'Mais mil dias de Trump. Uma hora acaba', diz pesquisador chinês

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, os assuntos são: Janja acertou sobre o TikTok?; Shenzhen, a ex-vila de pescadores; 'A gente espera o próximo presidente'; os powerpoints dos EUA sobre IA)

Diante das sanções e tarifas impostas pela Casa Branca à China, David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, afirma que "os americanos gostam muito de ameaçar, de impor as vontades deles e nós sabemos que isso não cola". Para ele, no entanto, seu país tem paciência suficiente para negociar e, se isso não for possível, esperar o presidente que sucederá Trump para reabrir as discussões.

Na China, nós temos sabedoria suficiente para nos preocuparmos primeiro com a nossa necessidade pessoal, depois satisfazer a necessidade dos mercados parceiros. Se, por acaso, não houver uma alternativa de negociação, a gente espera um tempo. Agora nós temos mais mil dias de governo Trump. Uma hora ele vai acabar e, quando isso acontecer, outra pessoa vai assumir. Então, a gente pode sentar na mesa e tentar negociar
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

De passagem pelo Brasil para participar do 5º Congresso Brasileiro de Internet, promovido pela Abranet, Li falou com exclusividade a Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, em maio.

O exercício de espera conta com dois fatores. O primeiro são os anos de experiência em geopolítica de um país milenar. O segundo são os aprendizados com o primeiro mandato de Donald Trump e as sanções aplicadas pelas gestões Obama e Biden.

A maior parte das pessoas que conheço, colegas de profissão, diversificaram seus mercados e não estão mais dependentes do mercado americano. Isso deu a eles uma certa liberdade e tranquilidade. Agora, se você não foi capaz de diversificar seus negócios dentro desse período de sete anos, então você merece viver os problemas que está vivendo
David Li

Ele fala da diversificação, mas tem também a questão do tamanho do mercado interno que é gigantesco e consegue absorver muita coisa. Estamos falando de um mercado potencial de mais de um bilhão de pessoas
Diogo Cortiz

A alma do negócio

David Li também pontua que a China está mais preocupada em oferecer qualidade do que propaganda.

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Ele critica o mercado ocidental, afirmando que aqui "o carro mais caro é o carro mais desejado porque todo mundo quer ter o status de ter o carro mais caro".

A melhor propaganda é o bom produto por um preço razoável, nós não precisamos gastar dinheiro com propaganda em filmes de Hollywood porque isso não toca o coração das pessoas. O que toca o coração das pessoas é um bom produto que satisfaz as necessidades por um preço acessível
David Li

'EUA fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores'

A China tem um plano de se tornar uma potência global em inteligência artificial até 2030. E parece não ter medo de afrontar ninguém pelo caminho —nem mesmo se esse alguém for os EUA e tiver objetivos tão grandiosos quanto ela.

O que os Estados Unidos fazem é muita propaganda, eles fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores, mas na hora de prestar o serviço, de manter o serviço funcional durante um longo período de tempo, que é o que a população deseja, eles não têm essa expertise
David Li

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Janja estava certa? 'Nós também proibimos o TikTok', diz pesquisador chinês

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, protagonizou uma polêmica ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre os impactos do TikTok no Brasil e o avanço da extrema direita no Brasil, durante a viagem do presidente Lula à China no início de maio.

Se a rede social favorece ou não determinados conteúdos, fato é que, por lá, a plataforma, que pertence à chinesa ByteDance, também sofre restrições, conta o pesquisador chinês David Li, tido como "embaixador da inovação da China".

Nós também proibimos o TikTok na China, mas temos uma empresa gêmea que funciona lá e que obedece às regulamentações que o governo determinou
David Li

Como a China fez aldeia de pescadores virar maior polo de inovação do país?

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Atualmente com 17,66 milhões de habitantes, Shenzhen é uma metrópole chinesa projetada para a grandeza a partir de uma origem humilde. Em menos de 40 anos ela passou de uma simples vila para lar de gigantes da tecnologia como Huawei e Tencent. A cidade é considerada o principal centro de inovação do oriente. E não é à toa.

De acordo com David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, conta que inicialmente diferentes empresas, estrangeiras inclusive, contratavam serviços da região para construção de peças e ferramentas. Com o tempo isso foi mudando. Hoje Shenzhen é uma potência local, não mais dependente do mercado estrangeiro.

A China tem a intenção de ser a melhor em tudo ou em qualquer coisa, mas não exclusivamente às custas dos outros. Existe a possibilidade e a necessidade que nós temos de partilhar esse conhecimento com outras nações para ajudar no crescimento e desenvolvimento de outras tecnologias
David Li

*colaborou Ruam Oliveira

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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