Sonda flagra explosão solar que quase afetou a Terra e 'pode levar ao caos'

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Um estudo elaborado por cientistas do Instituto Indiano de Astrofísica relatou uma explosão solar flagrada pela sonda Aditya-L1. A "bola de fogo" viajou em direção à Terra antes de desviar seu caminho no espaço.
O que aconteceu
A pesquisa revela detalhes do episódio que quase afetou o nosso planeta. O estudo foi publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.
A sonda Aditya-L1 observa eventuais ejeções de massa coronal (CME, na sigla em inglês). O fenômeno resulta em enormes descargas de plasma e energia magnética provenientes da atmosfera do Sol. Essas "bolas de fogo" se desprendem da camada mais externa da coroa solar e são tão poderosas que podem atingir a Terra e perturbar o funcionamento dos satélites.
Composta por partículas carregadas, uma CME pode pesar até um trilhão de quilos e atingir uma velocidade de até 3 mil quilômetros por segundo durante sua viagem. Ela pode se mover em qualquer direção, inclusive em direção à Terra. R. Ramesh, principal autor do estudo, à rede britânica BBC
A CME relatada no estudo foi flagrada em 16 de julho de 2024 pelo Coronógrafo de Linha de Emissão Visível (VELC). Inserido na sonda, o coronógrafo é capaz de realizar observações simultâneas de imagem e espectroscopia —técnica utilizada para analisar a interação entre a luz e a matéria.
Na ocasião, a explosão aconteceu na porção oeste do Sol às 10h08 (horário de Brasília). A ejeção ocorreu no lado do Sol que estava voltado para a Terra naquele momento. "Porém, em meia hora de viagem, ela foi desviada e seguiu em uma direção diferente, indo para trás do Sol. Como estava muito distante, não impactou o clima da Terra", disse Ramesh. "Em sua velocidade máxima, [a 'bola de fogo'] levaria apenas cerca de 15 horas para percorrer a distância de 150 milhões de quilômetros entre a Terra e o Sol".
Os possíveis efeitos de eventos solares na Terra
Fenômenos no Sol impactam rotineiramente o clima do nosso planeta. Tempestades, erupções solares e ejeções de massa coronal impactam, também, o clima espacial, onde milhares de satélites estão estacionados.
Apesar de não representarem uma ameaça direta aos humanos, estes episódios interferem no campo magnético terrestre. Eles podem atrapalhar o funcionamento dos componentes eletrônicos dos satélites, inclusive os meteorológicos, de navegação e de comunicação, além de derrubar redes elétricas. Em maio, uma erupção da mancha solar conhecida como AR4087 interrompeu os sinais de rádio em três regiões do mundo e foi considerada a explosão solar mais forte de 2025.
Hoje, nossas vidas dependem totalmente de satélites de comunicação, e as CMEs podem interromper a internet, as linhas telefônicas e a comunicação por rádio. Isso pode levar ao caos absoluto. R. Ramesh à BBC
Segundo Ramesh, as observações da sonda Aditya-L1 podem auxiliar os cientistas na compreensão de ejeções de massa coronal. Para ele, as pesquisas podem ajudar a manter as redes elétricas e os satélites de comunicação em segurança frente a atividades solares que possam ameaçar a infraestrutura na Terra e no espaço.
Sonda indiana custou mais de R$ 260 milhões
A Aditya-L1 transporta uma série de instrumentos para medir e observar as camadas mais externas do Sol. A missão visa investigar outros fenômenos solares por meio de imagens e medição de partículas na atmosfera superior do Sol. Atualmente, a sonda está em um ponto onde as forças gravitacionais do Sol e da Terra se cancelam, permitindo que permaneça em uma órbita estável ao redor do Sol e possa observar o corpo celeste de forma contínua, mesmo durante eclipses e ocultações.
Nossa sonda tem um tamanho que permite imitar o papel da Lua e ocultar artificialmente a fotosfera do Sol, proporcionando ao Aditya-L1 uma visão ininterrupta da coroa 24 horas por dia, 365 dias por ano. R. Ramesh à BBC
Lançada em setembro de 2023, a Aditya-L alcançou a órbita do Sol em janeiro de 2024. A missão faz parte de um ambicioso programa espacial indiano em direção ao centro do sistema solar. O orbitador custou US$ 48 milhões, cerca de R$ 264 milhões, conforme cotação atual.

A sonda Aditya —que significa Sol em hindi— percorreu 1,5 milhão de quilômetros da Terra, apenas 1% da distância entre nosso planeta e a estrela do Sistema Solar. Segundo as autoridades indianas, a sonda atingiu sua órbita final "para desvendar os mistérios da conexão Sol-Terra".
A Aditya-L1 é a primeira missão de um país asiático a entrar em órbita ao redor do Sol. O Japão e China lançaram suas próprias missões de observação solar, mas a partir da órbita terrestre. Na década de 1960, os Estados Unidos e a ESA (Agência Espacial Europeia) enviaram várias sondas ao centro do sistema solar com o programa Pioneer, da Nasa.
*Com informações da AFP
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