Topo

Serviço gratuito do Pornhub em pandemia de coronavírus intensifica críticas contra tráfico sexual

Ethan Miller/AFP
Imagem: Ethan Miller/AFP

Amber Milne

Lisboa

27/03/2020 12h38

Uma promoção de um dos maiores sites pornográficos do mundo de disponibilizar gratuitamente o acesso ao seu serviço premium foi condenada como uma tentativa de explorar a crise do novo coronavírus e silenciar reclamações de que os vídeos em sua plataforma mostravam vítimas de tráfico sexual.

O Pornhub, plataforma de streaming de conteúdo sexual, foi criticado por supostamente não remover imagens e vídeos de estupro e abuso sexual de crianças no site - alegação negada pelo site.

Uma petição online para fechar o site - que teve mais de 42 bilhões de visitas em 2019 - agora tem mais de meio milhão de assinaturas.

Enquanto cidades de todo o mundo entravam em quarentena esta semana para impedir a disseminação do coronavírus, o Pornhub anunciou acesso gratuito por 30 dias ao seu principal serviço pago. O tráfego de visitantes ao site aumentou 11,6% em todo o mundo desde que a pandemia confinou muitas pessoas em casa.

"O Pornhub oferecerá o Pornhub Premium ao mundo inteiro, em um esforço para incentivar a importância de ficar em casa e praticar o distanciamento social durante a pandemia de covid-19", disse um porta-voz da empresa em comunicado.

Dados do site mostraram que o período gratuito, oferecido na Europa antes de ser ofertado globalmente nesta semana, provocou um aumento de 57% no tráfego da Itália, o país europeu mais afetado pelo coronavírus, um aumento de 38% na França e 61% na Espanha.

Junto com o aumento do tráfego, surgiram novas reclamações sobre a plataforma e a questão sobre se todo o conteúdo disponível online é consensual.

O Pornhub, de propriedade da empresa MindGeek, nega alegações de veicular conscientemente qualquer conteúdo que seja sexualmente abusivo e rejeita pedidos para uma regulamentação mais rígida.

"As medidas que tomamos nos tornam muito mais regulamentados do que qualquer outra grande plataforma com conteúdo gerado por usuários", disse um porta-voz do Pornhub. "Qualquer alegação de que não estamos levando isso a sério é categoricamente falsa."

Ele acrescentou que o Pornhub nega qualquer sugestão de que há evidências de tráfico sexual no site.

Críticos da plataforma, no entanto, levantaram preocupações de que o site está aberto a abusos e exploração, e o aumento do tráfego pode exarcebar isso.

A plataforma permite que qualquer pessoa com uma conta publique conteúdo, que é então verificado por moderadores humanos e tecnologias automatizadas.

"Eles estão ganhando muito mais dinheiro e obtendo muito mais tráfego", disse Laila Mickelwait, diretora da organização religiosa anti-tráfico Exodus Cry, que criou a petição com o objetivo de fechar o Pornhub. "Haverá mais exploração, haverá mais demanda, mais usuários e mais vídeos publicados no site".

Um porta-voz da Pornhub disse que a petição era factualmente errada e intencionalmente enganosa. Ele ressaltou que o Exodus Cry é um grupo religioso cujo fundador é contra aborto e casamento gay, e que no site do grupo há afirmações de que o objetivo é "abolir toda a indústria do sexo".

Especialistas em direitos das mulheres pediram aos governos uma regulamentação mais rígida para combater o abuso online e acusaram o Pornhub de não agir com rapidez suficiente para remover o conteúdo quando relatado.

A Internet Watch Foundation (IWF), que identifica e remove imagens de abuso sexual infantil na internet, disse que encontrou 118 casos de abuso infantil no Pornhub entre 2017 e 2019, mas disse que esse número é baixo e que o Pornhub removeu rapidamente esse conteúdo.

"Sites comuns que você e eu podemos usar como redes sociais ou outras ferramentas de comunicação representam mais risco em relação a conteúdo de abuso sexual infantil do que o Pornhub", disse Emma Hardy, porta-voz da IWF.

Coronavírus liga alerta pelo mundo