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Florescente desde o comunismo, indústria de games da Polônia domina o mundo

23/01/2020 14h39

Por Anna Koper e Michael Kahn

VARSÓVIA/PRAGA (Reuters) - O monótono exterior de dois prédios dos anos 70 em um bairro industrial de Varsóvia esconde as atividades da empresa de games CD Projekt, onde desenvolvedores, roteiristas e outros membros do estúdio tentam criar seu próximo sucesso global.

Maior economia da Europa Oriental, a Polônia silenciosamente se transformou em uma das principais exportadoras de videogames, graças aos baixos custos de mão-de-obra, uma força de trabalho jovem e educada e uma próspera tradição de videogames enraizada no período comunista do país.

Após a bem sucedida série The Witcher da CD Projekt colocar o país no mapa, investidores estrangeiros estão à procura de desenvolvedores promissores num mercado em rápido crescimento.

"As pessoas estão começando a notar a Polônia", disse Borys Musielak, sócio-fundador da empresa de capital de risco SMOK Ventures, que está conversando com dois investidores asiáticos para financiar empresas de jogos locais e, em janeiro, fez seu primeiro investimento junto com um parceiro finlandês.

"Houve principalmente investidores-anjo e de private equity, mas grupos globais de capital de risco estão de olho na região".

O crescente mercado de videogames e e-sports da Polônia valia 664 milhões de dólares em 2019 - acima dos 400 milhões em 2014 - e deve subir para quase 850 milhões de dólares nos próximos quatro anos, segundo dados da PwC.

THE WITCHER

O sucesso do mundo de fantasia medieval The Witcher foi um dos principais impulsionadores do crescimento. Baseado numa popular série de livros poloneses e usado como base para uma série da Netflix que estreou em dezembro, os jogos venderam mais de 40 milhões de cópias em todo o mundo.

O lançamento, ainda neste ano, do jogo de aventura futurista "Cyberpunk 2077" deve aumentar o foco no setor, que teve oito empresas listadas na principal bolsa de valores polonesa entre 2015 e 2019.

"Historicamente, muitas dessas empresas escolheram a bolsa para se financiar porque não havia muitas maneiras de obter capital", disse Mariusz Gasiewski, chefe de jogos e aplicativos para celular do Google na Polônia. "Agora está ficando mais fácil à medida que mais interesse vem do exterior".

O valor combinado dos estúdios de games listados saltou 82% para mais de 32 bilhões de zlotys (8,36 bilhões de dólares) em 2019, liderados pela CD Projekt, com avaliação de cerca de 27 bilhões de zlotys e próxima do valor da refinaria PKN Orlen, maior empresa da Polônia, avaliada em 36 bilhões de zlotys.

O amor da Polônia por videogames vem desde o período comunista do país, quando estudantes corriam para os mercados de rua para comprar jogos piratas.

"Para a geração anterior, o rock & roll era uma janela para o mundo com o qual todos sonhávamos, depois vieram os jogos e jogávamos para entender o que estava acontecendo no Ocidente", disse Grzegorz Miechowski, presidente do estúdio 11 bits, cujo jogo "Frostpunk" retrata uma distópica Inglaterra do século XIX.

Quase metade da população de 38 milhões de pessoas da Polônia se identifica como 'gamer', e existem cerca de 400 empresas do setor ativas - superando uma estimativa de 12 na Alemanha - com cerca de 100 títulos poloneses chegando ao mercado global a cada ano.

O país abriga um festival internacional de videogame, além de um dos maiores eventos de e-sports do mundo, o Intel Extreme Masters, que em 2019 atraiu 232 milhões de espectadores.

O governo tomou conhecimento do crescimento do setor, distribuindo cerca de 300 milhões de zlotys por meio de um programa financiado pela União Europeia para conceder a desenvolvedores em estágio inicial financiamento para ajudar a tirar do papel seus projetos de games.

((Tradução Redação São Paulo; 55 11 56447727))

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