Não foi para se aquecer: por que nossos ancestrais usaram fogo pela 1ª vez?

Uma pesquisa liderada por especialistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, sugere que Homo erectus usava fogo para aumentar vida útil dos alimentos e afastar predadores da comida. O estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Nutrition em maio.

O que aconteceu

Uso primário do fogo seria para defumar e desidratar carne de grandes animais. Pesquisa propõe que a preservação da carne a proteção dela contra predadores foram provavelmente as motivações iniciais para o uso do fogo pelo Homo erectus, uma das espécies ancestrais aos Homo sapiens, durante o período Paleolítico Inferior.

Maioria dos sítios datados entre 1,8 milhão e 800 mil anos atrás não tem evidência de fogo. A produção das chamas era ocasional, em locais específicos e com propósitos pontuais. "O processo de coletar combustível, acender o fogo e mantê-lo aceso ao longo do tempo exigia um esforço significativo, e eles precisavam de um motivo convincente e energeticamente eficiente para fazê-lo", disse Miki Ben-Dor, um dos responsáveis pela pesquisa, ao portal EurekAlert.

Há apenas nove locais do tipo espalhados pelo mundo. Há dois em Israel, seis em países da África e um na Espanha. Além desses sítios, os arqueólogos se basearam também em estudos etnográficos de sociedades contemporâneas de caçadores-coletores, alinhando seu comportamento com as condições que prevaleciam nos ambientes em que viviam.

Homo erectus retratado no museu de Quinson, na França
Homo erectus retratado no museu de Quinson, na França Imagem: Gamma-Rapho via Getty Images

Todos os locais estudados tinham grandes quantidades de ossos de animais de grande porte, como elefantes, hipopótamos e rinocerontes. "A partir de estudos anteriores, sabemos que esses animais eram extremamente importantes para a dieta dos primeiros humanos e forneciam a maior parte das calorias necessárias", explicou Ben-Dor. A carne e a gordura de um único elefante, por exemplo, contêm milhões de calorias, o suficiente para alimentar um grupo de 20 a 30 pessoas por um mês ou mais.

Um elefante ou hipopótamo caçado era, portanto, um verdadeiro tesouro —uma espécie de "banco" de carne e gordura que precisava ser protegido e preservado por muitos dias. Ben-Dor, ao portal EurekAlert

Preocupação com a preservação das presas é observada de diversas formas no Paleolítico. "Foi demonstrado que humanos do Paleolítico preservaram intencionalmente a medula óssea dentro de ossos de membros de gamos [espécie de mamífero semelhante ao veado] por várias semanas enquanto armazenados em uma caverna, reforçando, assim, a atenção dada à preservação de alimentos no período", explica a pesquisa.

Além da conservação do alimento, os Homo erectus precisavam protegê-lo de diferentes espécies com as quais dividia o habitat. Dependendo do tamanho da presa, o alimento poderia durar por dias, semanas e até meses. "Durante esse período prolongado, a carcaça parcialmente consumida inevitavelmente atrairia predadores e necrófagos [animais que se alimentam de cadáveres], elevando o risco tanto para a presa quanto para o grupo humano", diz o estudo.

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O ganho relativo de retorno energético decorrente da prevenção da deterioração e do roubo de presas supera substancialmente os ganhos que o cozimento poderia proporcionar e, portanto, deveria ter sido um fator mais provável para a produção de fogo. Trecho do estudo publicado no periódico Frontiers in Nutrition

Outros usos do fogo foram implementados ao longo do tempo. O calor passou a ser utilizado para aquecimento dos próprios humanos, realização de rituais, processamento de matéria-prima, geração de luz e proteção contra insetos.

Benefício oferecido pelas chamas teria que ser suficiente para justificar o esforço físico necessário para criá-las. "Sustentar o fogo incorre em custos energéticos, necessitando de um retorno energético líquido positivo para justificar sua produção e manutenção", conclui a pesquisa.

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