Moléculas descobertas em lua de Saturno aumentam chance de vida alienígena
De Tilt, em São Paulo
03/10/2025 13h17
Novas análises de dados da sonda Cassini reforçam a hipótese de que Encélado, lua de Saturno, pode reunir condições para sustentar vida.
O que aconteceu
O estudo revisitou informações coletadas em 2008, quando a Cassini fez seu sobrevoo mais próximo de Encélado. Naquele momento, a nave atravessou plumas de gelo e gases que escapavam por fissuras próximas ao polo sul, possibilitando a coleta direta de material expelido do oceano subterrâneo do satélite, oferecendo uma janela inédita para a química interna da lua.
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A revisão confirmou a presença de moléculas já detectadas em análises anteriores. Entre elas estavam precursores de aminoácidos, conhecidos como blocos básicos das proteínas, que são fundamentais para a existência da vida. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira (2) na revista Nature Astronomy.
Os cientistas, porém, foram além. A nova análise revelou também classes inéditas de compostos orgânicos, moléculas que até então não haviam sido identificadas nos dados de Encélado e que ampliam o leque de possibilidades químicas presentes no oceano escondido sob a crosta de gelo.
Encontramos várias categorias de moléculas orgânicas — ou seja, que contêm principalmente carbono — que abrangem uma gama de estruturas e propriedades químicas. Nozair Khawaja, cientista planetário da Universidade Livre de Berlim e autor principal do estudo.
Essas moléculas podem ter um papel importante nos processos que levam à formação da vida. "Acredita-se que esses compostos sejam intermediários na síntese de moléculas mais complexas (...). É importante observar, no entanto, que essas moléculas também podem ser formadas abioticamente, sem qualquer interação com a vida na Terra", explicou Khawaja.
Encélado é considerado um dos locais mais promissores na busca por vida fora da Terra. A lua tem 504 km de diâmetro, orbita Saturno a cerca de 238 mil km de distância e guarda sob sua superfície um oceano líquido protegido por uma camada de gelo que pode variar entre 20 e 30 km de espessura.
Pesquisadores acreditam que esse oceano seja dinâmico e ativo. Há fortes indícios de aberturas hidrotermais que liberam água aquecida e rica em minerais, um tipo de ambiente muito semelhante ao que pode ter dado origem aos primeiros organismos vivos da Terra.
Apesar da empolgação, os cientistas fazem uma ressalva importante. "Em primeiro lugar, não encontramos vida em Encélado e não encontramos nenhuma bioassinatura", afirmou Khawaja.
O pesquisador reconheceu também os limites tecnológicos da missão. "Mesmo que essas coisas existissem lá, duvido que as encontrássemos nos dados dos instrumentos da Cassini, que são uma tecnologia com décadas de idade. Entretanto, temos evidências convincentes de que todas as três pedras fundamentais da habitabilidade — água líquida, uma fonte de energia e elementos essenciais e orgânicos — existem em Encélado", disse.
Os grãos de gelo coletados pela sonda foram decisivos para a descoberta. Expelidos apenas minutos antes do sobrevoo, eles chegaram praticamente intactos aos instrumentos da Cassini, sem sofrer alterações provocadas pela radiação espacial, o que preservou as informações químicas do oceano subterrâneo.
A exploração de Encélado deve avançar nos próximos anos. A ESA (Agência Espacial Europeia) já planeja uma missão dedicada à lua de Saturno, considerada por muitos como o alvo mais promissor para a busca de sinais de vida fora do planeta Terra.
Encélado é, e deve ser classificado, como o alvo principal para explorar a habitabilidade e pesquisar se há vida ou não. Nozair Khawaja
* Com informações da Reuters.