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Por que até vodca pode ser usada contra metanol e qual o melhor antídoto?

Bebidas adulteradas com metanol causam sérios danos à saúde e podem levar à morte Imagem: Getty Images

De Tilt, em São Paulo

02/10/2025 05h30Atualizada em 02/10/2025 15h29

O etanol pode ser usado nos hospitais como um antídoto para desintoxicar o corpo de pessoas que consumiram metanol em bebidas adulteradas.

Como funciona o tratamento

Quanto mais cedo a intoxicação por metanol for identificada, melhor. "O tempo é um grande aliado ou um grande inimigo. Quanto mais tempo a substância fica no organismo, maior o risco de ela causar lesão nos órgãos", explica o toxicologista Alvaro Pulchinelli, diretor técnico da toxicologia Pardini, do Grupo Fleury.

O tratamento envolve o uso de medicamentos como o fomepizol. Ele inibe a geração de ácido fórmico, substância tóxica que causa os danos aos órgãos. Além disso, pode ser feita diálise para remover o metanol e seus metabólitos do corpo. Também são necessários cuidados de suporte, como intubação e ventilação mecânica para ajudar o paciente a respirar.

Na falta do fomepizol, é possível agir com etanol. A escolha por um ou outro depende da disponibilidade. É importante ressaltar que a administração do etanol, por sonda, é feita em ambiente hospitalar e sob supervisão da equipe de saúde.

O uso do etanol para combater o metanol parte da ideia de "manter o fígado ocupado" com outra substância, para evitar a metabolização do metanol. "Com isso, o metanol sai, na forma não metabolizada, e causa menos lesão do que na forma metabolizada. Isso pode ser feito esperando o rim filtrar ou pode até, eventualmente, ser utilizada a diálise [para retirar o metanol]", completa Pulchinelli. Especialistas reforçam que isso não significa que pessoas com sintomas de intoxicação por metanol devem se automedicar usando bebidas em casa —em caso de sintomas, é preciso procurar atendimento médico.

Quando o fígado tem metanol e etanol à disposição, ele vai preferir metabolizar o etanol, deixando o metanol de lado. Aí entramos com a hemodiálise, para ajudar o rim a tirá-lo do corpo de uma maneira mais rápida.
Camila Carbone Prado, especialista em toxicologia médica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas (CIATox)

O fomepizol não está disponível no Brasil, diz Fábio Bucaretchi, coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas (CIATox). "O fomepizol é mais simples de utilizar do que o etanol na veia. Ter um estoque desse medicamento, ao nosso ver, tem de ser uma urgência do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde", disse Bucaretchi, pediatra e toxicologista, em uma coletiva de imprensa promovida pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Quando o hospital não tem álcool absoluto disponível, pode até usar vodca para o tratamento, diz Bucaretchi. A bebida tem uma concentração adequada para a diluição. O tratamento começa colocando a bebida na sonda do paciente —o líquido, então, vai até o estômago.

Metanol x etanol

O metanol não é seguro para consumo humano. Enquanto o etanol é metabolizado em um composto químico chamado acetaldeído (rapidamente convertido em acetato), o metanol é metabolizado em formaldeído, um produto químico utilizado para embalsamar cadáveres. E, em seguida, em ácido fórmico.

Ácido fórmico, produzido pela metabolização do metanol, envenena as mitocôndrias. Enquanto o acetato produz energia e cria moléculas importantes no corpo, o ácido fórmico atinge as centrais energéticas das células. Com isso, uma pessoa exposta ao metanol pode entrar em acidose metabólica grave, que é quando há acúmulo excessivo de ácido no corpo.

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