor, não funciona.

Na época do lançamento do Moto G, o Google tinha o desejo de democratizar o acesso ao smartphone [hoje, a Motorola pertence ao grupo chinês Lenovo]. E, no Brasil, o Moto G foi o celular que fez isso. Nesse ponto, a Motorola fez a melhor leitura do consumidor. Hoje, os fabricantes já têm produtos em todas as faixas de preço, mas os smartphones intermediários ainda são importantes. Para você ter ideia, nesse segmento, a franquia G no Brasil ajuda a Motorola a ter uma fatia de 44%. Às vezes parece discurso, mas a gente tenta mesmo ouvir o consumidor. Naquele momento, identificamos uma lacuna. Ainda hoje, a gente ouve e continua a enxergar ter oportunidades na categoria.

Tilt - Quais pedidos da galera foram implementados na linha Moto G?

José Cardoso - No começo, DTV [televisão digital] foi uma coisa que cresceu muito e a gente acabou colocando em mais aparelhos devido ao feedback dos consumidores. Mais recentemente, o Turbo Power [carregamento rápido] é algo que o consumidor valoriza demais. Limitado até pouco tempo atrás a dois aparelhos, foi levado para o portfólio inteiro, tem carregadores que vão de 10 W a 45 W e permitem carregar o smartphone em 15 minutos.

Tilt - Se era tão querida, por que tiraram a DTV?

José Cardoso - A gente vai mensurando essas trocas de uma função por outra. Temos um ranking do que os consumidores valorizam, mas não conseguimos colocar tudo. Devido ao streaming, a DTV deixou de ser o que o consumidor quer. Ele quer ver TV, mas como vê TV é outra discussão. Hoje as opções que ele tem com streaming via wi-fi tiram a necessidade da DTV,

No futuro

Tilt - Você disse que o consumidor ainda hoje aponta para novas oportunidades entre os intermediários. Quais são elas?

José Cardoso - Tem muita oportunidade de desenvolvimento. Dentro da categoria do Moto G Power, pensamos em como podemos fazer para a bateria durar uma semana, já que hoje dura quatro dias. Ou ainda: podemos colocar um carregador que abastece o celular em cinco minutos. A gente sente o consumidor do intermediário buscando [smartphones] mais acima. Antes, o cara não tinha. Aí virou consumidor do intermediário. Agora, ele ainda não quer o premium, mas ficou mais exigente.

Tilt - Já que você deu a deixa, agora conta. Como fazer um celular durar uma semana?

José Cardoso - [risos] Às vezes não é uma solução pronta, mas um conjunto de coisas, como o processador, o consumo da tela que você usa, o tipo de bateria ou o carregador que você tem. Mas, quando você fala de bateria, é a experiência como um todo. O cara pode até ficar sem bateria, mas ele precisa carregar rápido. Por isso, o Turbo Power agrada. Quando a bateria acaba, o consumidor não quer esperar duas horas na recarga. Ele quer que seja em 15, 20 minutos.

Tilt - Desde o surgimento do Moto G, a Motorola fez algumas mudanças. Acrescentou novos integrantes à família (Moto G Power, G Play e G Plus) e até lançou duas gerações no mesmo ano (a Moto G7 e a Moto G8). Só que, em 2019, apenas parte da família G8 veio a público. Por que Moto G8 e G8 Power não foram lançados e quando isso vai acontecer?

José Cardoso - Uma das estratégias que adotamos no ano passado foi acelerar o ciclo de vida dos produtos, ou seja, adiantar a chegada deles ao mercado. Queremos entregar o mais cedo que pudermos a tecnologia ao consumidor. Por isso, lançamos duas gerações em um mesmo ano. O consumidor quer não ter de esperar para ter uma tecnologia. Às vezes, pode acontecer de fazer mais sentido ter o Play e o Plus primeiro, e o G8 e o Power virem na sequência. Na outra geração, pode calhar de a gente conseguir fazer mais rápido o Power e o Plus. A gente tenta ter uma consistência no tempo, mas sair um ou outro modelo primeiro está diretamente relacionado com a disponibilização da tecnologia. [G8 Play e G8 Plus] ficaram prontos primeiro. Para o restante da família G, a gente vai ter novidade até o Dia das Mães, a segunda data promocional mais relevante depois da Black Friday.

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