Cientistas abrem amostra da Lua 50 anos depois: o que o material revela?

Uma pesquisa conseguiu descrever uma amostra lunar que foi trazida para a Terra durante a missão Apollo 17. O conteúdo, coletado há mais de 50 anos, contém evidências de um deslizamento extraterrestre.

O que aconteceu

Cientistas continuam estudando os resultados do programa Apollo. Na última missão do programa, realizada no final de 1972, amostras da superfície lunar foram coletadas pelos astronautas Eugene Cernan e Harrison "Jack" Schmitt para pesquisas posteriores.

O astronauta da Apollo 17, Harrison Schmitt, na Lua
O astronauta da Apollo 17, Harrison Schmitt, na Lua Imagem: Divulgação/Nasa

A Apollo 17 trouxe para a Terra cerca de 110,5 quilos de rocha lunar. Este é o maior montante de material coletado nas missões do programa.

2.196 amostras foram coletadas ao longo das seis viagens do programa Apollo, entre 1969 e 1972. Embora parte das evidências coletadas tenha sido estudada na época, uma grande quantidade foi armazenada para o futuro, já que, à época, não havia os recursos necessários para escaneamento e análise adequados do material.

A amostra descrita no estudo só foi aberta em 2022, 50 anos após a coleta. Desde então, os especialistas vêm analisando o material encontrado, e um novo estudo sobre o tema foi publicado no início de agosto na revista científica Journal of Geophysical Research: Planets.

Cientistas manipulam amostra da Lua trazida à Terra pela missão Apollo 17, em 1972
Cientistas manipulam amostra da Lua trazida à Terra pela missão Apollo 17, em 1972 Imagem: ROBERT MARKOWITZ/NASA-JSC

Como o estudo foi feito

A equipe utilizou diferentes técnicas para analisar a amostra. Foram conduzidas tomografias computadorizadas de raios X e varreduras de alta resolução, além de análises tridimensionais do tamanho das rochas e investigação da estrutura morfológica deste material.

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As rochas lunares trazidas na Apollo 17 revelam detalhes sobre o chamado manto leve (light mantle, em inglês). Com cerca de cinco quilômetros de extensão e dois de altura, a faixa compõe a superfície lunar.

O manto leve foi formado pelos restos de um antigo deslizamento ocorrido na Lua, cujas causas são desconhecidas até hoje. "Tenho estudado deslizamentos de longa distância na Terra e em Marte, mas o manto leve é atualmente o único que conhecemos na Lua", disse Giulia Magnarini, especialista do Museu de História Natural de Londres e principal autora do estudo, ao portal especializado Phys.org. "Não sabemos como esse deslizamento de longa distância se formou ou o que permitiu que ele se estendesse por vários quilômetros".

Resultados podem ajudar no retorno à Lua

Segundo a cientista, a amostra conta como o deslizamento que formou o manto leve aconteceu e como o material foi transportado. Impactos de asteroides, detritos de uma montanha próxima e atividade sísmica são alguns cenários que os especialistas consideram. "Vimos que o material mais fino que reveste os clastos [fragmentos de rocha] no núcleo vem do próprio clasto e não dos detritos circundantes, sugerindo que os clastos se fragmentaram e ajudaram o deslizamento a escoar mais como um fluido", explicou.

O material expelido pela formação da cratera lunar Tycho pode ter desencadeado a formação do manto leve. Os detritos desta explosão atingiram a montanha conhecida como Maciço Sul, ocasionando o deslizamento de terra que originou o manto leve. "Atualmente, estamos investigando essa possibilidade como parte de uma pesquisa em andamento sobre a história geológica da Lua", disse Giulia.

A missão Apollo 17 foi a última vez que o homem pisou na Lua. "Esta pesquisa é uma forma de dar continuidade ao legado das missões Apollo mais de 50 anos depois, estabelecendo uma ponte para o programa Artemis", explicou Giulia. "Aprendemos muitas lições com essas amostras sobre como preservar, armazenar e abrir material lunar sem danificar o conteúdo. Isso já está contribuindo para os planos científicos da Artemis e ajudando a desenvolver novos instrumentos."

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Para os cientistas, as amostras da Apollo auxiliam a preparar o retorno humano à Lua em um futuro próximo. Prevista para 2027, a Missão Artemis 3 da Nasa vai enviar astronautas ao satélite natural.

Eugene Cernan, astronauta da Apollo 17 e último homem na Lua, em dezembro de 1972
Eugene Cernan, astronauta da Apollo 17 e último homem na Lua, em dezembro de 1972 Imagem: Divulgação/Nasa

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