Avanço da IA ameaça Google e leva empresas a criar post para robô ler

Enquanto não sai a decisão do juiz Amit Mehta sobre como remediar o monopólio do Google nas buscas, o que deve ocorrer até setembro, o mundo da tecnologia vê a inteligência artificial avançar rapidamente e disputar protagonismo com as pesquisas online. Com a popularização dos chatbots de IA generativa, especialistas veem empresas deslocando esforços do SEO (Otimização para Mecanismos de Busca, na sigla em inglês) para o GEO (Otimização para Mecanismos Generativos) e até passando a criar conteúdo para os robôs usarem em suas respostas.

Para Diego Ivo, CEO da Conversion, uma das maiores empresas de SEO do Brasil, o investimento em links patrocinado na busca será reduzido e fluirá para a produção de conteúdo voltado a ser lido por IAs. Segundo ele, cerca de 90% do tráfego de IA monitorado pela Conversion já vem do ChatGPT.

O buscador do Google tem um grau de personalização muito baixo comparado com os chats de IA. O Google era o oráculo porque sabe tudo, mas o GPT é o amigo
Diego Ivo, CEO da Conversion

Para Diego Ivo, o Google perdeu o timing. Thiago Tomaz, Head de Comunicação Digital da agência in.pacto, concorda com ele.

A gente está no meio de uma grande mudança e quem deveria liderar isso era o Google e não outras plataformas. Mudou tudo com o GEO. Não é só rankear. A IA já vem com a resposta completa e, além de entregar, personaliza esse conteúdo. E isso é o que define uma busca de sucesso hoje. Estamos caminhando para a busca conversacional. O que o Google coleta de dados, hoje, não se compara com o que o ChatGPT recebe [de informação fornecida pelos usuários]
Thiago Tomaz, head de comunicação digital da in.pacto

O mercado de conteúdo já se adapta a essa nova realidade. Segundo Tomaz, as agências têm incorporado novas estratégias, como a pesquisa sobre como as pessoas estão fazendo perguntas sobre determinados temas, em fóruns, canais do Reddit e em seções de Fale Conosco para qualificar o conteúdo de seus clientes.

Até poucos meses atrás, a prioridade era o SEO para melhorar o ranqueamento na busca orgânica do Google. Agora, a preocupação é construir conteúdo que seja buscado pela IA. Formatos como FAQ, Passo a Passo e texto em tópicos ajudam muito nisso. É preciso construir um texto como se você estivesse conversando com alguém
Thiago Tomaz

A tendência de as pessoas recorrerem a chatbots não escapa ao Google. A empresa implantou o AI Overview, que resume com IA os resultados das buscas e ocupa o topo de boa parte das pesquisas feitas com a plataforma, e liberou o AI Mode, uma modalidade de busca que responde demandas em forma de conversa e não mais com links.

Outra mudança no horizonte é a inclusão de anúncios nos chats de IA, estratégia que já está sendo testada pelo Google no Gemini, pela Perplexity e pela OpenAI. Se isso se confirmar, o jogo atual será ainda mais impactado:

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Vai ter anúncio e será prejudicial para o Google. Aposto no GPT. SEO é sobre consumidor, será uma jornada de compra diferente, e será uma grande oportunidade para o SEO, que é complementar ao GEO
Diego Ivo

Essa forte concorrência dos chats de IA generativa foi um dos argumentos mais fortes apresentados pelo Google em suas considerações finais no processo. O advogado da empresa chegou a mencionar o ChatGPT como uma ameaça no horizonte.

O juiz Amit Mehta sinalizou ter plena consciência de que a IA impacta profundamente o mercado das buscas online, segmento de mercado que ele precisa tornar mais competitivo com os remédios propostos. Segundo ele, se um concorrente surgir, "não será o DuckDuckGo", mas um serviço de IA que inclua busca.

De fato, o juiz Mehta está em uma sinuca de bico: julga o Google com base em práticas de mercado dos últimos 20 anos, justamente no momento em que os hábitos dos consumidores passam por mudanças profundas.

Estão sobre a mesa medidas antitruste, como a abertura de dados de buscas para concorrentes e a venda do Chrome, navegador que entrega ao Google uma grande quantidade de dados sobre hábitos de usuários na internet.

O Google sabe da mudança tecnológica em curso e tenta convencer o juiz Mehta a não impor medidas drásticas ou de longo prazo, contando com o rápido movimento natural do mercado. Argumenta que os bilhões de dólares em financiamento recebidos pela OpenAI minam a vantagem competitiva histórica da big tech nas buscas.

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Imagem: ARTE/UOL

Corrida pela 'superinteligência'... Mark Zuckerberg, CEO da Meta, abocanhou engenheiros de ponta do Google e de outras empresas de tecnologia para formar sua nova equipe de IA, focada em criar uma "superinteligência". Segundo o jornal NYT, o projeto envolve um generoso pacote financeiro generoso e é liderado pelo próprio Zuckerberg. Ele até toca o recrutamento, enquanto o Google tenta segurar os talentos com ofertas melhores. Não está claro o que o CEO da Meta chama de "superinteligência" nem que novidades adicionais ela possui sobre o Llama.

Desdobramentos devem surgir nas próximas semanas, sobretudo porque o rumor é que o projeto inclui a incorporação à Meta da Scale AI, empresa de anotação de dados para treinamento de modelos de IA. Com isso, o fundador dela, Alexandr Wang, seria o líder do novo laboratório. Sabe-se até agora que o projeto começará com cerca de 50 engenheiros escolhidos a dedo.

Cenas do próximo capítulo... Começa mais uma batalha judicial contra um grande competidor do mundo da IA. O alvo da vez é o Midjouney, que desenvolve a IA especializada em gerar imagens sintéticas. Do outro lado, estão empresas de peso de Hollywood, como Disney, Universal e Dreamworks. Os estúdios de cinema reclamam de infração a direitos autorais, que classificam como "ataques ao trabalho pesado da comunidade criativa" e "uma ampla ameaça à indústria cinematográfica americana".

É a primeira vez que gigantes do entretenimento buscam a Justiça para brecar o uso de material protegido no treinamento de IA. Além de ser usado no aprendizado das máquinas, o material sintético gerado por elas evidencia os personagens fictícios dos estúdios famosos.

Recentemente, fotos geradas com base nos traços para lá de característicos do japonês Studio Ghibli invadiram redes sociais, como Instagram e TikTok, após serem geradas pelo ChatGPT. Nada aconteceu. Talvez a ação dos produtores de cinema mais poderosos do mundo mude o rumo desse jogo. Foi por pressão da indústria fonográfica que redes sociais e plataformas de streaming implementaram freios à difusão de conteúdos protegidos por direitos autorais, como músicas.

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Imagem: Gustavo Moreno/SCO/STF

Responsabilização...
O STF (Supremo Tribunal Federal) tem maioria para alterar o entendimento sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet e ampliar a responsabilidade das Big Tech sobre conteúdos publicado por terceiros em suas plataformas. Ao que tudo indica, as empresas serão obrigadas a moderar conteúdos ilegais, mesmo sem ordem judicial. Agora, resta unificar as medidas propostas pelos ministros. Está sobre a mesa regras mais rígidas para conteúdos impulsionados.

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Imagem: Getty Images

Só para maiores de 16...
O Ministério da Justiça alterou a classificação indicativa do Instagram, que passa a não ser recomendado para menores de 16 anos. A classificação é apenas uma referência para pais, mães e responsáveis. Segundo a pasta, o sarrafo etário foi elevado devido à ampla exposição de usuários a conteúdos sensíveis, sobretudo potencializados pelo algoritmo. A decisão, acrescenta, é medida para tornar o ambiente digital mais seguro para crianças e adolescentes.

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Imagem: Dado Ruvic/Reuters

IA para crianças...
Estudo conduzido por Instituto Alan Turing e Lego mapeou o que acontece quando crianças crescem usando IA generativa. Como a tecnologia não tem idade suficiente para experimentos de longo prazo, os pesquisadores extrapolaram as descobertas para alguns cenários observados no Reino Unido. Por exemplo: o ChatGPT ajuda crianças com neurodiversidades, como autismo e TDAH, a se comunicar melhor, mas não favorece a interação dos baixinhos com o ambiente.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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