Pesquisador chinês ironiza corrida da IA: 'EUA fazem ótimos powerpoints'

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, os assuntos são: Janja acertou sobre o TikTok?; Shenzhen, a ex-vila de pescadores; 'A gente espera o próximo presidente'; os powerpoints dos EUA sobre IA)

A China planeja assumir a dianteira global na inteligência artificial até 2030. E parece não ter medo de afrontar ninguém, nem mesmo se for alguém com objetivos tão grandes quanto ela, como os EUA.

O que os Estados Unidos fazem é muita propaganda. Eles fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores, mas, na hora de prestar o serviço, de manter o serviço funcional durante um longo período de tempo, que é o que a população deseja, eles não têm essa expertise
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

De passagem pelo Brasil para participar do 5º Congresso Brasileiro de Internet, promovido pela Abranet, Li falou com exclusividade a Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, em maio. Na conversa, o pesquisador afirmou que o país não teme ser ultrapassado pela concorrência norte-americana.

Se você olhar dez anos atrás, os EUA prometeram muito e não cumpriram nada. E a China não prometeu nada e cumpriu tudo o que se propôs a fazer até agora
David Li

Ainda que tenha forte tom nacionalista, o comentário de Li guarda algum fundo de verdade e ajuda a compreender como o mercado chinês se organiza em relação a disputas externas existentes, considera Diogo Cortiz.

Ainda assim, o pesquisador chinês adota posição de cautela antes de fazer previsões sobre o futuro da inteligência artificial. A expectativa com o futuro passa antes pela avaliação do que o público deseja. É isso que deve ser usado como termômetro da inovação.

Não sabemos se um telefone com IA vai colar ou ser bem aceito ou se vai ser um telefone que vai ficar pendurado no pescoço. Estamos estudando o mercado, coletando essas informações para saber o que vamos fazer nos próximos cinco anos. Talvez nos próximos cinco anos tenhamos que lançar produtos completamente diferentes do que temos hoje em dia
David Li

Acho que é uma humildade [dizer] 'a gente não sabe como serão as próximas tecnologias', entendendo a resposta do comportamento dos consumidores e não tentar impor algo. Muitas empresas ao redor do mundo tentam já trazer a narrativa do 'já tenho a solução'
Diogo Cortiz

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Janja estava certa? 'Nós também proibimos o TikTok', diz pesquisador chinês

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, protagonizou uma polêmica ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre os impactos do TikTok no Brasil e o avanço da extrema direita no Brasil, durante a viagem do presidente Lula à China no início de maio.

Se a rede social favorece ou não determinados conteúdos, fato é que, por lá, a plataforma, que pertence à chinesa ByteDance, também sofre restrições, conta o pesquisador chinês David Li, tido como "embaixador da inovação da China".

Nós também proibimos o TikTok na China, mas temos uma empresa gêmea que funciona lá e que obedece às regulamentações que o governo determinou
David Li

Como a China fez aldeia de pescadores virar maior polo de inovação do país?

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Atualmente com 17,66 milhões de habitantes, Shenzhen é uma metrópole chinesa projetada para a grandeza a partir de uma origem humilde. Em menos de 40 anos ela passou de uma simples vila para lar de gigantes da tecnologia como Huawei e Tencent. A cidade é considerada o principal centro de inovação do oriente. E não é à toa.

De acordo com David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, conta que inicialmente diferentes empresas, estrangeiras inclusive, contratavam serviços da região para construção de peças e ferramentas. Com o tempo isso foi mudando. Hoje Shenzhen é uma potência local, não mais dependente do mercado estrangeiro.

A China tem a intenção de ser a melhor em tudo ou em qualquer coisa, mas não exclusivamente às custas dos outros. Existe a possibilidade e a necessidade que nós temos de partilhar esse conhecimento com outras nações para ajudar no crescimento e desenvolvimento de outras tecnologias
David Li

'Mais mil dias de Trump. Uma hora acaba', diz pesquisador chinês

Diante das sanções e tarifas impostas pela Casa Branca à China, David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, afirma que "os americanos gostam muito de ameaçar, de impor as vontades deles e nós sabemos que isso não cola". Para ele, no entanto, seu país tem paciência suficiente para negociar e, se isso não for possível, esperar o presidente que sucederá Trump para reabrir as discussões.

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Na China, nós temos sabedoria suficiente para nos preocuparmos primeiro com a nossa necessidade pessoal, depois satisfazer a necessidade dos mercados parceiros. Se, por acaso, não houver uma alternativa de negociação, a gente espera um tempo. Agora nós temos mais mil dias de governo Trump. Uma hora ele vai acabar e, quando isso acontecer, outra pessoa vai assumir. Então, a gente pode sentar na mesa e tentar negociar
David Li

*colaborou Ruam Oliveira

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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