Google liga Modo IA no Brasil e muda a vida de quem depende da busca online

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, os assuntos são: Google no Modo IA; A web em declínio; Epidemia de links falsos; Reunião de voz do WhatsApp)

O Google já percebeu que os hábitos de busca mudaram com a chegada dos chatbots, e a resposta foi criar o Modo IA, que acabou de desembarcar no Brasil.

Diferente do IA Overview, a nova ferramenta funciona como uma conversa direta: você faz a pergunta, ela varre a web e entrega um resumo pronto em forma de chat. A promessa é encurtar o caminho da pesquisa, mas, na prática, isso muda toda a lógica da internet. Se antes os links levavam o leitor até o produtor de conteúdo, agora a informação aparece mastigada pelo próprio Google, sem que o clique aconteça.

Ainda que o cenário seja de terra arrasada para diversos produtores de conteúdo, o Google fala em tráfego "estável", mas não indica para onde esses cliques estão indo. No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz explicam como parte dos acessos está escoando dos sites para circular dentro da IA.

Na prática, o Google se exime de responsabilidade com quem produz conteúdo, ao criar uma plataforma que suga material de terceiros sem remuneração. A conta sobra para os editores, que precisam inventar novas formas de atrair público e driblar a queda no tráfego.

Guilherme Ravache, especialista em mídia digital e colunista de tecnologia, afirma no Deu Tilt, do Canal UOL, que os efeitos já são visíveis. Para ele, o impacto recai sobre qualquer pessoa que vive da produção intelectual e depende do modelo digital para gerar renda.

A audiência está caindo em sites de notícias. Eu presto consultoria para alguns publishers no Brasil e já vejo uma preocupação crescente, porque a audiência também traz receita.
Guilherme Ravache

Os apresentadores Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz ressaltam que o Brasil tende a repetir um cenário já visto nos Estados Unidos, onde veículos relatam perdas de tráfego orgânico com a chegada do modo IA.

Cortiz chama atenção para o diferencial do Modo IA: ao contrário do ChatGPT ou do Gemini, o recurso já nasce dentro do motor de pesquisa mais potente do mundo.

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A discussão, apontam Ravache e Cortiz, também envolve direitos autorais. O conteúdo de terceiros não é usado apenas no treinamento dos modelos, mas também na fase de inferência, quando a IA gera respostas rápidas sem qualquer pagamento ou crédito ao autor. A questão já aparece em projetos de regulação no Brasil, mas ainda sem consenso.

Declínio da web: por que Google admite ruína do modelo de internet que fez a empresa bilionária?

O Google admitiu, durante o julgamento sobre monopólio de publicidade na internet, que a web vive um momento de declínio. A fala é simbólica: justamente a empresa que cresceu conectando o mundo por meio dos links reconhece que o modelo já não é o mesmo.

A web nasceu como espaço aberto e coletivo. Hoje, porém, o tráfego orgânico deu lugar a chatbots e plataformas fechadas, que concentram fluxo, anúncios e dados.

Grandes veículos já sentem o impacto: 29 dos 50 maiores sites de notícias dos EUA registram quedas de acessos mês após mês. Esse movimento ameaça o modelo econômico baseado em links, cliques, análise de tráfego, assinaturas e publicidade.

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O Google, que antes era ponte entre páginas, agora ergue seus próprios "jardins murados", sugando conteúdo de terceiros sem oferecer contrapartida financeira. No fim, o declínio da web vai além da questão comercial. É um retrato dos nossos tempos: usuários direcionando suas buscas para redes sociais, marketplaces e chatbots, enquanto o modelo que sustentou a internet por décadas se desfaz.

Golpes a Bolsa Família e Pix disparam, e governo fala em 'epidemia de links falsos'

A Advocacia-Geral da União decidiu bater de frente com a Meta. O motivo: a enxurrada de links fraudulentos que circulam todos os dias na internet brasileira. São mais de 1,5 milhão de endereços falsos por dia, muitos deles explorando pessoas vulneráveis que buscam programas sociais como Bolsa Família, seguro-desemprego, licença-maternidade ou até serviços sazonais, como a declaração de imposto de renda.

Os golpistas nem precisam hospedar os links: eles compram anúncios, e as próprias plataformas acabam lucrando ao patrocinar páginas falsas que imitam programas do governo. Só que as fraudes são grosseiras, não seguem a identidade visual ou fontes oficiais e são facilmente detectáveis. Na notificação enviada à Meta, a AGU foi contundente: acusou a empresa de agir de má-fé ao aceitar anúncios claramente enganosos e não aplicar no Brasil os mesmos mecanismos de detecção de fraude que já usa em outros países.

A crítica é direta: a checagem feita pelas plataformas é ineficiente, e a prioridade, no fim, é o lucro. Nina Santos, secretária-adjunta de políticas digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, falou ao Deu Tilt sobre a verdadeira epidemia de golpes e links falsos que atingem os beneficiários e interessados em acessar programas sociais e detalhou algumas ações do Governo Federal para fazer frente ao problema. Entre elas está a parceria com o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) para denunciar as propagandas falsas e mapear quais são os programas mais afetados pelas fraudes.

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O WhatsApp liberou, em maio de 2025, a possibilidade de abrir reuniões de voz em qualquer grupo. Antes restrita a grupos grandes, a função agora está disponível para todos, e tem gerado muita irritação. Gilton Batista de Araújo Filho, ouvinte do Deu Tilt, escreveu para dividir sua indignação. Segundo ele, só quem inicia a reunião consegue encerrá-la. Nem o administrador tem esse poder, mesmo que tente acabar com a conversa ou tirar do grupo quem acionou o recurso.

Para ativar a reunião de voz basta arrastar a tela para cima a partir da última mensagem do grupo, o que faz muita gente abrir sessões sem perceber. A partir daí, o celular pode transmitir tudo ao redor, em uma quebra de privacidade evidente. Gilton ainda tentou reclamar com a Meta, mas foi atendido apenas por um chatbot, o que só aumentou a sensação de falta de controle. A funcionalidade pode até ter potencial, mas a experiência do usuário está longe de ser satisfatória. Como está disponível tanto para iPhone quanto para Android, a frustração é geral.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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