Big techs viraram concorrentes diretas dos bares, diz Facundo Guerra

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts; Essa semana em Deu Tilt: o vassalo da Meta; IA automatiza, e ninguém consume; A nova gerente da firma; Unicórnio de si mesmo)

Apontado como um dos revitalizadores da cena noturna de São Paulo, o empresário Facundo Guerra guarda uma relação íntima com o mundo da tecnologia. Antes de se aventurar pelo empreendedorismo, que o levou a abrir 25 negócios pela capital paulista, ele atuou na AOL.

No novo episódio de Deu Tilt, Facundo conta que hoje sua relação com o mundo das inovações tecnológicas mudou, tanto que ele não vê outros bares como correntes. Durante a conversa, ele explica por que enxerga que suas principais concorrentes são as big tech.

Se você tem Tinder, iFood e Netflix, que estímulo tem pra sair de casa? Eu tenho que socar estímulo na pessoa, metaforicamente falando, pra ela sair de casa e viver o mundo real
Facundo Guerra

Apresentador do Divã de CNPJ, programa do UOL, Facundo conta que começou a lidar com tecnologia nos anos 1990, quando trabalhava com pesquisas de engenharia de alimentos e usava sistemas pioneiros de troca de mensagens —lembra do BBM?. Quando começou a empreender em bares e boates, via esses ambientes como redes sociais físicas, reunindo pessoas por estilo e interesse. Mas esse papel mudou com o avanço do digital.

As boates inventaram as redes sociais. Elas eram nós de pessoas, nós de rede, de pessoas que compartilhavam quase uma estética de existência. Isso antes de existir a rede social. Quando chegam as redes sociais, tudo começa a desmontar
Facundo Guerra

Orkut e Facebook esvaziaram o poder de encontro dos bares, diz. Agora, ele sente que seus negócios são dependentes das redes sociais: "Eu me sinto um vassalo. Eu tenho um senhor feudal, que é a Meta, e sem a Meta eu não existo. Porque, se eu não sou visível, eu não existo, não existe mais boca a boca. É post a post, story a story."

Facundo critica ainda o tempo gasto para produzir conteúdo para as redes, sem garantia de retorno, já que algoritmos decidem o alcance das postagens. "Produzir conteúdo hoje ocupa 20%, 30% do meu tempo. Para que eu estou produzindo conteúdo? É jogar um dardo no escuro. Quando eu vou acertar? Quando eu vou hitar? Quando eu vou viralizar? Sob quais parâmetros? (...) É tudo muito, é uma caixa preta."

Além de se tornarem a principal vitrine de bares, as big techs viraram também as concorrentes diretas desses estabelecimentos, diz o empresário, porque oferecem tanta opção de lazer em casa que fica difícil convencer alguém a sair.

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Para driblar essa dinâmica, Facundo acredita que bares precisam entregar algo além do produto. "O drink, o produto transcende aquilo que eu sirvo. Então, pra mim, o drink não é o líquido que eu coloco dentro da taça. Pra mim, o drink é o gelo, a taça, a luz, a música, as pessoas que estão ali dentro."

Você tem que construir um produto coeso para as pessoas gastarem R$ 100, R$ 150 e saírem com a impressão de que receberam R$ 1.000. Aí elas voltam
Facundo Guerra

'Se eu não usar IA, meu concorrente vai usar e me destruir'

A inteligência artificial virou fator decisivo para qualquer empreendedor que quer sobreviver no mercado, diz Facundo Guerra. O empresário detalhou como já usa IA para cortar custos.

Para Facundo, a IA dá a pequenos negócios o poder de usar as mesmas ferramentas de gigantes globais. Isso acelera processos e reduz gastos com equipes inteiras. Só que o preço disso pode ser alto: a automação tira empregos, ameaça a criatividade e pode esvaziar o consumo no futuro.

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Por um outro lado, é uma verdade que não tem como fugir. Se eu não usar IA para refinar o meu negócio, provavelmente meu concorrente vai usar e vai me destruir e vai pegar o mercado que poderia ter sido meu
Facundo Guerra

'Todo negócio terá gestor de IA para o administrativo'

Ferramentas como ChatGPT e Perplexity já funcionam como consultorias administrativas para pequenos negócios, afirma Facundo Guerra. Para o empreendedor, a inteligência artificial pode revolucionar tarefas administrativas.

A IA virou uma aliada dos empreendedores ao automatizar processos como revisão de contratos, análise de planilhas e seleção de currículos, diz Facundo. Essa tecnologia democratiza o acesso a consultoria de qualidade e prepara o caminho para que, em breve, cada empresa conte com um gestor virtual para a área administrativa.

Hoje eu consigo facilmente fazer com ChatGPT um plano de negócios, planejamento estratégico, fases pré-abertura de negócio que são muito importantes (...) Dá para fazer seleção de currículo usando inteligência artificial, coisa que demorava às vezes muito tempo. Você consegue hoje em dia, usando inteligência artificial, criação de conteúdo, análise de planilhas de DRE, análise de contratos, análise de posição contábil
Facundo Guerra

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Esqueça Gates ou Musk: 'Mito da garagem é equivocado', diz Facundo Guerra

Para ele, o mito do empreendedorismo de garagem não faz sentido aqui. Conhecido por revitalizar a vida noturna paulistana, Facundo aponta que, ao contrário das histórias vendidas por grandes nomes do Vale do Silício, o empreendedor brasileiro enfrenta desafios duros e parte de lugares sem privilégios. Para ele, abrir um negócio no país é, antes de tudo, uma questão de sobrevivência.

Isso é uma narrativa que os gringos nos venderam: que o Elon Musk, o Bill Gates, o Mark Zuckerberg abriram um negócio saindo da faculdade com uma garagem. Todo mundo se esquece que esses caras eram herdeiros. O pai do Elon Musk era dono de uma mina de esmeraldas na África do Sul. Bill Gates tinha pai rico. O próprio Mark Zuckerberg tinha pai rico. Tudo herdeiro. Estudava em Harvard. Sabe quanto custa uma anuidade em Harvard? E aí a gente adotou essa narrativa: normalmente um homem branco, self-made man, que se fez a si próprio, dentro de uma garagem, e isso virou o mito do empreendedorismo. Esse mito é equivocado.
Facundo Guerra

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