Como a China fez aldeia de pescadores virar maior polo de inovação do país?

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, os assuntos são: Janja acertou sobre o TikTok?; Shenzhen, a ex-vila de pescadores; 'A gente espera o próximo presidente'; os powerpoints dos EUA sobre IA)

Atualmente com 17,66 milhões de habitantes, Shenzhen é uma metrópole chinesa projetada para a grandeza a partir de uma origem humilde. Em menos de 40 anos ela passou de uma simples vila para lar de gigantes da tecnologia como Huawei e Tencent. A cidade é considerada o principal centro de inovação do oriente. E não é à toa.

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, conta que inicialmente diferentes empresas, estrangeiras inclusive, contratavam indústrias locais para construir peças e ferramentas. Com o tempo, isso foi mudando. Hoje Shenzhen é uma potência local, não mais dependente do mercado estrangeiro.

A China tem a intenção de ser a melhor em tudo ou em qualquer coisa, mas não exclusivamente às custas dos outros. Existe a possibilidade e a necessidade que nós temos de partilhar esse conhecimento com outras nações para ajudar no crescimento e desenvolvimento de outras tecnologias
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

Agora, em vez de usar mão de obra local para montar aparelhos de empresas estrangeiras, Shenzhen vê seus moradores irem para o exterior para "compartilhar conhecimento", diz Li.

Shenzhen que era uma vila de pescadores, se tornou o que é hoje em dia abrigando várias empresas multibilionárias chinesas muito por força do governo chinês, que impulsionou diversas políticas de inovação e decidiu: aqui vamos fazer um polo de tecnologia de excelência que vai disputar em pé de igualdade com diversos lugares do mundo
Helton Simões Gomes

Shenzhen é o maior polo de inovação da China, mas não é o único. Há pelo país outros pólos dedicados ao desenvolvimento dos mais diversos tipos de tecnologia como carros elétricos e semicondutores. A diversificação é impulsionada pelo governo, que funciona como articulador e facilitador da existência dessas zonas especializadas.

Aqui no Brasil muitas vezes escutamos um discurso pobre de que a inovação só acontece no setor privado. De fato o setor privado muitas vezes executa, mas como parte de um processo e política que o Estado está participando também
Diogo Cortiz

Outro reflexo da profusão de hubs de inovação é a concorrência interna por talentos e recursos. Isso favorece o crescimento do mercado interno e o desenvolvimento intelectual do país.

Continua após a publicidade

Não estamos falando só de máquinas e manufatura, mas de cérebros, e é muito bizarro o que acontece nos EUA hoje, desse fechamento para estudantes estrangeiros. É a coisa mais burra que pode acontecer porque é deixar de atrair futuros talentos, principalmente em áreas que vão ser estratégicas como IA. Não é racional
Diogo Cortiz

Problemas com os EUA? "Mais mil dias de governo Trump. Uma hora acaba.'

Ao apontar como o país está acostuma a lidar com os americanos, David Li quase soltou um "eles passarão, nós passarinho". Depois de a Casa Branca impor sanções e tarifas, Li afirma que "os americanos gostam muito de ameaçar, de impor as vontades deles e nós sabemos que isso não cola".

Na China nós temos sabedoria suficiente para nos preocuparmos primeiro com a nossa necessidade pessoal, depois satisfazer a necessidade dos mercados parceiros. Se por acaso não houver uma alternativa de negociação, a gente espera um tempo. Agora nós temos mais mil dias de governo Trump, uma hora ele vai acabar, e quando isso acontecer outra pessoa vai assumir e então a gente pode sentar na mesa e tentar negociar
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

'EUA fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores'

Continua após a publicidade

A China tem um plano de se tornar uma potência global em inteligência artificial até 2030. E parece não ter medo de afrontar ninguém pelo caminho —nem mesmo se esse alguém for os EUA e tiver objetivos tão grandiosos quanto ela.

O que os Estados Unidos fazem é muita propaganda, eles fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores, mas na hora de prestar o serviço, de manter o serviço funcional durante um longo período de tempo, que é o que a população deseja, eles não têm essa expertise
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

Janja estava certa? 'Nós também proibimos o TikTok', diz pesquisador chinês

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, protagonizou uma polêmica ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre os impactos do TikTok no Brasil e o avanço da extrema direita no Brasil, durante a viagem do presidente Lula à China no início de maio.

Se a rede social favorece ou não determinados conteúdos, fato é que, por lá, a plataforma, que pertence à chinesa ByteDance, também sofre restrições, conta o pesquisador chinês David Li, tido como "embaixador da inovação da China".

Continua após a publicidade

Nós também proibimos o TikTok na China, mas temos uma empresa gêmea que funciona lá e que obedece às regulamentações que o governo determinou
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

*colaborou Ruam Oliveira

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.